Os eosinófilos são células equipadas com uma enorme variedade de
receptores de superfície, como, por exemplo, receptores do tipo Fc, Toll-like receptors, moléculas de
adesão, etc, e são capazes de exercer funções importantes no combate a
infecções helmínticas, processos alérgicos e doenças autoimunes [1]. Entretanto, o papel
dos eosinófilos no combate a tumores ainda não está elucidado. Experimentos in vitro demonstraram que os eosinófilos
exercem ação antitumoral através da liberação de grânulos citotóxicos [2], mas o papel destes
granulócitos in vivo no combate a
diferentes tipos de câncer ainda é pouco estudado e controverso.
Justamente para tentar elucidar melhor esta questão, o grupo de Gunter
Hammerling, em Heildelberg, na Alemanha, conseguiu demonstrar elegantemente o
papel dos eosinófilos no combate ao Melanoma em modelo experimental [3]. Quando células OVA-MO4
são injetadas em camundongos depletados para células T reguladoras (FoxP3-luciDTR4), o melanoma é combatido
de forma eficiente através da ação de células CD8+, já que neste tipo de tumor
estas são fundamentais para sua eliminação. E foi através deste modelo que Rafael
Carretero et al demonstraram que o
aumento de linfócitos citotóxicos neste contexto é acompanhado de um enorme
infiltrado eosinofílico, que migram do sangue em direção ao tumor e são capazes
de promover a eliminação do melanoma e sobrevivência dos animais. Em
experimentos utilizando anticorpos para depletar eosinófilos (Anti-Siglec-F), é
mostrado o papel fundamental destes granulócitos neste processo, já que a
análise da expressão de mRNA por RT-PCR e Multiplex mostraram que estas células
são fontes de citocinas inflamatórias e quimiocinas recrutadoras de T CD8+,
como CCL5, CXCL9 e CXCL10. Em um de seus experimentos mais elegantes, a
transferência de eosinófilos ativados acompanhada de linfócitos citotóxicos
para camundongos C57BL/6 mostrou-se capaz de eliminar o tumor de forma
eficiente, mas quando apenas eosinófilos são transferidos para Rag -/-, a
eliminação do tumor não ocorre, mostrando que, de fato, os eosinófilos precisam
estar presentes para recrutar os LT CD8+ que combatem o tumor de forma eficiente.
Além disto, é demonstrado de maneira clara e elegante por ensaios de imunofluorescência,
que os eosinófilos são capazes de promover a normalização da vasculatura
tumoral, reestabelecendo o microambiente vascular saudável para o tecido. E
para consolidar o papel fundamental destas células no combate ao Melanoma, os
autores ainda demonstram que a presença de eosinófilos é capaz de reprogramar
os macrófagos residentes para um perfil M1, que possuem importante ação
antitumoral e também são capazes de produzir quimicionas que recrutam células T
CD8+.
A imunoterapia através da transferência de células T CD8+ já vem sendo
testada na Clínica para tratamento de pacientes com melanoma, mas sem muito
sucesso. Desta forma, os achados deste artigo são de extrema importância para o
futuro da Imunoterapia contra tumores, já que, através de vários experimentos, é
mostrado que a transferência de células T CD8+ acompanhada de eosinófilos é
capaz de fazer com que o tumor seja facilmente eliminado, sugerindo que estes
granulócitos, ainda tão pouco estudados no contexto do câncer, tenham papel
também em outros tipos de tumores e sejam alvos promissores para tratamentos
futuros.
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