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sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Ebola - Uma nova síndrome de imunodeficiência adquirida?

Estamos vivendo o pior e maior surto de Ebola de todos os tempos, as notícias sobre infecções nos EUA e Europa e as projeções matemáticas realizadas sobre a infecção no oeste africano apontam para expansão geométrica da infecção (http://healthmap.org/ebola/#projection).


A resolução da infecção depende de uma resposta imune antiviral (inata e adaptativa) eficiente e duradoura. Esta orquestração é dependente de três agentes centrais: antígenos (partícula viral reconhecida pelo sistema imune), células apresentadoras de antígenos (ex. células dendríticas) e linfócitos (T CD4+ e CD8+). O reconhecimento dos componentes virais (ex. Antígenos proteicos e material genético) pelas células dendríticas, juntamente com a apresentação de antígenos às células CD4+ e CD8+ citotóxicas, estimulam a produção de inúmeros fatores (citocinas, ex. IFNs) que são responsáveis por potencializar a resposta imune antiviral no microambiente. A capacidade de escapar do sistema de defesa é determinante para o grau de infectividade  e sua importância médica.

Ao entrar no corpo, o vírus do Ebola é capaz de infectar e destruir  as células dendríticas, um dos pilares centrais da resposta imune antiviral. Além do mais, a proteína VP24 do vírus é capaz de impedir a resposta antiviral gerada pelos IFNs (http://www.cell.com/cell-host-microbe/fulltext/S1931-3128(14)00263-7). Com a destruição das células dendríticas e a inibição das vias de ação dos IFNs, as células T não conseguem reconhecer à infecção e eliminá-la. Assim o vírus pode replicar livremente e muito rápido, tornando-o altamente letal.

A porcentagem de óbitos entre infectados com Ebola é alarmante, variando entre 50-90%, porém sua capacidade de contagio (R0) ainda é baixa comparada a outros vírus.




Recentemente, a página da internet “Information is Beautifil” (http://www.informationisbeautiful.net/visualizations/the-microbescope/) publicou um gráfico que demonstra a associação inversa entre a capacidade de contagio dos vírus e sua letalidade.



Contudo, com a disseminação do vírus ao redor do mundo, novas pressões de seleção de mutações aparecerão e consequentemente a razão entre a letalidade e a capacidade de contagio do Ebola pode se inverter. O que podemos esperar de uma infecção crônica pandêmica, que ataca um dos pilares da resposta imune (reconhecimento e apresentação de antígenos)? Devemos considerá-la uma questão de saúde pública similar ao “HIV-1” em um futuro próximo?


Os estudos sobre a epidemiologia do Ebola, assim como o desenvolvimento de uma vacina candidata e/ou terapia eficaz estão apenas começando. Esse mês, o editorial da Science e da Science Translational Medicine lançou uma série de artigos sobre os mais importantes achados na área (http://www.sciencemag.org/content/345/6202/1221.summary). Aconselho a leitura, afinal de contas, quanto mais profissionais envolvidos na solução dessa infecção, mais cedo nos livraremos dela.

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