Este é o título do editorial da revista Immunity de
junho de 2014. Dois artigos recentemente publicados nesta edição encontram-se
entre aqueles mais acessados nestes últimos meses. Eles mostram que durante uma
infecção viral, o IFN de tipo I impede que as células NK matem, via perfurina,
as células T CD4 e T CD8 importantes na proteção contra o vírus.
Durante os primeiros estágios de muitas infecções,
ocorre a produção de diferentes citocinas que mobilizam a resposta do
hospedeiro. Esta onda de ativação inclui a síntese de interferons do tipo I, o
qual leva a um estado antiviral que impede a replicação patogênica. Estes
interferons também ativam as células NK e amplificam a imunidade mediada por
células. Vários estudos têm demonstrado que a remoção das células NK resulta em
um aumento no tamanho e funcionalidade das respostas das células T CD8, levando
à redução da carga viral. Assim as células NK indiretamente afetam as células T
CD8 mediando a destruição das células T CD4, portanto, diminuindo as funções
auxiliares necessárias para a sua diferenciação e manutenção. Além disso, as
células NK podem diretamente destruir as células TCD8. É interessante observar,
que sempre um certo grau de atividade antiviral das células T CD8 persiste, mesmo
na presença das células NK. A pergunta que surge é qual seria a razão para as
células NK não inibam completamente as repostas antivirais, e o que protegeria
as células T ativadas do ataque das células NK.
Dois artigos publicados na revista Immunity de junho de
2014, (Crouse et al., 2014 e Xu et al., 2014) observam a ligação entre a
sinalização do interferon do tipo I e a ação de contenção mediada pelas células
NK nas respostas das células T antivirais. Estes dois estudos utilizam análises
de microarray e determinam os perfis da expressão gênica diferencial das
células T CD8 na presença e ausência do IFN do tipo I. Xu et al observaram que
a ativação in vitro das células T CD8 na presença de IFN do tipo I aumenta a
expressão de moléculas do MHC clássicas e não clássicas, as quais fazem com que
os linfócitos fiquem mais resistentes à ação do ataque mediado pelas células
NK. Crouse et al, investigaram os perfis de células T CD8 provenientes de
camundongos selvagens (wild-type) ou deficientes do receptor do IFN I
(ifnar1-/-) após o priming com o vírus da vaccínia e no sistema de co-infecção
com o vírus LCMV. Neste caso, genes associados com ligantes ativadores das
células NK eram expressos em maior quantidade na ausência de sinalização do IFN
I. Esta série de resultados demonstram que a ativação antigênica das células T
CD8 acoplada à sinalização via IFN I altera o balanço da expressão de ligantes
ativadores e inibidores das células NK. Xu et al., ainda demonstram que células
TCD8 ifnar1-/- expandem in vitro, apoiando a ideia de que mecanismos
extrínsecos são os responsáveis pelas respostas abortivas in vivo. Estes
achados juntos sugerem a possibilidade intrigante que durante o curso da
infecção os sinais do IFN I fazem com que as células T CD8 sejam resistentes à
destruição pelas células NK.
Estes novos artigos agora estabelecem um link entre a
sinalização do IFN I e a resistência das células T ativadas à depleção pelas
células NK. Esta possibilidade seria um mecanismo para a remoção das células T
que tornam-se ativadas na ausência da sinalização do IFN I, o qual serviria
como um ponto de checagem para evitar uma ativação incorreta ou respostas
autoimunes. Esta estratégia também assegura que as células T respondedoras são
disponíveis para participarem ativamente até que o sinal de perigo disparado
pelo IFN I seja detectado. Embora ambos os estudos ofereçam várias indicações
sobre os painéis das interações ativadoras e inibitórias que determinam a vida
ou a morte da células T, as interações precisas e os ligantes que direcionam
esta decisão permanecem não identificados. Além disso, embora o IFN I possa
licenciar as funções das células T respondedoras, ainda não é definido se
outras infecções associadas a sinais inflamatórios, como IL-12 ou IL-33,
funcionam também conferindo resistência às células NK.
Uma dos aspectos mais impressionantes das respostas
mediadas pelas células T é a diversidade fenotípica. Será intrigante descobrir
se o IFN I protege todas as células T do ataque ou se uma subpopulação
particular de células ativadas recebem tratamento preferencial, sendo
selecionadas para sobreviver e continuar direcionando o destino da resposta
imunológica.
Xu, H., Grusdat, M., Pandyra,
A., Polz, R., Huang, J., Sharma, P., Deenen, R., Ko ̈hrer, K., Rhabar, R.,
Diefenbach, A., et al. (2014). Immunity 40, this issue, 949–960.
Crouse, J., Bedenikovic, G.,
Wiesel, M., Ibberson, M., Xenarios, I., Von Laer, D., Kalinke, U., Vivier, E.,
Jonjic, S., and Oxenius, A. (2014). Immunity 40, this issue, 961–973
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