As infecções de
corrente sanguínea (ICS) têm como uma das principais causas leveduras do gênero
Candida, agente de micoses
oportunísticas, responsável pela alta mortalidade e morbidade em hospitais
terciários em diferentes países do mundo.
Candida albicans ainda representa a espécie prevalente nas ICS, com taxas
de isolamento entre 40 a 70% dos casos globais de candidemia.
Estudos
clínicos e experimentais têm buscado a compreensão de diferentes aspectos da
resposta imune na candidíase hematogênica, com destaque para o papel crucial
dos neutrófilos, monócitos e células natural
killers na imunidade antifúngica. No entanto, pouco se conhece a respeito da
dinâmica da interação in vivo entre
patógeno e células do hospedeiro e os mecanismos de reconhecimento e ativação da
resposta imune durante a infecção.
Em trabalho recente
publicado por Hünniger et al. (2014), os autores avaliaram a resposta imune
inata contra C. albicans utilizando
um ensaio de infecção com sangue total humano associado a um modelo virtual matemático
segundo o método de simulação de Monte Carlo. Esses estudos em conjunto
permitem realizar uma análise quantitativa preditiva da dinâmica de interação
entre o patógeno e o hospedeiro. Os resultados demonstraram o papel central dos
neutrófilos na fagocitose e na atividade fungicida intracelular e extracelular
nos diferentes tempos de estudo (até 4 horas após incubação de C. albicans com o sangue humano), em
comparação aos monócitos. Os neutrófilos foram responsáveis por 98% da morte do
fungo, evidenciando-se a ativação dessa população celular pela análise da
expressão de marcadores de superfície (CD66b, CD11b e CD64) e detecção
intracelular de intermediários reativos de oxigênio por citometria de fluxo,
além da produção de citocinas proinflamatórias (IL-1β, TNF-a, IL-6 e IFN-g), de quimiocinas (IL-8 e MIP-1β) e de produtos da
degranulação de neutrófilos (elastase, mieloperoxidase e lactoferrina) pela
determinação dos níveis plasmáticos utilizando a tecnologia Luminex.
Nos ensaios de
associação entre neutrófilos e células fúngicas foram testadas dez cepas
clínicas de C. albicans provenientes de
infecção hematogênica e uma cepa padrão de C.
albicans (SC5314). Os resultados demonstraram padrões similares de
associação das diferentes cepas aos neutrófilos do sangue total humano e mudanças
na morfologia de C. albicans ao longo
da infecção. Organismos intracelulares apresentaram diferentes tipos
morfológicos, com interrupção da produção de estruturas filamentosas (hifas),
enquanto as células fúngicas extracelulares formaram tubos germinativos e
pseudo-hifas ao longo do ensaio, indicando capacidade contínua para
filamentação. Nesse mesmo estudo, a evasão imune de C. albicans foi demonstrada pelo escape da fagocitose, manutenção
da viabilidade celular e permanência no ambiente extracelular até o tempo de 4
horas de estudo. A resistência contra fagocitose e/ou morte de C. albicans não foi associada à
filamentação do fungo e nem à exaustão ou inativação das células da imunidade
inata. A resistência aos mecanismos de defesa inatos pode estar associada à
presença de componentes da parede celular do fungo que se ligam aos fatores do
hospedeiro, atuando dessa forma como fatores de virulência que aumentam a
capacidade de invasão e disseminação fúngica e merecem investigação em
experimentos futuros.
Com base nesse
modelo de infecção, os autores concluem que a resistência de C. albicans à fagocitose pode ser um dos
fatores responsáveis pelas altas taxas de disseminação desse fungo em infecções
hematogênicas, com papel primordial dos neutrófilos no controle inicial da
infecção e enfatizam ainda a importância de modelos experimentais quantitativos
para avaliar a dinâmica da resposta imune em um ambiente complexo como o sangue
humano.
Referências
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Post por Angela Nishikaku
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