Desde a descoberta das células Th17 em
2005 (aqui),
muito se tem pesquisado sobre a IL-17, citocina de assinatura destas células.
Em 8 anos de pesquisa, foram identificados vários fatores indutores e
repressores da expressão de IL-17 e seu regulador master RORγt, assim como sua função nas mais diversas doenças
inflamatórias, infecciosas e no câncer. Além disso, foram descritos outros
tipos celulares, além de linfócitos T CD4+, capazes de produzir esta
citocina (um exemplo aqui).
Em suma, temos que um linfócito T CD4+
pode produzir IL-17 sob estímulo de IL-6, TGF-β e, mais recentemente, IL-1β.
Além disso, IL-23 e IL-21 atuam na manutenção e sobrevivência destas células. Além
de citocinas, fatores ambientais também parecem estar ligados com a produção de
IL-17 por células T CD4+, como por exemplo, os ligantes de AhR (aqui)
e o sal da dieta (paper,
post do blog 1 e
2).
Recentemente, também foi demonstrado que o estímulo via TCR com ativação de
Akt2 e mTORC2 já é suficiente para induzir a produção de IL-17 por T CD4+
do timo (isto mesmo, células Th17 naturais – aqui).
Por outro lado, várias citocinas e moléculas podem inibir o desenvolvimento do
fenótipo Th17, como ilustrado na figura, mas isto fica para um próximo post.
Esta breve descrição dos fatores
indutores de Th17 já demonstra uma grande complexidade na geração destas
células. Mas, acreditem, ainda mais peças estão sendo adicionadas ao
quebra-cabeça. E é disso que vamos falar neste domingo ensolarado!
Nesta última edição do JEM, Obermajer e
colaboradores (aqui),
demonstraram a participação do óxido nítrico (NO) na indução e estabilidade de
células Th17 humanas. Para isso, os autores se basearam na observação de uma
alta frequência de células Th17 e MDSCs (myeloid-derived
supressor cells) no ambiente do tumor ovariano, sendo que ambas se
relacionam com a progressão tumoral. Através de experimentos de co-cultura, foi
demonstrado claramente que o NO, produzido por MDSCs, atua via indução de cGMP
e ativação de quinase-dependente de cGMP (cGK), culminando com o desenvolvimento
do fenótipo Th17 em células T CD4+ naives e de memória.
A partir do material de biopsia de
pacientes com câncer de ovário, foram isoladas MDSCs e realizadas co-culturas
com células T CD4+ circulantes e tumorais. Foi observado então que estes
linfócitos tinham uma polarização direcionada para Th17, com expressão de Rorc
e IL-17, mas não de FoxP3, T-bet ou IFN-γ. Sabe-se que MDSCs podem exercer sua
função efetora através da expressão de arginase, IDO ou IL-10, além de PGE2 e
NO. Nestas culturas eram encontrados altos níveis de IL-6, TGF-β e IL-1β, assim
como NO2-. Curiosamente, apenas o bloqueio da iNOS
culminou com inibição do fenótipo Th17. Devido a participação de COX2 e seus
produtos na indução de iNOS, a presença de celocoxibe também culminou com
redução da produção de IL-17 e menor frequência das células Th17 nas culturas.
Para comprovar a real participação do
NO na indução de Th17, os autores então adicionam um doador deste gás às
culturas. De forma interessante, é observado um sinergismo do NO com as
citocinas polarizantes na indução de IL-17, mostrando que as citocinas
polarizantes de Th17 e o NO atuam induzindo a expressão de iNOS nas próprias
células Th17. Porém, de acordo com outros trabalhos (aqui e
aqui),
altas doses do doador de NO culminam com supressão do fenótipo Th17, assim como
Th1 e Treg. Para demonstrar o mecanismo de ação do NO na indução destas células,
a neutralização de cGMP foi realizada e observou-se a redução na produção de
IL-17 principalmente por T CD4+
naives.
Concluindo, temos então que o
sinergismo entre as citocinas polarizantes e o NO é crucial para que haja
expressão de IL-17A e F, assim como IL-23R em células T naives e de memória humanas, e que este mecanismo é dependente de
cGMP atuando via cGK. Vale ressaltar que esta via apenas participa na
polarização de células Th17, mas não de outros fenótipos.
A pergunta que fica é: poderíamos
planejar abordagens para a neutralização de iNOS e aplica-las na clínica em
doenças inflamatórias e auto-imunes, ou até mesmo no câncer? Ou quem sabe
introduzir doadores de NO em situações onde a inflamação mediada por Th17 seja desejável?
Aguardemos pelos próximos capítulos... E um bom domingo a todos!
Post
de Gustavo Fernando da Silva Quirino - Mestrando – FMRP-IBA
Belo post Mostarda! E ótimo paper também né? Aliás.. podemos testar essa ideia dos doadores de NO.. rs.
ResponderExcluirMuito bom Post Gustavo. Muito interessante NO poder induzir uma resposta Th17 e isso faz tdo o sentido na resposta imune contra T. cruzi visto que tanto NO, quanto Th17 são importantes. Outra coisa bem legal que vejo aqui nesse post são as MDSCs que foram na verdade indutoras de resposta imune.
ResponderExcluirObrigado pela colaboração, Manu e Grace!
ResponderExcluirPoisé Manu, a ideia dos doadores de NO de fato é interessante, tanto pela atividade leishmanicida, ja bem estabelecida na literatura, quanto pela indução de uma resposta protetora. O desafio é saber em quais níveis o NO exógeno, ou até mesmo o endógeno, apresenta papel microbicida ou indutor de Th17.
Grace, também me surpreendi com esse novo papel das MDSCs... mas também resta a dúvida: em qual momento e quais são os estímulos para que estas células apresentem capacidade de induzir ou suprimir a resposta?