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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Keystone Symposia: novas discussões sobre Immunoregulatory Networks



Foram mais de 26 horas de viagem de porta a porta, contado o tempo de voos, de aeroporto e os trajetos terrestres. Chegamos ao charmoso vilarejo de Brekenridge (Colorado), cercado por montanhas com florestas de pinheiros e picos nevados, e com suas casinhas coloridas de madeira, ainda “confeitadas” pela neve que resistia à chegada da primavera. Este ano o inverno teve muita neve. Assim, o clima de de ski continuava a todo vapor em Brekenridge!

Não sendo frequentadora de estações de ski, fiquei surpresa com o clima animado de brincadeiras, no “sobe e desce” das montanhas nevadas, com pessoas até fantasiadas, como se fosse um carnaval na neve. Imaginem que tinha uma pessoa fantasiada de gorila com os skis nos pés, e outro bem corajoso de bermuda e um colete aberto no peito sem camiseta (isso mesmo!!).


Foi o meu primeiro simpósio de Keystone em Immunoregulatory Networks.
Fomos eu e meu aluno Hernandez Silva, levando nosso trabalho sobre as células B na tolerância operacional, e lá encontramos meu ex-aluno Pedro e Enio, outro aluno do ICB-USP. Também foi uma alegria reencontrar meu grande amigo Juan Lafaille, grande cientista que tem contribuído de forma importante para o conhecimento sobre as células Treg.

A reunião foi muito boa e instigante!
Para quem não conhece, os Keystone Symposia têm uma longa história, com início nos anos ’70, então chamados de California Membrane Conference. Passaram por várias mudanças e tiveram diferentes nomes, como Keystone Symposia on Molecular and Cellular Biology (1990). Desde 1997, os Keystone Symposia funcionam como uma organização sem fins lucrativos, dedicados à promoção de conferências científicas de alto padrão, em todas as áreas das ciências biológicas e biomédicas . Vale a pena procurar algum de seu interesse e participar!

Mas, vamos à nossa reunião!
O formato da reunião privilegia o debate científico e a apresentação de dados não publicados. Não é permitido fotografar ou gravar as apresentações e sessões de pôsteres, visando justamente deixar os palestrantes mais à vontade para mostrar seus dados não publicados. Pouco mais de 300 participantes. Sempre, muita discussão após cada apresentação. Sessões de pôsteres muito animadas, com muita discussão, até passando das dez da noite. Foi uma reunião basicamente com cientistas dos Estados Unidos; pouquíssimas apresentações orais de outros países, Inglaterra, Alemanha, Suíça.

A proposta desta reunião específica em Immunoregulatory Networks foi, além de discutir os novos conhecimentos sobre as células T reguladoras, valorizar a discussão sobre outros componentes celulares e moleculares que contribuem para esta rede imunorreguladora e como essas conexões ocorrem. Parece-me ser este um momento em que há um enorme aprofundamento nos estudos das vias moleculares e, ao mesmo tempo, uma busca para compreender, de forma mais ampla, os múltiplos e complexos caminhos na rede de imunorregulação. Há um grande interesse sobre como eventos metabólicos, não exclusivamente imunológicos, podem ter grande impacto no direcionamento funcional das respostas imunes e nas vias imunorreguladoras.

Algumas apresentações que me chamaram atenção:

Diane Mathis (Harvard Medical School, EUA) abriu a reunião com Keynote Address falando sobre as células Tregs tissulares que infiltram diferentes tecidos, como a gordura, o músculo esquelético e outros. As Treg encontradas nos tecidos não considerados do sistema imune parecem ter diferentes propriedades moleculares das Tregs convencionais e interagem também com células do parênquima daquele tecido específico. Analisando as Tregs presentes no tecido adiposo, em modelos de camundongos ob (obese), seu grupo observou uma relação entre a diminuição de Treg na gordura e a resistência à insulina, sugerindo que a população de Treg da gordura tenha um papel neste processo patológico.

Jonathan Powell (Johns Hopkins University, EUA) fez uma palestra muito elegante abordando a desafiadora questão sobre como ocorre a integração molecular de múltiplos sinais do microambiente imunológico, determinantes no desfecho do engajamento do TCR e no direcionamento de diferentes fenótipos funcionais das células T. Seu grupo havia mostrado, anteriormente, que mTOR (Mammalian Target of Rapamycin, membro da família PI3-kinase) tem um papel fundamental na diferenciação das células T auxiliares. Na deficiência de mTOR as células T não se tornam efetoras e tornam-se células Treg FOXP3+. Utilizando modelos de camundongos com deleções específicas downstream nas vias de sinalização de mTOR, seu grupo verificou que a diferenciação de Th1 e Th17 é regulada pela via de sinalização mTORC1 dependente de Rheb, enquanto mTORC2 regula respostas Th2 e a geração de células CD8 efetoras. O papel de mTOR como uma via molecular integradora de sinais crucial no direcionamento de diferenciação de células T, função e metabolismo, parece abrir novos caminhos de investigação, sobre “tomadas de decisão” pelas células T e na resposta imune. A boa notícia é que o Powell fará esta mesma palestra no próximo congresso da SBI. Não percam!

Juan Lafaille (New York University, EUA) apresentou dados muito interessantes sobre diferenças moleculares entre as células Tregs naturais e as induzidas, em camundongos, e mostrou que a expressão de Neuropilina-1 (Nrp1) diferencia as naturais das induzidas. Parece haver uma cinética de expressão de Nrp1 nos timócitos Foxp3+ e a maioria das Tregs naturais Foxp3 hi expressam Nrp1. A função da Nrp1 nas nTreg ainda não é conhecida. Porém, foi discutido, após sua apresentação, que ela poderia atuar como um co-receptor para TGF-b. A boa notícia é que como a Nrp1 é expressa na superfície, pode ser útil para isolar as células T reguladoras naturais.



Foram muitas palestras interessantes e ótimas discussões. Assuntos para outros posts mais adiante. A minha sugestão é que vale a pena ficar de olho nos Keystone Symposia e fazer uma força para participar!


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