Na maioria dos ensaios clínicos bem como na maioria das disciplinas de pesquisa básica existe um viés para o sexo masculino em detrimento do feminino. Será que isso representa um risco contra a saúde da mulher? Uma série de três artigos publicados na Nature dessa semana discute as implicações da exclusão da mulher (bem com de grávidas) de ensaios clínicos e de fêmeas de estudos de cunho básico, e propõe alternativas para diminuir essa inequidade.
O artigo de Kim, Tingen and Woodruff (http://www.nature.com.ezproxy.med.nyu.edu/nature/journal/v465/n7299/full/465688a.html) ressalta a quase ausência de ensaios clínicos com um número significativo de mulheres, mesmo quando o tratamento a ser avaliado seja para tratar doenças que afetam mais as mulheres do que os homens. Considerando as inúmeras (e óbvias) diferenças entre homem e mulher, muitas das conclusões tiradas com esses ensaios podem não se aplicar às mulheres, colocando a sua saúde em risco. O artigo de Baylis (http://www.nature.com.ezproxy.med.nyu.edu/nature/journal/v465/n7299/full/465689a.html) discute os problemas causados pela falta de ensaios clínicos para mulheres grávidas, privando as gestantes de tratamentos mais adequados. Ambos os artigos propõem que os órgãos regulamentadores de ensaios clínicos estabeleçam critérios mais rígidos que permitiriam a inclusão das mulheres nos ensaios clínicos.
As explicações para esse exclusão sexista parecem razoáveis ao primeiro olhar: (1) variáveis introduzidas pelas flutuações hormonais; (2) o que for benéfico ou maléfico para os homens pode ser aplicado também para as mulheres; (3) no caso de mulheres grávidas, os potenciais riscos ao feto. Por outro lado, segundo os autores dos artigos, essas explicações não superam as desvantagens que a exclusão do sexo feminino de ensaios clínicos e da pesquisa básica pode causar à mulher.
Um fato interessante comentado no artigo de Zucker e Beery (http://www.nature.com/nature/journal/v465/n7299/full/465690a.html) é que enquanto em diversas áreas da ciência (especialmente neurociência, farmacologia e fisiologia) a proporção de uso de machos/fêmeas chega a ser de 5/1, eles identificaram um viés para o lado das fêmeas nos artigos de imunologia, quando esses indicavam o sexo dos animais utilizados. Por outro lado, 75% dos artigos de imunologia básica publicados em revistas de alto impacto não especificavam o sexo dos animais, o que geralmente significa que ambos os sexos foram utilizados sem preferência. Segundo os autores, deve haver uma sistematização, e os editores das revistas deveriam exigir que os artigos expliquem o por que da escolha de um dos sexos para os seus experimentos.
Claramente, entender melhor as diferenças ligadas ao sexo com desenhos experimentais direcionados é de fundamental importância para o avanço da ciência e para a busca de tratamentos mais eficientes para homens e mulheres. Mas será mesmo que a exclusão de fêmeas em algumas áreas da pesquisa básica é tão relevante assim, ou é simplesmente uma abordagem reducionista para tentar controlar pelo menos uma variável das inúmeras existentes?
Muito bom tratar deste tema no blog.
ResponderExcluirO possível prejuízo na tentativa de proteger é um assunto que sempre provoca alguma surpresa entre os nossos alunos de PG nos seminários de bioética.
Há já algum tempo, alguns comitês de ética na pesquisa em seres humanos nos EEUU estão atentos para o problema e têm exigido a inclusão de mulheres. Mesmo em estudo de avaliação de talidomida foi exigida a inclusão de mulheres em idade fértil, as quais deveriam ser submetidas a dois métodos anticoncepcionais simultaneamente.