Figura
1 - Macrófago recrutado da medula (vermelho), reconhecendo nódulo de Ranvier
(setas branca e preta).
Atualmente, tem se tornado
cada vez mais estabelecido que existem duas populações bem distintas de
macrófagos: uma população de macrófagos teciduais, oriunda de células
progenitoras provenientes do saco vitelínico; e outra população de macrófagos
derivada de monócitos, que por sua vez são recrutados da medula óssea (ref.). No
entanto, o papel dessas subpopulações em um processo inflamatório permanece
obscuro, principalmente pela dificuldade em se distinguir uma população da outra, seja por marcadores de superfície ou pela sua
morfologia. No contexto da esclerose múltipla (EM) por exemplo, que é uma doença
auto-imune caracterizada pela destruição progressiva da bainha de mielina de
neurônios no sistema nervoso central (SNC), sabe-se que os macrófagos são as
principais células responsáveis pela destruição da mielina. No entanto, a
origem desses macrófagos patogênicos, ou seja, se são derivados de células da
micróglia residentes do SNC, ou se são derivados de monócitos infiltrantes, tem
sido um assunto bastante discutido pela comunidade científica. No entanto,
Yamasaki e colegas (aqui)
finalmente conseguiram distinguir essas duas subpopulações em um modelo de EM e
demonstraram que macrófagos derivados de monócitos (do inglês, monocyte-derived macrophages, MDMs) são
as células responsáveis pela destruição da mielina, enquanto que macrófagos
derivados da micróglia (do inglês, microglia-derived
macrophages, MiDMs) possuem uma supressão no seu metabolismo celular e na transcrição
de genes durante a doença, e parecem desempenhar um papel apenas de recrutamento
celular. Utilizando das mais diversas tecnologias, como microscopia confocal, serial block-face scanning electron
microscopy (SBF-SEM – vídeo demonstrando como essa tecnologia funciona aqui) e posterior
reconstrução 3D, os autores demonstraram de forma muito elegante que a
destruição da mielina foi iniciada por MDMs, frequentemente nos nódulos de
Ranvier (Figura 1), enquanto que os macrófagos residentes (MiDMs) não foram
encontrados nesses locais. Analisando-se o perfil de expressão gênica dessas
duas subpopulações, foi observado que MDMs e MiDMs possuem perfis bem distintos
de expressão gênica. MDMs expressam genes relacionados com funções efetoras,
como produção de eicosanóides, prostaglandinas, lipídeos, fagocitose e clearance celular. Em contrapartida,
MiDMs apresentam um perfil de expressão gênica com características de um estado
metabólico suprimido, com repressão de diversos genes relacionados à
organização de citoesqueleto, entre outros. Em suma, a distinção precisa entre
macrófagos residentes do SNC e recrutados da medula óssea pode contribuir para
um melhor entendimento de diversas patogêneses do SNC, como acidente vascular
cerebral (AVC) e traumas cerebrais, levando por sua vez (hopefully!) ao desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas.
Post
de Frederico Ribeiro e Leonardo Lima (doutorandos IBA – FMRP/USP)
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