É reconhecido por todos nos imunologistas e malariologistas que tanto a regulação quanto a função da
resposta imune desencadeada na malária é complexa e pouco entendida. Um aspecto
intrigante e ainda não elucidado é o fato de que a reinfecção em indivíduos expostos ao agente
causador da malária não induz proteção completa contra o parasito. Existiria portanto, um
tipo celular, em particular, que apresente suas funções prejudicadas em função
da infecção? Ou mais de um tipo celular ficaria fora de sintonia durante a
tentativa de se montar uma resposta protetora efetiva? Eu particularmente
acredito na segunda opção.
Nesse sentido, foi
publicado recentemente no Journal of
Experimental Medicine, que células dendríticas podem ser um desses tipos celulares, que ao
sofrerem influência da infecção pelo
plasmódio, não conseguem exercer suas funções adequadamente. Esse fenômeno traz
sérias consequências, uma vez que as células dendríticas desempenham função
central iniciando a resposta imune através da apresentação de antígenos para
células da imunidade adaptativa, por exemplo. O estudo mostra diminuição de
células dendríticas na periferia e acúmulo de células imaturas. Paralelamente,
foi demonstrado que células dendríticas, nessas condições, estão mais propensas
a sofrerem apoptose e são menos capazes de capturarem e apresentarem antígenos às
células T. Além disso, os autores demonstraram que altos níveis de IL-10
participam da indução da apoptose das células dendríticas nos pacientes
avaliados. Assim, com o bloqueio de IL-10, as células dendríticas são
resgatadas do processo de apoptose.
Achei interessante os resultados encontrados nesse estudo, e intrigante
o papel que a IL-10 desempenha sobre as células dendríticas. Os altos níveis de
IL-10 durante a malária humana sempre me chamaram a atenção e ainda acredito
que seu papel pode ser benéfico e exercido com o intuito de modular os altos
níveis de citocinas inflamatórias observados durante a infecção, causadores dos
sintomas da malária. Nosso desafio é entender melhor como regular a produção
dessa citocina que sabemos ser fundamental durante a resposta imune contra a
maioria dos patógenos que conhecemos.
Como disse o ex-colaborador do nosso blog, Bruno Andrade: “Bom
ver um paper somente com dado humano no JEM”. Achei o artigo muito bom e
parabéns aos autores por ter conseguido a atenção do JEM. Não só para os que
fazem imunologia humana, uma publicação assim é um super reconhecimento!
Referência: Kenangalem E, Engwerda C, López JA, Anstey NM, Good MF. Apoptosis
and dysfunction of blood dendritic cells in patients with falciparum and vivax
malaria.
J Exp Med. 2013 Jul 29;210(8):1635-46. doi: 10.1084/jem.20121972.
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