Análise de
parâmetros imunológicos em gêmeos saudáveis. (A) Visão global dos dados
coletados cobrindo as unidades funcionais do sistema imune, as células e
proteínas circulantes. (B) Resumo de toda herdabilidade estimada para 72
frequências de populações de células imunes por citometria de fluxo e
citometria de massa. (C) Herdabilidade estimada de 43 proteínas séricas por
ensaio com microesferas fluorescentes. As barras de erro representam 95% do
intervalo de confiança para a herdabilidade estimada. A barra cinza representa
o limite de detecção da herdabilidade (<0.2). Fonte: Brodin et al. Cell, Jan
2015.
O estudo de
gêmeos monozigóticos e dizigóticos apresenta-se como uma abordagem apropriada
para separar influências hereditárias e não hereditárias em determinados traços
populacionais avaliados. Nesse contexto, sabe-se que há uma heterogeneidade
considerável em parâmetros imunológicos entre indivíduos, contudo, suas fontes
são amplamente desconhecidas.
Com o intuito
de se analisar a contribuição relativa de fatores hereditários versus não
hereditários para o desenvolvimento de traços imunológicos, foi publicado no
início deste ano na revista Cell uma análise de fatores imunológicos de 200
gêmeos saudáveis (78 gêmeos monozigóticos e 27 dizigóticos) que apresentavam
idade variando entre 8 a 82 anos.
Esse trabalho
foi liderado pelo pesquisador Mark M. Davis da Stanford University School of
Medicine nos EUA. Os parâmetros avaliados durante o estudo incluíram os níveis
basais de 40 citocinas, 72 contagens de subpopulações de leucócitos, a resposta
in vitro de 8 tipos celulares para 7
citocinas e a resposta de anticorpo in
vivo para a vacina contra Influenza. O principal encontro do estudo foi que
a maioria dos fenótipos estudados apresentou um grau muito pequeno de
herdabilidade.
Os dados
demonstraram que 77% dos parâmetros são dominados (>50% de variância) e 58%
quase que completamente determinados (>80% de variância) por influências não
hereditárias. Além disso, alguns desses parâmetros tornaram-se mais variáveis
com a idade, sugerindo uma influência cumulativa de exposição ambiental. De
forma similar, respostas sorológicas à vacinação sazonal por Influenza são
também determinadas amplamente por fatores não hereditários, provavelmente devido
à exposição repetida a diferentes cepas.
Outro dado
que se destaca é que a infecção por citomegalovírus tem uma ampla influência na
variação imune, já que em gêmeos monozigóticos discordantes para essa infecção, mais da metade de todos os parâmetros avaliados são afetados.
Esses
resultados salientam a natureza altamente reativa e adaptativa do sistema imune
em indivíduos saudáveis. Além disso, os dados demonstram que a imunidade varia primariamente entre os indivíduos como uma consequência de fatores não
hereditários com uma influência geralmente limitada de fatores hereditários.
Tais observações indicam que o sistema imune de indivíduos saudáveis é muito
mais moldado pelo ambiente e provavelmente pelos muitos diferentes patógenos
que entram em contato com esses indivíduos ao longo da vida.
Referências
- Brodin P, Jojic V, Gao T, Bhattacharya S, Angel CJ, Furman
D, Shen-Orr S, Dekker CL, Swan GE, Butte AJ, Maecker HT, Davis MM. Variation in
the human immune system is largely driven by non-heritable influences. Cell.
2015 Jan 15;160(1-2):37-47. doi: 10.1016/j.cell.2014.12.020.
- Casanova JL, Abel L. Disentangling inborn and acquired
immunity in human twins. Cell. 2015 Jan 15;160(1-2):13-5. doi:
10.1016/j.cell.2014.12.029.
- Orrù V, Steri M, Sole G, Sidore C, Virdis F, Dei M, Lai S,
Zoledziewska M, Busonero F, Mulas A, et al., Cucca F. Genetic variants regulating
immune cell levels in health and disease. Cell. 2013 Sep 26;155(1):242-56. doi:
10.1016/j.cell.2013.08.041.
Caramba, Andréa! Isso é que eu chamo de sincronicidade! rs. Hoje, exatamente hoje, dei aula de Genoma pros alunos da Medicina e falei de hereditariedade (e claro, como imunologista, não podia deixar de lado o meu viés imunológico e acabei falando de influências ambientais, abertura e fechamento da cromatina, herança mitocondrial materna e paterna (!!!!!) histonas e epigenética também). Depois da aula, alguns vieram me procurar pra orientá-los em um trabalho de metodologia científica, semana passada outra aluna me procurou pra orientar IC em genética, e já ganhei uma monitora em genética em outra turma! Estou muito feliz! Abraços e obrigado pelo post!
ResponderExcluirQue bom João, estamos na mesma sintonia. O Vitor Bortolo, pós-doutorando do nosso grupo, enviou-nos o artigo e ele gerou várias discussões interessantes sobre o tema. Então resolvi publicar a postagem sobre ele. Abraços,
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