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quinta-feira, 11 de abril de 2013

Apollo 13


Um dos meus filmes favoritos se chama Apolo 13 – acho que todo mundo viu, contando a história da missão espacial que era pra ser rotineira e acabou virando mundialmente acompanhada pois vários problemas acabaram colocando a vida dos astronautas em risco. Bom, parece um drama, mas a minha seqüência  favorita do filme, na qual eu sempre penso, é aquela em que os níveis de CO2 da nave ficam críticos, pois os filtros  de ar não haviam sido programados para os 3 astronautas ficarem respirando ali dentro o tempo inteiro – já que eles não iam afinal conseguir pousar na lua, e iam demorar mais pra voltar. Enfim. O comando terrestre decide que alguém tem de propor uma solução de modo que os astronautas consigam construir um filtro novo dentro da nave, no espaço. Para isso, reúnem os engenheiros na base e dão pra eles os materiais que existem na nave e dizem: façam um filtro com isso. E tem que funcionar, senão eles morrem.  Os engenheiros resolvem os problemas, usando fita isolante para que tubos redondos encaixem em filtros quadrados, etc. E depois de testar, eles descrevem, passo a passo, para os astronautas, pelo rádio, como eles tem de fazer o filtro. 

Isso aconteceu de verdade, o filtro funcionou, e pra mim é uma das histórias mais bonitas pra se usar como metáfora de como tem de ser a ciência que a gente produz. Quando estudamos um problema, e propomos uma solução, seja ela envolvendo ou não engenharia, não importa – ela tem de ser reproduzível em qualquer laboratório do mundo – até numa nave espacial orbitando a terra.

Nesta semana saiu na Nature um comentário de um menino chamado Jonathan Russel aqui que não conheço, mas assino embaixo do que ele falou.  Ele propõe que para todos os grandes grants que sejam aprovados no NIH, seja aprovada uma verba em separado, para pagar um teste independente de reproducibilidade. Independente de publicação – a verba gasta pelo NIH deveria ter garantia de ser reproduzível. O contribuinte não deveria pagar por ciência que só um laboratório consegue fazer, e ninguém mais.

Ele prossegue listando todas os prováveis argumentos que as pessoas levantariam para dizer que isso não funcionaria. Seria caro. Não seria prático. Quem faria os testes? E pro fim: a ciência se auto corrige. Sim, se auto corrige, mas isso leva anos, as vezes décadas. O atraso que algo de impacto, mas que não será reproduzível, causa, é enorme, e muito, muito danoso.

Essa é uma discussão fundamental. Seja aqui, nos EUA, no Japão, ou na Nigéria – se funciona, funciona. Se não funciona, mesmo se saiu na Science, it is bad science. Nós temos de falar sobre isso,  ensinar nossos alunos sobre isso, e pensar que as perguntas que fazemos e respondemos agora vão ajudar a responder  as perguntas do futuro – talvez numa missão espacial em Júpiter, talvez numa epidemia na Nova Zelândia. Mas apenas se o que você demonstrou puder ser reproduzido.

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