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segunda-feira, 18 de março de 2013


Homo sapiens:  homem que sabe (que não sabe)


Linnaeus deve ter ficado tão maravilhado com a capacidade cognitiva da humanidade que em 1758 resolveu chamar nossa espécie de Homo sapiens sapiens, que em latim significa “homem que sabe que é sábio”.  De fato, o homem é tão consciente de seu conhecimento que desenvolveu um método e um sistema para produzí-lo e organizá-lo: a Ciência, do latim Scientia, conhecimento.
Mas quem faz Ciência logo percebe que trata-se de um processo constante de construção e desconstrução, e que a despeito de toda experiência acumulada, da rigidez dos métodos e refinamento das teorias, alcançar o conhecimento definitivo e verdadeiro permanece uma utopia. Quem, por exemplo, nunca tentou experimentalmente reproduzir um resultado publicado e não conseguiu?
Em um texto divulgado pela PLoS Medicine, John Ioannidis aborda esta questão. Ele  reporta um modelo para calcular a probabilidade de um dado ser verdadeiro e chega à sugestão de que a maioria das publicações científicas são falsas. As causas disto são propostas em seis corolários e, segundo o autor, vão muito além de questões éticas. Entre elas, Ioannidis destaca os vieses de desenho experimental, análise de dados, o tamanho dos estudos, e enfatiza que resultados estatisticamente significativos podem refletir apenas a confirmação de fortes vieses.
Outra questão importante refere-se ao sistema de publicações. Obviamente o progresso científico depende de pesquisas que atuam no limite do desconhecido, propondo novas hipóteses. Porém este tipo de pesquisa tem grande probabilidade de produzir falsos resultados. Como as publicações são mais focadas na divulgação de resultados inéditos e positivos (que confirmam as relações que os autores dizem existir), publicar resultados que confirmam hipóteses já testadas ou resultados negativos não se torna interessante. Assim, separar as "verdades" dos resultados falsamente positivos torna-se um processo além de demorado e trabalhoso, desvalorizado.
Por fim, o autor afirma que eliminar completamente os fatores que produzem resultados falsamente positivos é praticamente impossível, mas para tentar minimizar o problema podemos   realizar experimentos grandes que confirmem teorias já propostas e atentar para os possíveis vieses dos nossos estudos, principalmente os que geram novas hipóteses.
Acho que o problema está longe de ser resolvido e exige respeito e humildade com nossos resultados. Einstein uma vez afirmou que não existe número suficiente de experimentos que provem uma teoria, mas basta um experimento para derrubá-la. Acumulamos evidências, mas não alcançamos verdades. Se Linnaeus pudesse renomear nossa espécie hoje, talvez fosse mais apropriado chamar de "o homem que sabe que não sabe".

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4 comentários:

  1. Pra contrabalançar esse viés de publicação de resultados positivos, há uma série de revistas lançadas mais recentemente dedicadas à publicação de resultados negativos

    Journal of Negative Results in BioMedicine:
    http://www.jnrbm.com/

    Journal of Phamaceutical Negative Results:
    http://www.pnrjournal.com/

    Journal of Negative Results - Ecology & Evolutionary Biology:
    http://www.jnr-eeb.org/index.php/jnr

    Journal of Articles in Support of the Null Hypothesis
    http://www.jasnh.com/

    e outros:
    http://www.psychfiledrawer.org/journal_of_negative_results.php
    -------------

    []s,

    Roberto Takata

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  2. Texto de estreia do Jonathan Ersching aqui no blog, diretamente da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Bem-vindo!

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