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sexta-feira, 15 de março de 2013

SEM SAL NEM AÇUCAR


As várias complicações resultantes de uma alimentação rica em açucar já são conhecidas há muito tempo: diabetes, problemas cardiovasculares, obesidade, etc, etc. Fato esse nada agradável para os amantes do chocolate e doces em geral. No entanto, eles não precisam mais sentirem-se injustiçados pois, para o outro lado da força, composta pelos amantes daquela comidinha bem temperada com sal, a situação também parece ter ficado negra!
Em dois recentes trabalhos publicados na Nature (Kleinewietfeld, Manzel et al. 2013, Wu, Yosef et al. 2013) os autores encontraram uma inédita e surpreendente associação entre o sal (sal de cozinha, NaCl) e o desenvolvimento de células Th17, grandes vilãs em diversas doenças autoimunes.
Embora não existam dados epidemiológicos que corroborem com a relação entre hábitos alimentares ricos em sal e o desenvolvimento de doenças autoimunes, os autores partiram da hipótese de que a atual alimentação, frequentemente baseada nos chamados (e salgados) fast foods, poderia interferir diretamente no aumento da incidência observado para essas doenças.
O primeiro trabalho traz experimentos basicamente simples: indução de células Th17 in vitro na presença de uma concentração de NaCl que mimetiza a encontrada no interstício após dieta rica em sal.
Logo de cara, após estímulo com sal, eles já observaram um aumento significativo de células produtoras de IL-17, da expressão de IL17A e concentração de IL-17 no meio. Esse efeito foi específico do cátion sódio e não devido a mudanças na osmolaridade.
Para avaliar os mecanismos envolvidos, eles realizaram um microarray durante a diferenciação Th17. Vários genes relacionados com o fenótipo dessas células encontraram-se up-regulados na presença de sal (Rorc, IL17F, CCR6, CCL20, IL23R, etc). No entanto, o que mais chamou atenção foi a indução de dois genes que codificam moléculas relacionadas com stress osmótico e resposta inflamatória: p38/MAPK, induzido em meio hipertônico, e seu translocador osmosensitivo, NFAT5.
Mais interessante, o principal alvo de NFAT5, uma quinase modulada pela tonicidade celular, também foi induzido pelo sal. Denominado SGK1 (serum glucocorticoid kinase 1), essa molécula é altamente expressa em células T CD4+ e regulada por TGF-β.
Pronto! Alguns membros desse quebra-cabeça já haviam sido relevados, só bastava aos autores comprovar a relação entre eles. Através do bloqueio dessas moléculas-alvo e avaliação da diferenciação Th17, eles demontraram que o NaCl promove a diferenciação dessas células através da fosforilação de p38/MAPK que induz NFAT5 e a ativação de SGK1.
Faltava saber a relevância in vivo desses achados. No modelo protótipo da resposta Th17, a encefalomielite autoimune experimental (EAE), eles validaram os resultados observados in vitro. Animais submetidos a uma dieta rica em sal desenvolveram a doença de forma mais acelerada e exacerbada, com maiores números de células infiltrantes no sistema nervoso central. Células T CD4+ infiltrantes e produtoras de IL-17 quase dobraram após essa alimentação.
Para quem, assim como eu, tenha se interessado pelo assunto, vale a pena dar uma olhada no segundo trabalho que disseca ainda mais esse mecanismo. O NaCl promove a ativação de SGK1 que induz esse fenótipo nas células Th17 através do aumento de IL-23R.
Esses trabalhos revelaram informações valiosas a respeito de como os fatores ambientais podem interagir com os genéticos no desenvolvimento de doenças autoimunes mediadas pelas células Th17. Assunto bastante investigado na atualidade. A análise cuidadosa desses dados e a correlação com o que é observado na clínica poderão nos fornecer melhor compreensão da patogênese, além de novas intervenções terapêuticas para o tratamento de tais doenças.
Aproveitem a leitura!

Kalil Alves Lima
Doutorando do Laboratório de Inflamação e Dor- FMRP/USP

Referências

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Um comentário:

  1. muuuuito interessante. vou ler com certeza. estamos aqui preocupados com a diminuicao da glicose na differenciacao das celulas T CD4+... Brunno, leia!

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