Clima agradável à beira do mar mediterrâneo, palestras com os mais renomados Imunologistas mundiais, tempo livre para discussões cientificas descompromissadas. Esse foi o cenário da 5th international conference on gene regulation in lymphocyte development, que aconteceu em Creta, Grécia, de 9 a 14 de outubro de 2010. Foi muito agradável participar dessa conferência. Apesar do momento ser mais apropriado para comentários a respeito do ImunoTchê (que por sinal foi excelente) gostaria aqui de compartilhar um pouco com vocês alguns highlights que julguei interessantes.
Stephen Nutt do Walter and Eliza Hall institute of Medical Research, localizado em Victoria, Austrália, falou do papel do fator de transcrição PU.1 na hematopoiese, mais especificamente do seu efeito em células dendríticas (DCs) e B. Os trabalhos do grupo dele mostram que a deleção de PU.1 impede a diferenciação de DCs devido a esse fator de transcrição estar diretamente envolvido com a indução da expressão de FLT3, que é um receptor do tipo tirosina quinase, expresso em progenitores multipotentes. Camundongos sem FLT3 apresentam níveis reduzidos de DCs.
Já em células B, PU.1 é dispensável para o “B cell lineage commitment”, entretanto sua interação com IRF8 controla negativamente a diferenciação de células B para plasmócitos pela indução de Pax5, Bcl6 e pela ligação direta no promotor e não região 3’ do gene Blimp reprimindo sua expressão. O knockout para PU.1 e IRF8 apresenta altos níveis de plasmócitos, alta expressão de Blimp e um aumento no switching de isotipo de imunoglobulinas. Um pouco mais de informações podem ser acessadas no paper doi:10.1016/j.immuni.2010.05.005.
Amy Weimmann, da University of Washington, mostrou uma didática incrível, falando do controle epigenético na regulação da diferenciação celular. Falou sobre o papel de T-bet nas modificações epigenéticas de genes envolvidos no programa Th1. T-bet induz metilações na Histona 3 lisina 4 (H3K4, metilação que aumenta a acessibilidade da cromatina) e reduz metilações na histona 3 lisina 27(H3K27, metilação que restringe a acessibilidade da cromatina). Ao analisar que possíveis metilases e demetilases poderiam estar envolvidas, ela encontrou que a Brg1 (proteína parte de complexos SWI/SNF, que de forma ATP dependente atua no remodelamento da cromatina pelo recrutamento de proteínas modificadoras, como acetilases e metilases) atua desmetilando H3K27. Além disso, Brg1 interage com JmJd3 (uma proteína da subfamília Jumonji que regula a transcrição) atuando no remodelamento da cromatina de genes envolvidos no programa Th1. Mais informações nos trabalhos PMID: 20969596 ; PMID: 19384057.
Alexander Rudensky fez uma revisão geral sobre “Regulatory T cells and their functional program”. Basicamente dados já publicados, só reforçando a ideia que Tregs, mesmo em camundongos germ-free possuem atividade funcional inalterada, e que a sinalização por STAT3 via IL-10, assim como por IL-6, é importante para a supressão dependente de STAT3.
Axel Kallies, também do Walter and Eliza Hall institute of medical research, mostrou o papel de Blimp1 (gene tipicamente envolvido com a ontogenia de células B) e IRF4 na diferenciação e atividade funcional de Tregs. Ele mostrou que algumas Tregs expressam Blimp1 e que sem Blimp1 as Tregs não expressam IL-10. Blimp1 está envolvido na regulação de mediadores chave para a sobrevivência e distribuição nos tecidos (especialmente no pulmão) de Tregs.
Ele aumenta a expressão de CCR6, Bcl2, Ki67. Já IRF4 é necessário para a diferenciação de Tregs Blimp1+. IRF4 se liga diretamente nos genes de IL-10, CCR6 e Blimp1. IRF4 atua principalmente mediando a remoção de metilações supressoras da H3K27 no locus de IL-10.
Além desses, tivemos outras ótimas palestras sobre regulação gênica na ontogenia de T e B. Diante de todas as palestras, observei que epigenética está em alta agora.
Olhar só o que o Fator de transcrição ativa ou reprime não é mais suficiente. É preciso olhar como isso ocorre, e quais proteínas modificadoras da acessibilidade da cromatina podem estar envolvidas com esses fatores de transcrição. Além disso, observei que o uso de técnicas como imunopreciptação de cromatina, seguida de sequenciamento em larga escala (Chip-seq) se tornam cada vez mais comum. Essas abordagens permitem um olhar mais global de todos os genes alterados por um determinado fator de transcrição, não nos restringindo às limitações do microarray.
Com certeza, com a diminuição do custo das reações de sequenciamento High throughput, poderemos ter uma visão mais ampla do que está sendo controlado por cada fator de transcrição. O grande problema agora é desenvolver ferramentas para tornar a análise desse volume monstruoso de informações mais palatável para nós.
Daqui a 2 anos provavelmente haverá a sexta conferência em torno desse tema e recomendo a participação. Nos vemos na Grécia!!!
Por Hernandez Moura Silva
Doutorando
Laboratório de Imunologia
InCor - FMUSP
Instituto de Investigação em Imunologia – III
Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
Muito bom o post, uma vez que faz um resumo de vários trabalhos atuais. O que mais me chamou atenção foi sobre epigenética que realmente parece cada vez mais frequente. Acaba de sair na science um trabalho sobre o tema. "The Ligase PIAS1 Restricts Natural Regulatory T Cell Differentiation by Epigenetic Repression" Nesse elegante trabalho é demonstrado que PIAS (proteína inibitória do sinal de ativação) restringe a diferenciação de células T reguladoras naturais. O PIAS liga-se ao promotor do Foxp3 permitindo mudanças epigenéticas. Nos animais deficientes para PIAS foi elevado o número de células T reguladoras, o que promoveu a proteção no modelo de EAE. Vale a pena olhar.
ResponderExcluirOi Gk, obrigado pelo comentario. Realmente a epigenética deve ditar novos rumos na imunologia. Obrigado pela dica do paper. vou dar uma olhada.
ResponderExcluirabraços