Vendo o último post da Cris, lembrei de um artigo do Ruslan Medzhitov que saiu a alguns meses na Cell Host and Microbe, sobre um problema que sempre me interessou na imunologia – o aumento da suscetibilidade a infecções bacterianas que ocorre após a infecção por influenza. Um médico provavelmente nos diria que a virose causa imunossupressão, e que bactérias normalmente inofensivas se aproveitam desse estado imunosuprimido para colonizar áreas como garganta, ouvido ou pulmão.
Mas quais são os mecanismos dessa imunossupressão? A princípio, infecções virais deveriam ativar uma resposta inflamatória (interferons, etc) e não imunossupressora. Será que essa imunossupressão é patológica, causada pelo vírus? Ou será ela uma resposta reguladora do organismo, que controla a inflamação?
O trabalho de Medzhitov et al. defende a segunda hipótese. Nesse trabalho, eles mostram que o resultado da infecção sistêmica de camundongos com Listeria monocitogenes é de 100 a 10.000 vezes pior (em termos de no. de bactérias no baço e fígado) em animais infectados alguns dias antes com influenza. Ou seja, infecção prévia com influenza causa uma imunossupressão sistêmica (e não só local), que prejudica a capacidade do camundongo de lidar com a listéria. Essa imunossupressão se manifesta também na incapacidade do camundongo de produzir IL-6 e IFN-gama e de recrutar células inflamatórias para o fígado.
Até aí, tudo bem. O mais interessante é o mecanismo que leva a essa imunossupressão – o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. Aparentemente, a imunossupressão é mediada por glucocorticóides produzidos pelo organismo após a infeçcão viral. Tanto que, em camundongos adrenalectomizados, a imunossupressão desaparece e o número de bactérias nos órgãos é igual à de camundongos nao previamente infectados com influenza.
Mas por que teríamos evoluído um sistema que nos deixa à mercê de infecções secundárias? A razão parece ser que a resposta imune na ausência da glandula supra-renal é devastadora – apesar de serem resistentes à infecção secundária com listéria, quase todos os camundongos adrenalectomizados morrem entre 4 e 6 dias após a segunda infecção, vitimados por uma inflamação incontrolável e altos níveis séricos de TNF e IL-12.
Ou seja, o preço que se paga pela capacidade de controlar o sistema imune após uma infecção primária é a suscetibilidade a infecções secundárias.
E então, será que essa conta dá certo?
Muito bom, Gabriel! O Dr. Ruslan citou estes dados em sua palestra no congresso da SBI do ano passado, em Salvador. O que mais me impressiona sobre o trabalho dele é a simplicidade de raciocínio e a complexidade das conclusões...
ResponderExcluirRealmente ele é um dos grandes imunologistas de hoje, sem dúvida nenhuma. E grande amigo do Brasil também.
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