Figura
1. a). Mecanismo de atuação da IL-26 contra infecção por bactérias
extracelulares. b). Atuação da IL-26 no reconhecimento de DNA endógeno e
possível contribuição no desenvolvimento de doenças autoimunes.
É
bem caracterizado que as células Th17 desempenham importante papel no
desenvolvimento de doenças autoimunes. Entretanto, embora se saiba que esta
subpopulação tenha importante papel na resolução de infecções microbianas, nem
todos os mecanismos exercidos por estas células são caracterizados num contexto
de uma doença infecciosa. Sabe-se que, durante determinadas infecções fúngicas,
parasitárias e bacterianas, altos níveis de quimiocinas e IL-22 são produzidas
por estas células. Enquanto as primeiras atraem polimorfonucleares e células
fagocíticas que auxiliam na eliminação do patógeno, a última induz a produção
de peptídeos antimicrobianos por células epiteliais. Em trabalho realizado por
Meller e colaboradores, publicado em julho deste ano na revista Nature Immunology,
caracterizou-se mais um dos mecanismos
pelos quais as células Th17 atuam na eliminação de agentes infecciosos, via
produção de IL-26. Esta citocina, cujo papel é pouco caracterizado, até então
havia sido descrita como uma importante ativadora de vias de sinalização que
culminavam na ativação de ERK e JNK, bem como de AKT, com conseqüente
transcrição de genes moduladores da resposta imune. Este trabalho demonstrou
que a IL-26 atua de forma bastante peculiar para uma citocina convencional.
Observou-se que esta citocina apresenta características catiônicas e
anfipáticas e, quando em forma de multímeros, apresenta atividade microbicida,
ligando-se diretamente na parede celular tanto de bactérias extracelulares
gram-negativas quanto de gram-positivas, promovendo poros na superfície
bacteriana, de modo muito semelhante a peptídeos antimicrobianos classicamente
descritos, como beta defensinas e catelicidina. Após a liberação do DNA
bacteriano, a IL-26 tem a capacidade de se ligar a esse DNA formando partículas
insolúveis. Esses complexos são internalizados via heparansulfato por células
dendríticas plasmocitóides (pDCs) , e reconhecidos por TLR9 endossomal,
induzindo grande produção de IFN-α por essas células. Contudo, também foi
observado que, em um contexto de infecção e/ou inflamação, no qual ocorre lesão
tecidual e a possível exposição de material genético do hospedeiro, a IL-26
também apresenta a capacidade de ligação a esse DNA endógeno, fazendo com que
ele também seja reconhecido via TLR9 em pDCs, culminando igualmente na produção
de IFN-α. Esse último fenômeno pode atuar como contribuinte para o surgimento
de doenças autoimunes, visto que a IL-26 esteve aumentada em lesões de pele de
pacientes com psoríase em comparação à indivíduos saudáveis. Em suma, o
trabalho elucida o papel de IL-26 em processos inflamatórios/ infecciosos e
abre novas perspectivas para o estudo detalhado de sua estrutura e função.
Referências:
Meller,
S.; Di Domizio, J.; Voo, K. S. et al. TH17 cells promote microbial killing and innate immune sensing
of DNA via interleukin 26 (2015). Nature Immunology. doi:10.1038/ni.3211
Post por Taline Klein e Marcela Davoli (doutorandas FMRP-USP/IBA)
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