Os
adoçantes artificiais não calóricos (NAS) são um dos aditivos alimentares mais
utilizados em todo o mundo. Nos últimos tempos, estes NAS tomaram grande
popularidade devido ao seu baixo custo, baixo teor calórico e benefícios à
saúde em relação aos açúcares calóricos. No entanto, um estudo recentemente
publicado na revista Nature
mostrou resultados interessantes. O
trabalho demonstra que estes NAS são capazes de regular a composição da
microbiota intestinal em camundongos e seres humanos. No entanto, este processo
pode ser acompanhado de intolerância à glicose e aumento da susceptibilidade de
distúrbios metabólicos. Neste estudo foram utilizados camundongos que
consumiram habitualmente formulações comerciais de edulcorantes como a
sacarina, sucralose e aspartame adicionados na água e outro grupo de animais
que consumiram apenas água ou água na presença de açúcares convencionais, tais
como sacarose e glicose (grupo controle). Animais que consomem adoçantes
artificiais apresentaram níveis aumentados de açúcar no sangue e uma marcada intolerância
à glicose com respeito ao grupo controle. Alem disso os animais que beberam
água na presença de NAS apresentaram uma composição da microbiota intestinal alterada
em comparação ao grupo controle. O efeito de intolerância à glicose observada
nestes animais foi completamente abolido quando estes animais foram tratados
com antibióticos, o que mostra uma clara influência da microbiota nos efeitos
metabólicos nocivos observados nestes camundongos. Para confirmar a influência
da microbiota neste processo, os pesquisadores fizeram transplante de
microbiota fecal de camundongos que consumiram NAS habitualmente e do grupo
controle para animais ¨germ-free¨. Interessantemente,
observou-se que os animais que tinham recebido a microbiota de camundongos que
consumiram NAS apresentaram intolerância à glicose quando comparado ao grupo de
animais que recebeu o transplante proveniente do grupo controle. Finalmente,
para avaliar o efeito do NAS em humanos foi utilizado um grupo de 381
indivíduos não diabéticos, que geralmente consumiram NAS. Nesse sentido, descobriu-se
que havia uma forte correlação entre o consumo de NAS e parâmetros clínicos
associados à síndrome metabólica, como o aumento de peso corporal, altos níveis
de glicose no sangue, intolerância à glicose marcada e altos níveis de
hemoglobina glicosilada como indicativo de elevados níveis de glicose durante
muito tempo no sangue desses indivíduos. Também foi feita uma análise da
composição da microbiota fecal de 172 destes indivíduos sendo observada uma correlação
entre o consumo de NAS e um aumento de alguns filos de bactérias, tais como
enterobactérias, deltaproteobacteria e actinobactéria. Em conjunto, estes
resultados sugerem que o consumo regular de NAS pode promover disbiose
intestinal, que por sua vez leva a desordens metabólicas e o desenvolvimento
de doenças metabólicas como a diabetes do tipo 2. Nesse contexto, seria bom
refletir que estes NAS foram introduzidos em nossas dietas para controlar os
níveis de glicose no sangue e diminuir a ingestão calórica. No entanto, coincidência
ou não, observa-se que o inicio e popularização do consumo desses NAS na
sociedade moderna aconteceu em paralelo ao aumento da epidemia de obesidade e
diabetes. Desse modo, as entidades envolvidas com bem-estar nutricional da
sociedade devem rever alguns conceitos relacionados à ¨boa nutrição¨, porque
depois de ler este estudo vem à mente a dúvida: “os adoçantes artificiais não calóricas
são nossos amigos ou inimigos?
Post de Malena Martínez Pérez (mestranda do Laboratório
de Imunoparasitologia, FMRP/IBA).
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