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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Novas contribuições na imunologia na malária no início de 2014

Schematic representation of the proposed sequence of events occurring in the liver after Plasmodium infection do artigo Nature Medicine,  (2013). doi:10.1038/nm.3424.
A malária talvez seja a doença parasitária com maior financiamento à pesquisa, pelo que chama a atenção que dois artigos recentes no tema da imunologia desta enfermidade, em revistas de grande prestígio, salientem:
"There is a general consensus that the development of new intervention strategies is hampered by the current limited understanding of the biology of Plasmodium species and of the complex relationships that the parasite maintains with its hosts". (1)
"Additional control measures, including a vaccine, are sorely needed in these settings, but progress has been limited by our lack of understanding of immunologic correlates of exposure and protection." (2)
Ainda mais importante, assim, destacar os avanços demonstrados nestes artigos.

O artigo do grupo de Maria Mota (Host-cell sensors for Plasmodium activate innate immunity against liver-stage infection)1 demonstra, no modelo experimental murino de infecção pelo Plasmodium berghei, a indução de IFN Tipo I durante o estágio hepático, o qual se pensava silencioso para o sistema imune. O RNA do Plasmodium, que não era um PAMP (pathogen-associated molecular pattern) listado entre os indutores de resposta IFN tipo I, é capaz de estimular através do Mda5. Esta resposta iniciada pelas células residentes no fígado é propagada pelos hepatócitos com participação de receptores para IFN-a/b. Esta via de sinalização de IFN tipo I parece ser fundamental para a resistência ao estágio hepático contra o Plasmodium

No caso do artigo de Jagannathan e cols (IFNc/IL-10 Co-producing Cell” Dominate the CD4 Response to Malaria in Highly Exposed Children)2 eles caracterizaram, por citometria de fluxo multiparamétrica, a resposta dos linfócitos T Plasmodium-específicos em crianças de Uganda participantes de um estudo de coorte longitudinal. Por ser um estudo deste tipo, eles avaliaram a produção de IFN-g, TNF-a e IL-10 em relação à resposta passada e após a ocorrência de malária. A resposta CD4+ foi observada em todas as crianças, com a maioria delas exibindo linfócitos T CD4+ que produziam tanto IFN-g quanto IL-10 em resposta a hemácias infectadas por Plasmodium.  A frequência destas células co-produtoras de IFN-g e IL-10 foi maior nas crianças com mais de 2  ou mais episódios/ano (comparada com as crianças com menos de 2 episódios) e se correlacionou inversamente com a duração da malária. Um ponto importante é que feito o ajuste para incidência prévia de malária a frequência de linfócitos duplo produtores de IFNg e IL-10 não está associada com proteção. 
Um outro ponto importante se refere às células produtoras de TNF, que não se correlacionaram com proteção, mas a sua ausência está associada à infecção assintomática.  A elevada frequência de linfócitos T CD4+ co-produtores de IFN-g e de IL-10 é uma observação importante para futuros estudos.

A demonstração do papel da resposta mediada por IFN tipo I na etapa hepática da infecção é um dado novo na compreensão da resposta imune contra o Plasmodium e com amplas possibilidades de avançar novas abordagens de proteção contra malária. Já a observação da importância dos linfócitos T CD4+ produtores de IFN-g/IL-10, embora não tão inovadora, é também importante no quadro complexo da imuno-regulação da malária humana.

Avançamos, mas ainda temos um longo caminho pela frente.

1.  Nature Medicine,  (2013). doi:10.1038/nm.3424
 2. PLoS Pathog  (2014) doi:10.1371/journal.ppat.1003864

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Um comentário:

  1. Alterei o título deste post após alguns comentários no Facebook. O título inicial ("Quanto sabemos da imunologia na malária no início de 2014?") sugeria uma revisão abrangente.

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