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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A Mentira, A Ciência, A Heresia e O Nosso Futuro!

Miguel Soares (veja abaixo o seu respeitável bio-resumo de cientista) publicou, há pouco, artigo com o título deste post n'"O Público" de Portugal. Com a sua permissão, reproduzimos abaixo o texto do artigo.

"Em ciência não se pode mentir. É a base do método científico, o processo utilizado por um grupo de indivíduos eventualmente em risco de extinção no nosso país,  vulgarmente conhecidos como cientistas.
Como funciona o método cientifico? É simples: primeiro duvida-se de algo. Por desconforto ou por irreverência, não se acredita na explicação dada para justificar determinado fenómeno. É este ato inicial de “não aceitar” que cria uma primeira ruptura e faz com que se associe frequentemente os cientistas a uma certa forma de excentricidade. O cientista soma e segue tentado dar uma explicação alternativa, criando uma hipótese. O que é isso? É simples, o cientista argumenta as bases de uma explicação alternativa, materializando assim o seu confronto.
O que distingue o cientista do tolo é que este ato de irreverência e confronto tem de ser substanciada pelo conhecimento. Numa sociedade global do conhecimento, para não ser tolo, o cientista tem de ter um nível de conhecimento muito aprofundado. E aí surge um primeiro problema: esse nível de conhecimento só pode ser adquirido por um processo longo e árduo de aprendizagem que pressupõe a existência de um sistema de ensino de altíssima qualidade, a nível, básico, intermédio e avançado. Qual é o problema? Custa muito dinheiro, é caro!
Alguns argumentarão que não fará eventualmente grande sentido gastar tanto dinheiro (que custa tanto a ganhar) para sustentar um pequeno grupo de excêntricos, irreverentes, eventualmente tolos. Para não passar por tolo o cientista tem então de tentar provar a sua hipótese, e para tal é necessário realizar uma série de experiências, usando uma metodologia cientifica, em que os resultados obtidos terão de ser interpretados rigorosamente sem possibilidade de deturpação (a tal mentira). Para isso são necessárias estruturas muito complexas que permitam a participação de vários cientistas na realização de experiencias, formando assim equipas em centros de investigação. E aí surge um segundo problema: custa muito dinheiro, é caro!
Historicamente, este tipo de actividade, vulgarmente designada por ciência, não foi  suportado pelo Estado chegando mesmo a ser punida. Talvez o melhor exemplo seja dado pela Santa Inquisição, que queimava (vivos) os heréticos, os tais indivíduos com uma linha de pensamento contrária ou diferente do credo ou sistema vigente, que provavam cientificamente que a realidade não é (era) o que lhes era imposto. Felizmente as coisas entretanto mudaram. Os estados suportam a ciência e os cientistas não são considerados heréticos. Se assim não fosse Galileo Galilei teria sido queimado (vivo), o planeta Terra afinal não rodava a volta do Sol e, por isso, não haveria satélites de telecomunicação, nem computadores ou telemóveis como aqueles mais bonitos com uma maçã mordida pelo pecado, que geraram milhões de milhões de milhões em beneficio financeiro, económico, social e cultural para as empresas e os estados que suportaram a sua ciência.
Cabe agora a quem de direito, e em particular aos cientistas com poder de decisão politica em Portugal ter a coragem e a determinação de decidir se vale ou não a pena suportar generosamente a ciência do nosso país e se tal for o caso não mentir, demonstrando inequivocamente que o mesmo está a ser feito.
Miguel Soares, Cientista
mpsoares@igc.gulbenkian.pt"


For more information:
Lab web page:
http://www.igc.gulbenkian.pt/research/unit/43
CV: http://www.igc.gulbenkian.pt/groups/gi-m.soares/cv.pdf
Google scholar: http://scholar.google.com/citations?user=fZZu1ykAAAAJ 

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Um comentário:

  1. Perdão pelo anonimato, mas é necessário.
    Me entristece ver o blog da SBI publicar um texto desses simplesmente pela fama do autor. Sintomático da ciência atual, em que grandes nomes publicam em grandes revistas, independente da qualidade do conteúdo.
    Não vou comentar todo o texto, que é na totalidade de um mau gosto enorme, e absoluta falta de rigor de opinião cientifica.
    Vou me ater a apenas uma passagem: "Para não passar por tolo o cientista tem então de tentar provar a sua hipótese, e para tal é necessário realizar uma série de experiências, usando uma metodologia cientifica, em que os resultados obtidos terão de ser interpretados rigorosamente sem possibilidade de deturpação (a tal mentira)."
    Aparentemente Miguel Soares acha que a mentira na ciência esta na deturpação da interpretação de resultados. Não, Miguel, isso é corrigido pela revisão pelos seus pares. Todos podemos cometer erros, e interpretar de maneira equivocada. Quando isso acontece e os resultados são apresentados da maneira como eles são, o erro é corrigido na revisão. Talvez seja um pouco constrangedor, mas o rigor é garantido.
    A mentira aparece quando o cientista decide que ele precisa "provar a sua hipótese" para não passar por tolo. Achar que ter uma hiótese provada errada é passar por tolo é o que leva à mentira, ao charlatanismo cientifico. Na verdade o bom cientista tenta provar que sua hipótese esta errada, e não que ela esta certa. Os dois resultados são publicáveis. A diferença é que quando a hipótese esta correta o trabalho acaba na Nature Medicine. Quando esta errada acaba na Plos One. Por isso talvez os autores que publiquem apenas na Nature Medicine mereçam desconfiança. Afinal, quem você conhece que esta sempre certo?

    Outra receita para publicar sempre na Nature Medicine é trabalhar para provar que sua hipótese esta correta, e não o contrario. Não falha nunca. Encontrar experimentos que te provam com razão é relativamente fácil, e te garante alguns Nature Medicine. O problema é que o rigor fica pra titia.

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