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sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Guerra contra a ciência no Canadá (e no resto do mundo)

Todos devem ter lido ou ouvido falar dos cortes (shutdown) no governo americano no fim do último ano fiscal, entre setembro e outubro de 2013. Isso tem afetado não só os cientistas americanos como também os brasileiros pesquisando lá, com bolsa de governo americano ou brasileiro (CNPq, CAPES, FAPESP). E mesmo muitos brasileiros que estariam viajando entre setembro e janeiro, até o momento, tiveram que mudar seus planos.

            O video que divulgamos abaixo explica um pouco do que está acontecendo no mundo, não só nos EUA, no Brasil ou, especificamente, no Canadá, que é o foco do vídeo, em termos de financiamento para a ciência – e para os cientistas, também, é claro.

"O debate sobre o papel da ciência na política pública baseia-se muito na nossa visão de onde ela se insere na política de (...) mudanças climáticas e aonde o Canadá deveria ir. É uma área muito disputada. Mas não é toda a infraestrutura da ciência que está sob ataque ou até mesmo em debate hoje. Trata-se de uma pequena área política, em termos de tamanho absoluto de que o governo está envolvido (...)”.

"Uma perspectiva global nos ajudaria a entender como o Canadá caberia neste diálogo maior: A Ciência está mudando. A noção de Ciência como uma atividade individualizada de pequeno nível, liderada pela curiosidade está diminuindo, e não apenas no Canadá, mas globalmente. Assim, a Ciência em rede está cada vez mais inserida no que todos os governos estão a fim de financiar. Assim, vemos a mudança chegando, ao mesmo tempo em que as pessoas estão chateadas com projetos individuais em vários passos. Assim, aqueles que gostam dos modelos antigos estão muito chateados e, em muitos casos estão a perder o seu financiamento, porque são incapazes de se adaptar à necessidade de colaborar com pessoas em todo o Canadá e ao redor do mundo. Então, eu acho que é importante que tenhamos em mente que somos uma pequena parte do mundo. Nós jogamos bem em grandes áreas críticas, que produzem cerca de 5% dos cientistas mais citados de todo o mundo, mas representamos apenas 0,5% da população do mundo e apenas 2,5% de nós somos cientistas. Por isso, estamos investindo também. "

Se substituirmos a palavra Canadá por Brasil, teremos algumas surpresas (ou não). Não tenho dados pra dizer quantos cientistas temos entre os mais citados do mundo, mais creio que não ultrapasse 1%, com muita generosidade. Nós, brasileiros, representamos cerca de 2,7% da população mundial, 5,7 vezes maior que a população do Canadá. Mas como não tenho dados sobre a quantidade de cientistas no Brasil, é suficiente dizer que o Brasil tem um pesquisador em tempo integral pra cada 1000 pessoas ocupadas, enquanto nos EUA são 9,5 e na Coreia do Sul, 11 (Gazeta do Povo, 2013).
link http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1341710).
 

“The debate about the role of Science in public policy is very much predicated on one’s view of where climate change policy fits and where Canada should go. It’s a very hotly contested area. But it’s not the whole Science infrastructure that’s under attack or even under debate today. It is about a small policy area, in absolute size terms of what the government is involved in.”
“A global perspective would help us understand how Canada would fit in this larger dialogue: Science is changing. The notion of science being a curiosity-led small level individualized activity is diminishing, not just in Canada, but globally. So network science is increasing in what all governments are funding. So, we see change coming on at the same time as people are upset about individual projects in an ? steps. So those who like the old models are very upset and in many cases are losing their funding, because they’re unable to adapt to the need to collaborate with people across Canada and around the world. So I think it’s important that we keep in mind that we are a small part of the world. We’re big players in critical areas, we produce about 5% the toply cited scientists around the world, but we only represent only 0,5% of the world’s population and only 2,5% of us are scientists. So we are investing well.”

Texto extraído da conversa da Al Jazeera com o professor de Ciência Política e Políticas Públicas, Peter Phillips, da University of Saskatchewan, Canadá.

Detalhe: se observarem bem, a videoconferencia entre os 3 entrevistados foi feita via Skype. Precisamos usar mais este recurso científico.

#WarOnScience         
#StandUp4Science
#AJStream



Colaboração de Vítor Pordeus

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Um comentário:

  1. Primeiramente temos de analisar a base do problema no Canadá. O primeiro ministro canadense é um homem conhecidamente conservador e cristão fundamentalista chamado Stephen Harper. O motivo do bloqueio de fundos a pesquisa científica é devido a sua campanha de diminuição de políticas baseadas em evidencia, principalmente em relação a assuntos ambientais. Para isso, o governo de Harper quer 1) reduzir a capacidade do governo em adquirir dados básicos sobre o status do meio ambiente canadense; 2) encolher ou eliminar as agências de governo que monitoram e analisam essas evidências para responder a emergências; e 3) controlar os canais de comunicação canadenses para evitar vazamento de informaçõs consideradas “desnecessárias”. O último passo seria induzir o governo federal a uma cegueira científica total, limitando sua habilidade em ver e responder as suas próprias políticas, principalmente em relação a extração de recursos naturais. (http://www.thestar.com/opinion/commentary/2013/10/13/harpers_war_on_science_continues_with_a_vengeance.html)

    A diferença em relação ao Brasil é um outro extremo. Podemos iniciar a comparação educacional com a quantidade de ganhadores do prêmio Nobel. Dizer que o “Brasil tem um pesquisador em tempo integral pra cada 1000 pessoas ocupadas, enquanto nos EUA são 9,5 e na Coreia do Sul, 11” é uma falácia non sequitur. EUA e Coreia do Sul absorvem esses pesquisadores por meio de empresas de tecnologia (principalmente indústrias) e serviços, além da carreira acadêmica. No Brasil, a saída ao pesquisador é quase que exclusivamente o meio acadêmico, forçando-os a permenacer eternamente nas universidades (as quais, por mérito, pesquisam).

    No Brasil, a guerra contra a ciencia já começa desde o ensino básico, onde os alunos saem da escola sem ao menos terem um pensamento crítico em relação a si mesmos e ao que fazem. O sistema educacional brasileiro (que nem se compara ao sistema do hemisfério norte) forma técnicos e não cientistas. E é por meio da empreitada estatal do sistema de “universidades populares” (até onde pessoas mal preparadas ingressam e se formam) que o Brasil pretende aumentar sua viabilidade científica internacional. O grande problema é que esse sistema de “popularização da universidade” forma universitários com baixa capacitação, o que prejudica sua absorção pelas já ínfimas empresas e indústrias, repelindo-os ao meio acadêmico. (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2013/10/131004_mercado_trabalho_diplomas_ru.shtml)

    A “guerra contra a ciencia” no Canadá e no Brasil são pólos opostos. No Brasil temos um círculo vicioso de insuficiencia educacional (baixo para cima para baixo), enquanto no Canadá o problema é mais político (cima para baixo). Mas, fica a pergunta, a pesquisa feita atualmente no Brasil é relevante para a ciência mundial? Apesar de termos tantos pesquisadores, somos realmente relevantes? Será que a pesquisa brasileira é voltada mais para o desenvolvimento externo ou interno do país? Etc, etc, etc.

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