A participação de células do sistema
imunológico adaptativo nas respostas inatas é frequentemente demonstrada em
diversas pesquisas, o artigo de Inoue e colaboradores [1] fortalece o papel das
células T na modulação da resposta inflamatória.
Após uma agressão ao organismo (podendo ou não
apresentar um componente microbiano), ocorre uma reação inflamatória que envolve
dois eventos básicos: um vascular: caracterizado pelo aumento do fluxo sanguíneo
para a área de agressão, vasodilatação e aumento da permeabilidade e outro
celular, no qual as células como os neutrófilos são recrutados para a área de
lesão. A reposta inflamatória dessa forma depende inicialmente da produção de
mediadores pelas células residentes no tecido afetado, como macrófagos. A
citocina inflamatória TNF-α é um mediador crucial durante o desenvolvimento da
inflamação, atuando principalmente no endotélio e, em seguida, em neutrófilos,
onde favorece a expressão de moléculas de adesão, de receptores para
quimiotaxia; e a produção de mais mediadores inflamatórios, como IL-1β e PGE2.
A indução dos mediadores que iniciam e sustentam a resposta inflamatória ocorre
de maneira dependente do fator de transcrição NF-κB, ativado em resposta aos
estímulos identificados pelos receptores de reconhecimento de padrões, os PRRs,
que são, por sua vez, estimulados por moléculas que sinalizam a infecção ou
dano celular, conhecidos como PAMPs “Pathogen
Associated Molecular Patterns (ou MAMP, de
“Microbial-Associated Molecular Patterns”) e DAMP – “Danger-Associated
Molecular Patterns”, respectivamente. Concomitantemente, a ativação do NF-κB
induz também a produção de IL-10, uma citocina anti-inflamatória que permite
controlar a reposta inflamatória e seu potencial lesivo ao próprio organismo.
Assim, quando um microrganismo invade o corpo,
as células do sistema imunológico são recrutadas com a finalidade de combater o
agente infeccioso. Essas células são responsáveis por liberar citocinas
pró-inflamatórias e, dessa forma, sua atividade deve ser regulada para evitar
que uma grande quantidade de citocinas pró-inflamatórias seja produzida
sistemicamente e desenvolvam uma hiperinflamação como ocorre durante a
endotoxemia.
A endotoxemia ocorre quando níveis elevados de
LPS, um componente da parede celular de bactérias gram-negativas e ligante
clássico dos receptores semelhantes à Toll 4 (TLR4), atingem a circulação. Neste
contexto, assim como na sepse, a produção de IL-10 garante mais que a redução
dos danos de uma resposta inflamatória sistêmica – ela é essencial à
sobrevivência do organismo. Por este motivo, diversas vias intracelulares
controlam as etapas que levam à produção de TNF-α nos macrófagos do baço,
células que são fonte de grande parte do TNF-α que é produzido em resposta ao
LPS circulante. A ativação destas vias de modulação depende da presença de
células do sistema imunológico adaptativo e, mais especificamente, das
interações físicas entre células T CD4 virgens e macrófagos no baço via
moléculas CD40L/CD40.
O mais intrigante é que este aumento na
produção de IL-10 pelos macrófagos (induzido em parte pela ativação de CD40)
parece não estar relacionado à modulação da atividade do NF-κB e dependente da
ativação simultânea do receptor TLR-4. Isso porque, para que o fator IRAK1 (responsável
pelo aumento observado na produção de IL-10) se ligue ao sítio promotor do gene
da IL-10 e possa atuar como fator de transcrição é necessário que ele pegue uma
“carona”. Como IRAK1 não contém sinais de localização nuclear, sua translocação
para o núcleo ocorre após ligar-se ao fator IRF5, ativado de maneira simultânea
ao NF-κB em resposta ao estímulo por LPS. Para que IRAK1 apresente afinidade e
se ligue ao fator IRF5, a sinalização por CD40 ativa proteínas TRAF2 que são
independentes da sinalização por TLR4, o que justifica a ausência dessa
resposta quando o contato direto entre células TCD4 e macrófagos é inibido. Então,
a translocação de IRAK1 para o núcleo depende da interação forte com IRF5. Esta
associação ocorre graças à força das proteínas SUMO. A ativação de TRAF2, tendo
a iOPN (“intracellular osteopontin”) como molécula adaptadora, favorece a
adição das proteínas SUMO (“SUMOylation”) ao IRAK1, uma modificação que, ao
permitir a ligação entre IRAK1 (induzida pela sinalização via CD40) e IRF5
(ativada pela sinalização via TLR4), favorece a transcrição de IL-10. Por fim, a
produção aumentada de IL-10 atua de maneira autócrina nos macrófagos e permite
que a estabilidade do RNA mensageiro de TNF-α seja altamente reduzida. Dessa
forma, a sobrevida dos organismos contra entodoxemia ocorre de modo dependente
das células TCD4 virgens e, claro, à força do SUMO (Figura 1).
Referência Bibliográfica:
[1] Makoto Inoue, Tomohiro Arikawa,
Yu-Hsun Chen, Yasuhiro Moriwaki, Michael Price, Michael Brown, John R. Perfect,
and Mari L. Shinohara. T cells down-regulate macrophage TNF production by
IRAK1-mediated IL-10 expression and control innate hyperinflammation. Proc Natl
Acad Sci USA, 2014 Apr 8;111(14):5295-300. doi: 10.1073/pnas.
Felipe Almeida Pinho-Ribeiro e Juliano Yasuo Oda
(Programa de Pós-Graduação em Patologia Experimental - UEL-PR)
Mais uma vez "minha IL-10 dando show" ...
ResponderExcluir