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terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Vetor da dengue, zika, chykungunya e febre amarela: Aedes aegypti - fatos curiosos

Reproduzo aqui entrevista do colega biomédico Jhonathan Rocha, Primeiro Secretário na Associação dos Biomédicos do Estado de Goiás (ABEGO) e Professor na Pontifícia Universidade Católica de Goiás, publicado no blog Boa Vida (aqui) da jornalista Aurélia Gulherme, sobre o Aedes aegypti, um assunto de relevância para todos nós, biomédicos, imunologistas e outros profissionais, de saúde ou não saúde, além de leigos.

Sinal vermelho para Goiás. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, nosso Estado foi o que registrou a maior incidência de casos de Dengue, a cada 100 mil habitantes. Infelizmente, índices como esse, já eram esperados, afinal, 80% dos focos do Aedes aegypti são encontrados nas residências. Além da dengue, o mosquito também pode transmitir a Chikungunya, a Febre Amarela e o Zika Vírus, doença suspeita de ter relação com o surto de microcefalia. Apesar de toda mobilização contra o mosquito, existem muitas informações curiosas sobre o Aedes Aegypti. Três perguntas sobre o famigerado inseto para o Biomédico, Jhonathan Rocha, CRBM/3 4833:
Jhonathan Rocha
Jhonathan Rocha, Biomédico, Professor da Escola de Ciências Médicas, Farmacêuticas e Biomédicas 
da PUC Goiás e Mestre em Biologia da Relação Parasito-Hospedeiro (IPTSP/UFG), CRBM/3 4833.

Boa Vida – Quanto tempo vive o mosquito Aedes aegypti?
Jhonathan Rocha – A fêmea do Aedes aegypti vive cerca de 30 a 45 dias. Para um inseto, é um tempo de vida relativamente longo. Nesse período, caso torne-se infectada (sugando o sangue de alguém doente) e infectiva (mantendo e multiplicando os micro-organismos (vírus) em seu interior), podem potencialmente infectar um incontável número de pessoas. É importante lembrar que nem todos os mosquitos irão se infectar, pois para isso é necessário haver indivíduos doentes nas proximidades. Na prática, um percentual muito pequeno de Aedes aegypti está infectado com o vírus da dengue, por exemplo. Em primeiro lugar porque nem todas as fêmeas picam uma pessoa infectada; em segundo lugar, porque nem todos os mosquitos que picam alguém com o vírus conseguem sobreviver até o momento em que se tornam infectivos e possam, então, começar a transmitir a doença.
Boa Vida – Por que apenas as fêmeas picam as pessoas e qual o horário de atuação do mosquito?
Jhonathan Rocha – Tanto o macho quanto a fêmea possuem sua base alimentar em substâncias que contêm açúcar, como o néctar.  Como o macho não produz ovos, ele não necessita do suplemento sanguíneo, uma vez que a fêmea precisa de sangue para que a maturação dos ovos no ovário aconteça adequadamente, mais especificamente da proteína albumina, principal proteína presente no sangue humano. Assim, diz-se que são mosquitos hematófagos, ou seja, que se alimentam de sangue. Embora possam se alimentar de sangue antes da cópula, as fêmeas tendem a intensificar a hematofagia após a fecundação. O Aedes aegypti tem hábitos matutino e diurno, assim, as primeiras horas da manhã e as últimas da tarde são as horas de maior atividade dos mosquitos. Entretanto, mesmo em outros horários, eles podem atacar à sombra, dentro ou fora de casa.

Boa Vida – Por que os idosos são os mais susceptíveis às complicações?
Jhonathan Rocha – Todas as doenças infectoparasitárias apresentam-se com certa particularidade no que se refere à agressividade dos sintomas nos pacientes geriátricos. Isso se deve, antes de tudo, à relação parasito-hospedeiro que é estabelecida, visto que, muitas vezes, a fragilidade orgânica e do sistema imune nos pacientes deste grupo tendem a favorecer a instalação da doença. Em relação às doenças em que o Aedes aegypti atua como vetor, até o momento, têm-se descrito mais detalhes sobre a Dengue, onde, segundo o Ministério da Saúde, pessoas acima dos 60 anos apresentam uma probabilidade cerca de 12 vezes maior do que outra faixa etária, de morrer por causa da doença. Assim, a desidratação e o quadro de astenia (fraqueza geral) são considerados importantes fatores que dão suporte a outras morbidades e complicações.
Boa Vida – É verdade que o Aedes aegypti não consegue voar em alturas maiores do que 1,5 metro e também não é capaz de fazer voos mais longos que cerca de 200 metros?
Jhonathan Rocha – Sim. A literatura relata que estes mosquitos, assim como a maioria, não conseguem ganhar grandes alturas no vôo. Com relação à distância, existem algumas contradições, mas acredita-se que não consigam também ultrapassar a faixa de 1 ou 2 km em seu deslocamento. É válido ressaltar que, mesmo indivíduos que residem em altos andares devem ter a preocupação em eliminar os criadouros do mosquito, pois, mesmo não alcançando grandes alturas, podem ser levados por outras vias.
Boa Vida – Quantos ovos uma fêmea bota por vez e durante quanto tempo as larvas do Aedes aegypti conseguem sobreviver sem contato com a água? Além de esvaziar, é preciso limpar os recipientes?
Jhonathan Rocha – Estudos apontam que até 100 ovos podem ser eliminados de uma só vez pela fêmea do mosquito. Um ovo pode ser viável por até um ano sem eclodir, daí a importância da
eliminação dos criadouros, que além da remoção da água parada deve contar também com a limpeza dos recipientes com instrumentos rígidos, como, por exemplo, escovas e palhas de aço, pois isso garantirá que os ovos não permanecerão grudados nas paredes dos recipientes.

Boa Vida – Apenas humanos são infectados com o vírus?
Jhonathan Rocha  – Alguns primatas também podem funcionar como hospedeiros, mas as manifestações clínicas são descritas apenas nos humanos. É importante lembrar também que o Aedes aegypti é um mosquito antropofílico, ou seja, vive perto do homem e apresenta como característica ecológica uma boa adaptação ao ambiente urbano e doméstico.

Boa Vida – Repelentes e aparelhos repelentes são eficazes no combate?
Jhonathan Rocha – Sim. Os repelentes e aparelhos repelentes possuem em sua composição substâncias químicas que tendem a afastar os mosquitos. Entretanto, é importante reforçar que estes itens devem ser utilizados com moderação, principalmente os repelentes de uso tópico, uma vez que, não raro, são observadas reações alérgicas e até tóxicas, principalmente em crianças, quando aplicados em regiões anatômicas que podem ser levadas à boca. Outra preocupação recente é com relação ao uso de alguns repelentes por gestantes, como possíveis causadores de má formação fetal, porém, até o momento não foram observados problemas na avaliação realizada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
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Aurélia Guilherme
Por Aurélia Guilherme
Jornalista

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