Figura 1-
RNAs longos não-codificadores (LncRNAs). (A) Visão geral de propriedades
desempenhadas por LncRNA. Entre outras funções, LncRNAs podem atuar como
andaimes para a formação de complexos RNA-proteína e podem ligar-se em sítios
específicos da cromatina (Duncan Ayers, 2013).
(B) Modelo representado por Huang e colaboradores, no qual DDX5-Rmrp é recrutado para regiões da cromatina ocupadas por RORγt, formando-se o complexo Rmrp-DDX5- RORγt, que é fundamental para a programação gênica Th17.
Nos últimos
anos, com o advento de novas tecnologias de sequenciamento e análise da
expressão gênica, milhares de LncRNAs (RNAs longos não codificadores) têm sido
identificados em diversos subtipos celulares, bem como em diferentes espécies
de seres vivos. Embora já se tenha documentado que LncRNAs estão envolvidos com
diversos processos biológicos, e até mesmo com a regulação das respostas
imunológicas inata e adaptativa, as performances moleculares realizadas por
tais RNAs não codificantes ainda permanecem um grande mistério.
Em estudo
publicado na Nature pelo grupo de Dan R. Littman, em dezembro do último ano, tem-se
demonstrado mecanisticamente como um LncRNA pode atuar em conjunto com “fatores
de transcrição máster” a fim de promover a expressão de genes específicos de um
subtipo celular. No caso deste artigo, portanto, os autores tiveram como
objetivo a identificação de moléculas acessórias/parceiras de RORγt em células
Th17.
RORγt é um
fator de transcrição (TF) responsável por diversas funções, as quais variam de
subtipo para subtipo celular. Em células T, este TF é responsável por fazer com
que células TCD4+ assumam todas as características de uma célula Th17,
majoritariamente caracterizada pela produção das interleucinas IL-17A, IL-17F e
IL-22, bem como a expressão de IL-23R, IL-1R1 e CCR6. Tal subtipo celular, além
de atuar na proteção de barreiras epiteliais contra infecções bacterianas e
fúngicas, também está relacionado com múltiplas doenças autoimunes.
Com a
diferenciação in vitro de células
Th17 e posterior imunoprecipitação de RORγt, o grupo evidenciou, com o uso de
espectrometria de massa, a RNA helicase DDX5 como a molécula que essencialmente
interage com RORγt em células Th17. Com o uso de células TCD4+ deficientes de
DDX5 (Ddx5fl/flCD4-Cre mice),
foi verificado que esta molécula é dispensável para o comprometimento de
células T naïve para com a linhagem Th17, mas é fundamental para a execução de
suas funções efetoras, evidenciada pela reduzida produção de IL-17A quando
comparadas à células T selvagens. In vivo,
foi verificado que a deficiência de DDX5 em células TCD4+ reduziu a severidade
de colite e esclerose múltipla, doenças inflamatórias decorrentes da exacerbada
produção de IL-17 por células T.
Dentre os
domínios de DDX5 responsáveis pela indução de genes relacionados com o perfil
Th17, o grupo evidenciou que seu domínio RNA-helicase é crítico para a produção
de IL-17. Ou seja, a interação de DDX5 com algum RNA no núcleo é fundamental
para a atividade transcricional ótima de RORγt. Deste modo, o sequenciamento de
RNAs que encontravam-se associados a DDX5 e RORγt resultou no LncRNA Rmrp que, quando transitoriamente
silenciado, ou até mesmo mutado pontualmente, atenuou consideravelmente a
produção de IL-17A. Por fim, o grupo demonstrou que Rmrp é fundamental para a montagem do complexo Rmrp-DDX5- RORγt
que, por sua vez, permite a interação do complexo com loci específicos no DNA,
coordenando toda a programação genética de células T para o subtipo Th17.
Os autores
sugerem que a regulação do complexo Rmrp-DDX5-RORγt
representa uma maneira específica de modular circuitos transcricionais de
células Th17 patogênicas, e concluem que um melhor entendimento deste “sistema
regulatório transcricional” e a identificação de novos parceiros de RORγt proverá novas abordagens terapêuticas para o tratamento de doenças
autoimunes e imunodeficiências.
Referencias
W. Huang et al.,
DDX5 and its associated lncRNA Rmrp modulate
TH17 cell effector functions.Nature 528,
517–522 (2015).
A. Duncan. Long Non-Coding RNAs: Novel Emergent
Biomarkers for Cancer Diagnostics. Journal of
Cancer Research and Treatment 1, no.
2 (2013): 31-35.
Post de Mikhael
Haruo Fernandes de Lima, doutorando do FMRP/IBA-USP.
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