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sábado, 13 de dezembro de 2014

Praga da ciência brasileira? Artigos de segunda?

Caríssimos, bom dia!

O documento abaixo foi enviado esta semana ao Editor da revista Veja, esclarecendo que o texto foi elaborado e discutido pelos coordenadores das 48 áreas de avaliação da Capes, reunidos nesta semana na sede da Capes em Brasília para participarem da 156a. Reunião do Conselho Técnico-Científico do Ensino Superior desta agência para análise do mérito de cinco centenas de propostas de cursos de Mestrado e Doutorado de todo país.
O envio deste documento ao Editor de Veja teve a finalidade de mostrar aos leitores o quão equivocado foi o teor daquela matéria veiculada, e, principalmente, defender todos aqueles pesquisadores que estão plenamente envolvidos com as atividades de formação de Mestres e Doutores, recursos humanos da mais alta qualificação, que é aquilo que o nosso país necessita, indubitavelmente. Este documento procurou também defender todo o processo de avaliação dos programas de pós-graduação conduzido pela Capes, o qual é reconhecidamente uma referência para muitos países, inclusive para aqueles localizados acima da linha do Equador.
Abraços,
José Roberto Mineo

"A  matéria publicada em Veja edição de 10 de dezembro de 2014 intitulado “Artigos de segunda” divulga na sociedade visão parcial e simplista sobre tema que diz respeito à qualidade da Ciência brasileira, e portanto, afeta a todos os pesquisadores e a todos os docentes no sistema nacional de pós-graduação. O tema abordado é importante e, como tal merece ser discutido com a profundidade necessária, por  expressar múltiplas facetas. Há aspectos positivos quando aponta o avanço  da Ciência Brasileira em número de publicações e o desafio para  aumento do nível de impacto das publicações científicas. Mas a questão do aumento do número de revistas merece aprofundamentos. Com o aumento do número de cientistas do mundo, as dificuldades de se publicar boa ciência nas chamadas “revistas de ponta” passou a ser progressivamente maior. Nos anos 1990, foram criadas as revistas de acesso aberto e gratuito , propiciando maior visibilidade a artigos científicos de qualidade produzidos pela massa crescente de pesquisadores. As boas revistas científicas abertas possuem corpo editorial sério e passam pelo processo de revisão por pares. Algumas das melhores revistas científicas do mundo são abertas. Evidentemente, com as facilidades da editoração eletrônica, há revistas abertas de má qualidade, com política editorial pouco seletiva, aliás como também acontece nas revistas “fechadas”. Estamos seguros de que o aumento das publicações “open access” no Brasil traduz predominantemente o desejo de tornar mais visível as publicações de centros de pesquisa e sociedades científicas nacionais, as quais tinham pouca visibilidade pela circulação reduzida do meio impresso e, também, por publicarem predominantemente em português.

Passemos agora à questão do Qualis, o sistema de qualificação das revistas utilizada para avaliar programas de pós-graduação e não para avaliar pesquisadores individuais, e que foi inadequadamente mesclado à discussão sobre “artigos de segunda em revistas de segunda”. O Qualis é revisto periodicamente e de forma  especifica por cada uma das 48 áreas que compõem o sistema de pós-graduação brasileiro, na amplitude de seus mais de 3500 Programas de Mestrado e Doutorado. É considerado um enorme avanço e instrumento essencial para a implementação transparente do acompanhamento e da avaliação dos Programas de pós-graduação. Isso significa que um mesmo periódico pode ter diversas avaliações em diferentes áreas da pós-graduação, a depender do seu interesse para a área do conhecimento ou mesmo no sentido de fortalecer alguns periódicos nacionais. É importante frisar que todas as revistas abertas exigem um pagamento por publicação, que oscila entre dezenas ou centenas de dólares. Em um cenário onde o Qualis classifica algo próximo a trinta mil periódicos, é quase certo que alguns erros de avaliação ocorrerão. Felizmente, devido ao processo de contínuas revisões do Qualis, distorções, quando detectadas, são corrigidas, como aconteceu por ocasião da avaliação trienal de 2012, onde 66 periódicos científicos foram descredenciados do Qualis por problemas semelhantes aos descritos na matéria de Veja. Resumindo, todos os pesquisadores que elaboram o Qualis não são desconhecedores dos problemas existentes na área das revistas científicas e informamos que o Qualis será mais uma vez revisto no início de 2015.

Voltemos ao ponto da publicação nas revistas de ponta, tendo como pano de fundo que o Qualis é destinado à avaliação de programas de pós-graduação. Neste sistema o produto final é a formação de um mestre ou um doutor. Em todo o mundo, ter os resultados de uma dissertação de mestrado ou de uma tese de doutorado publicados na Nature ou Science é a grande exceção. No entanto, uma das competências e habilidades a serem desenvolvidas pelos nossos pós-graduandos é a escrita dos seus resultados em inglês, no periódico de maior impacto possível. Portanto, o Qualis não mede a produção do cientista, mas sim representa uma ferramenta para avaliar a capacidade dos programas de pós graduação formarem alunos com competência de apresentar os seus resultados em escala internacional, desde que sejam relevantes e que, ao estarem disponíveis a toda a comunidade científica, podem ser amplamente compartilhados. Por exemplo, alguns bons trabalhos científicos abordam temas de interesse maior para algumas regiões do mundo, as quais estão fora do eixo dominantes norte americano/ europeu e, que podem ser recusados pelas grandes revistas, que trazem uma perspectiva de análise até certo ponto influenciada pela latitude de suas editorias. Tomando o exemplo da matéria publicada, o tema da importância das picadas por animais peçonhentos como tema de Saúde Pública tem pouco apelo para países europeus e norte-americanos, mas claramente afetas outras partes importantes de nosso planeta. Portanto há boa ciência nas revistas de menor impacto e, portanto, ter bons cientistas publicando com os seus alunos em revistas de menor impacto faz parte da rotina de qualquer pesquisador sério de nosso País envolvido na formação de pós-graduandos. Consideramos, portanto, que é um erro nomear como beneficiários das facilidades de publicação em revistas menos restritivas, cientistas sérios e competentes, que, ao longo de suas vidas, mostraram-se capazes de realizar boa ciência e publicar nas melhores revistas. Em resumo, o tema é importante e complexo e, esperamos com o presente texto contribuir para mostrar ao leitor de Veja alguns contrapontos à matéria em tela."

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