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domingo, 19 de janeiro de 2014

Imunologia, evolução e ecologia



               

             Como biólogo, já parei para pensar várias vezes em como as moléculas do sistema imunológico, a relação com os parasitos ou colonizadores do organismo, teriam evoluído. A grosso modo, sob a óptica da teoria evolutiva, praticamente tudo pode ser explicado pela pressão seletiva do meio (agentes bióticos, abióticos) sobre caracteres (e aqui, entenda-se moléculas, receptores, citocinas, etc) que, ao conferir maior valor adaptativo, torna maior a possibilidade de sucesso reprodutivo, de forma que os genes relacionados a determinado caractere se distribuam na população ao longo de muitas gerações e a nova característica se estabeleça. Nesse contexto diferentes abordagens de estudo se encaixam bem, como a Ecoimunologia, sendo tal área bem pouco explorada no Brasil. Em suma, ela se preocupa em descrever e explicar o efeito das variações naturais nas funções imunes, mais especificamente, a relação entre fatores bióticos e abióticos na modulação da imunidade em organismos de vida livre. 
            Recentemente, assisti a uma palestra cuja abordagem tinha um viés eco/evolutivo/imunológico bastante interessante. Em suma, o estudo apresentado discorria sobre a relação entre o sistema endócrino, imunossupressão e reprodução em populações naturais. Partia da ideia de que nos vertebrados, durante o processo de reprodução os machos apresentam displays sexuais (coloração de plumagem, pelos, vocalizações) relacionados à atração da parceira reprodutiva. Assim, aqueles indivíduos cujo display sexual fosse mais desenvolvido, teriam maiores chances de se reproduzir e assim, transmitir seus genes para novas gerações. No entanto, se apenas poucos indivíduos que apresentarem os displays mais avantajados fossem capazes de gerar descendência, com o tempo e após gerações, a população tenderia a ter uma homogeneidade genética, o que como é sabido, não é vantajoso na manutenção das espécies. Nesse sentido é que entra a beleza da ideia exposta a seguir. Nos machos o desenvolvimento do display sexual está relacionado ao aumento de níveis hormonais, o que leva a uma supressão do sistema imunológico. Essa imunossupressão é acompanhada por aumentos nas taxas de parasitos, o que acarreta no comprometimento de funções fisiológicas. Assim, essa interação entre o sistema imune e a variação hormonal estaria regulando, de certa forma, a variabilidade genética dentro das populações. Portanto, o macho deve apresentar associado ao display sexual uma imuno competência que estaria então relacionada ao sucesso reprodutivo. Não entrarei em detalhes a respeito dos dados apresentados, uma vez que são resultados ainda não publicados. É importante ressaltar que não apenas o período de reprodução altera as taxas hormonais, mas também as condições ambientais a que os organismos estão expostos.
            Nesse sentido, acredito que a imunologia teria muito a contribuir com questões básicas relacionadas à evolução, ambiente e reprodução, bem como com questões relacionadas a própria conservação de espécies. Projetos já estão sendo feitos associando variações ambientais (como mudanças climáticas) à modulação do sistema imunológico em populações naturais.
        

Post de Murilo Solano (mestrado - FMRP-USP/IBA)

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