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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Everything you always wanted to know about Scientific Publishing * But were afraid to ask.


A vida dá voltas. Esta semana faz um mês que deixei a bancada e os experimentos para trás e iniciei uma nova jornada.  Meu ambiente de trabalho é agora um escritório. Meu ofício requer somente um computador, um telefone e uma paciência imensa para lidar com egos, frustrações, concorrência e conflitos.  Vida de editor (ao contrário do que as pessoas imaginam) não é fácil.

Enquanto cientista, eu (e todo mundo que eu conheço e com quem já trabalhei) tinha meus preconceitos com editores e o mercado editorial em geral. Especialmente nas grandes revistas, onde a concorrência para publicação é enorme e o índice de aceitação de artigos é muito baixo.  Compreensível. O editor está linha de frente. É ele quem redige e envia as temidas cartas de rejeição. Obviamente, ninguém gosta de ter seu trabalho rejeitado. Logo, o editor leva a fama de mau.

Benjamin Lewin, fundador da Cell (que depois se tornou Cell Press) era amado pela comunidade científica e idolatrado como modelo do editor que em primeiro lugar é um excepcional cientista. Reza a lenda que Ben Lewin nunca rejeitou um paper sequer. O resto da equipe mandava as cartas de rejeição e ele (e somente ele) mandava as cartas de aceite. Muito esperto.

Ben Lewin 

A Cell (e demais revistas da Cell Press) segue ainda hoje o modelo estabelecido por Ben Lewin, que é ter uma equipe de editores que em primeiro lugar é formada por ótimos cientistas. Em segundo lugar, que é multidisciplinar. E por último (e mais importante), que toma decisões editoriais em equipe, o que a meu ver é um modelo mais justo e equilibrado, se comparado a outras revistas onde um único editor é responsável por uma área inteira do conhecimento.

É interessante também observar como muitos dos preconceitos em relação à publicação editorial não tem fundamento.  Comentários como: ‘meu paper foi rejeitado e nem sequer foi lido’ ou ‘não tenho a menor chance de publicar na Cell porque sou de um laboratório que não é famoso’ ou aquela história de que ‘fulano ou sicrano ligou para editor e tudo foi resolvido’.

Em 1 mês, acredite, já rejeitei muitos papers. Todos foram lidos (inclusive os que não tem potencial para ser aceitos nem na revista do Cebolinha). Com uma média de 15-20 novos artigos submetidos todos os dias, nunca vi ninguém tomar uma decisão editorial baseada no fato de que o artigo veio deste ou daquele laboratório. E sim, é verdade que o fulano e o sicrano muitas vezes querem falar diretamente com o corpo editorial. Longe de ser um problema, isso é encarado como algo normal a ser estimulado. É importante que haja um canal aberto entre editores e autores – não importa de onde eles sejam. Esse é um hábito que ainda não existe no Brasil. É importante que os editores de revistas relevantes estejam antenados e informados a respeito do que está acontecendo de interessante no país. Que frequentem os congressos nacionais e internacionais que estão acontecendo por aí. É importante que os editores saibam de onde a produção científica brasileira de qualidade está vindo.

Um editor empolgado com o seu paper vai fazer tudo que estiver ao alcance dele/dela para ver aquele trabalho publicado. Só não se esqueça que o editor é um mediador. Embora ele seja responsável pela decisão final, ele levará em consideração a opinião dos especialistas na área – os revisores. Aí é que o negócio fica mais complicado. Cientistas são seres humanos e portanto nem sempre isentos no julgamento do trabalho alheio. Nessas horas, o papel do editor é ainda mais fundamental, ao determinar o que é uma solicitação razoável, o que é um comentário justo, o que é um julgamento que no fundo tem outras intenções. Não é tarefa simples.


Joao Monteiro
Editor Científico 
Cell


PS: Nos próximos posts, vou escrever um pouquinho a respeito de diversos aspectos do mercado editorial, como escrever uma ‘Cover letter’, como ler uma carta de rejeição, a importância do ‘abstract’, ‘Open Access’ e os diversos modelos editoriais, ‘Peer-review’, etc.  Check it out!

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4 comentários:

  1. Parabéns João pelo post... gostei bastante.. e fiquei ainda mais curiosa sobre os próximos !! Abraço Josi

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  2. Parabéns João pelo post... gostei bastante.. e fiquei ainda mais curiosa sobre os próximos !! Abraço Josi

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  3. ótimo post, é bom saber a visão de quem está do outro lado! também intrigante saber o que se passa pela cabeça de um editor, aguardando novos posts!

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    1. Muito bom!!!! E estou curiosa para saber sobre os próximos posts.

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