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quarta-feira, 7 de abril de 2010

Controle insensato?

Participei recentemente do WIRM (World Immunoregulatory Meeting), em Davos. As palestras, ministradas por excelentes imunologistas, quase sempre começavam e/ou terminavam com citações próprias nas revistas de maior impacto da área. Não podia ser diferente.
Em outubro de 2008, no Congresso de Imunologia realizado em Ribeirão Preto, discutimos e apontamos as razões pelas quais nós brasileiros publicamos pouco em revistas de alto impacto. Dessa discussão nasceu a Carta de Ribeirão (vide sítio da SBI), encaminhada às principais agências de fomentos do País. Os resultados sobre esse assunto ainda não são aparentes.
Quais os gargalos que nos impedem publicar como eles e como poderiam ser sanados? A opinião de diversos pesquisadores está na carta de Ribeirão. Na área de Imunologia, um aspecto importante, e diferente dos pesquisadores da Europa e EUA, é que não temos acesso a uma infinidade de animais geneticamente modificados. Nem mesmo bons biotérios temos no país. Em minha opinião temos que sanar 3 problemas:
1. Biotério. Temos que sensibilizar as agências de fomento a investirem em bons biotérios. Temos criadouros de camundongos e ratos, mas os de melhor qualidade, com animais certificados, mal atendem às unidades as quais pertencem. Nesse caso, a desculpa é que nos falta gestão. Estão controlando a verba pública.
2. Importação. Esse é um problema crônico, ainda mais quando se trata de importar animais. Diferente de outros países, a importação de animais para o Brasil é morosa e difícil, quando não nos é negada. A CTNBio impõe uma série de dificuldades e os animais têm que ter vistos que expiram em dias. Bastaria autorizar importação de animais de biotérios reconhecidos para locais que também tenham certificação aqui no Brasil. Qual a razão desse controle absurdo da entrada de animais no País?
3. Tecnologia de geração de animais geneticamente modificados. Já temos no País pesquisadores que dominam tal tecnologia, mas precisamos mais incentivo na área. A geração de tais animais deve ser seguida da criação dos mesmos em biotérios certificados, com possibilidade de fornecer matrizes a todos os interessados. Temos que investir nessa área.
Os que se interessarem pelo assunto e concordarem com as observações acima (ou até os que tiverem outras idéias), por favor, manifestem-se. A idéia é enviar uma carta (mais uma) às agências financiadoras pedindo socorro.
João Santana Silva

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7 comentários:

  1. João, acho que é isso mesmo. Eu apoio a manifestação.
    Principalmente no que diz respeito a importação. Os entraves relacionados de importação estão minando a pesquisa que visa determinação de mecanismos, que geraria publicações em periodicos de maior impacto.

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  2. Eu concordo plenamente. Visto da perspectiva de quem está nos EUA, sei da dificuldade que é enviar camundongos para o Brasil - o processo chega a levar mais de um ano e requer várias visitas ao consulado brasileiro.
    Aproveito para acrescentar o problema da importação de reagentes em geral. Um processo que poderia levar dias acaba levando meses, e isso tem efeitos profundos não só na rapidez com que se obtém resultados mas também na criatividade (ter várias idéias diferentes e poder testá-las rapidamente é um dos principais motivos que levam à alta produção dos laboratórios daqui).

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  3. João, como você bem sabe, a pesquisa científica é tratada pelos nossos governantes como a 100a. prioridade, apesar da grande massificação dos programas de pós-graduação. Isso fica nítido para nós, uma vez que estudos em Imunologia necessitam de tecnologia de vanguarda, a principal renegada neste aspecto, uma vez que o Brasil é um país produtor de matéria-prima e nada mais do que isso. A nossa situação é tão crítica que em algumas instituições, como a nossa aqui em Uberlândia, não conseguimos nem fazer com que a Universidade reconheça e faça funcionar um biotério que foi construído a mais de uma década e já consumiu milhões de reais em dinheiro público. Vejo com bons olhos esta sua iniciativa (recorrente) para que as agências de fomento estaduais e nacionais apoiem de forma efetiva a criação e desenvolvimento de animais de laboratório, bem como os processos de importação de insumos para as pesquisas científicas aqui realizadas.

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  4. O Jornal da Ciencia de hoje traz um texto relacionado aos problemas apontados por João.
    Especialistas criticam engessamento do sistema nacional de CT&I
    http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=70098

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  5. Eu acredito em um 4o. ponto de interesse para ser levantado, a nossa pouca expressividade em congressos internacionais. Muitas vezes a apresentação de um trabalho em congresso internacional, mesmo como pôster, serve de "vitrine" para potenciais revisores, principalmente em reuniões mais específicas e de poucos participantes.

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  6. Prezado João, colegas e sociedade: apoio a manifestação.

    Dario e eu fomos entrevistados recentemente sobre um tópico similar (vide artigo futuro em Revista Comciência).

    1) Não é mais possível este quadro de morosidade e todos sabemos os problemas. Devemos agir. Chega de "chô-rô-rô".

    2) Me proponho, junto com alguns colegas, a montar uma proposta para organizar tal legislação junto às agências reguladoras. Conseguiríamos, através da SBI ou ABC, influenciar a política de importação de reagentes, animais, insumos para a pesquisa?

    3) Precisamos investir em mais vitrine (usando a palavra da Theo): congressos internacionais, trazer mais pesquisadores-revisores, editores de revistas, ou seja, simular a política de apresentação e confiabilidade de resultados.

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  7. Concordo com os depoimentos acima e apoio a manifestação. Em novembro do ano passado fiz uma visita ao lab do Prof Sinisa Dovat na Universidade de Wisconsin, onde durante o período de um mês desenvolvemos vários experimentos e conseguimos resultados bem interessantes. Porém, para dar continuidade a este trabalho ele ficou de enviar as linhagens de células de leucemia. Até hoje não consegui desembaraçar o recebimento destas células. Realmente é uma discrepância muito grande de facilidade e condições de trabalho.
    Reitero meu apioi a esta manifestação e coloco-me á disposição para ajudar a montar esta proposta de melhoria das condições de importação.

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