Cryptococcus neoformans é um patógeno de
distribuição geográfica global, sendo o principal causador de infecções fúngicas
oportunísticas em indivíduos HIV positivos ou com AIDS e a segunda ou terceira
causa mais comum de micoses invasivas em pacientes submetidos a transplante de
órgãos sólidos (1,2). A principal manifestação clínica observada em indivíduos
acometidos pela doença é a meningoencefalite criptocócica (MC), com estimativas
de 1 milhão de novos casos de criptococose em pacientes com HIV/AIDS e 680.000
mortes ao ano (3).
Um importante fator
de virulência de C. neoformans é a
cápsula mucopolissacarídica, composta principalmente por glucuronoxilomanana
(GXM), galactoxilomanana (GalXM) e manoproteínas (4). Além de suas propriedades
estruturais e antigênicas, a cápsula tem papel essencial nos mecanismos de
evasão imune, devido às atividades imunomodulatórias do componente principal
GXM (4).
Diferenças no
tamanho, composição estrutural, volume e viscosidade da cápsula de C. neoformans foram observadas em estudos
experimentais in vivo e in vitro, sugerindo que altas cargas
fúngicas e subsequente obstrução do fluxo de líquido cefalorraquidiano (LCR) podem
contribuir para o aumento da pressão intracraniana durante infecção com esse
patógeno. Entretanto, pouco se conhece sobre a influência do fenótipo da
cápsula do fungo e a resposta inflamatória induzida na MC humana. Em trabalho
publicado por Robertson et al. (2014) (5), os autores avaliaram amostras de LCR
e isolados clínicos de C. neoformans
coletados de pacientes HIV positivos com diagnóstico de MC após cultura
positiva ou sorologia positiva para antígeno de Cryptococcus. O objetivo desse trabalho foi estabelecer uma
correlação entre fenótipo da cápsula ex vivo em amostras de LCR e parâmetros
clínicos e imunológicos na criptococose humana, comparando-se ao observado com
isolados clínicos de C. neoformans em
estudos in vitro.
Correlação
positiva entre aumento da cápsula do fungo em amostras de LCR e aumento da
pressão intracraniana foi observada nesses pacientes (Fig. 1), associada ao
menor clearance fúngico (alta carga
fúngica), inibição da resposta inflamatória como determinada pelo menor número
de leucócitos e baixos níveis de TNF-a, IL-6, IL-4, IL-7, IL-8 e IFN-g
(Fig. 2).
Figura 1. Microscopia para avaliação do diâmetro da cápsula de C. neoformans (coloração Tinta da China, 40x) em líquido cefalorraquidiano de paciente com pressão intracraniana > que 55 cm H2O. As setas indicam células fúngicas com diâmetro total maior que 30 µm (Robertson EJ et al. J Infect Dis. 2014;209:74-82).
Contudo, não houve correlação entre aumento de viscosidade relativa ao
conteúdo de GXM nas amostras de LCR e maior pressão intracraniana. O diâmetro
da cápsula do fungo analisada em amostras de LCR foi significativamente maior
que o observado a partir de isolados clínicos na condição in vitro. Outros fatores de virulência do patógeno e fatores do
hospedeiro podem determinar a patogênese da criptococose em pacientes HIV
positivos ou com AIDS, particularmente observada na meningoencefalite causada
por C. neoformans, condição muitas
vezes letal nesse grupo de pacientes imunocomprometidos.
Referências:
Referências:
(1)
Moreira T de A, Ferreira MS, et al. (2006). Cryptococosis: clinical epidemiological
laboratorial study and fungi varieties in 96 patients. Rev Soc
Bras Med Trop. 39(3): 255-258.
(2) Pappas PG, Chillera TM,
et al. (2010). Invasive Fungal Infections among Organ Transplant Recipients:
Results of the Transplant-Associated Infection Surveillance Network (TRANSNET).
Clin Infect Dis. 50: 1101-1111.
(3) Park BJ, Wannemuehler KA,
et al. (2009). Estimation of the current global burden of cryptococcal
meningitis among persons living with HIV/AIDS. AIDS 23(4): 525-530.
(4)
Zaragoza O, Rodrigues ML, et al. (2009). The capsule of the fungal pathogen Cryptococcus neoformans. Adv Appl Microbiol.
68: 133-216.
(5) Robertson EJ,
Najjuka G, et al. (2014). Cryptococcus neoformans ex vivo capsule size is associated with intracranial pressure and host immune response in HIV-associated cryptococcal meningitis. J Infect Dis. 209(1):74-82.
Post por Ângela Nishikaku (UNIFESP)
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