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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Toxoplasmose ocular: more than meets the eye


O parasito Toxoplasma gondii foi descoberto há mais de 100 anos, em 1908 por Nicole a Monceaux. A partir daí, acumulamos uma infinidade de informações sobre seu ciclo de vida, morfologia, mecanismos de infecção, manifestações clinicas, formas de prevenção e tratamento.

Trata-se de um parasito extremamente versátil e adaptado. Versátil por ser capaz de infectar virtualmente todos os animais de sangue quente, o que inclui aves e mamíferos. Adaptado porque cerca de 30% da população mundial carrega esse parasito em si e menos de 80% dos soropositivos desenvolve sintomas decorrentes da infecção.

O que é bastante peculiar nesse parasito é o fato de ser capaz de sobreviver em harmonia durante anos no hospedeiro sadio, mas quando há queda de imunidade, ele pode levar a sérios problemas. Dentre as manifestações clínicas estão: encefalite grave, aborto espontâneo e mal formações congênitas durante o desenvolvimento fetal. Além disso, nos cerca de 20% dos indivíduos sadios infectados com T. gondii pode haver o desenvolvimento de lesões oculares que atingem a córnea e a retina, o que chamamos de retinocoroidite (Figura 1).

Durante anos acreditou-se que a retinocoroidite era causada apenas por uma reação inflamatória exacerbada. Principalmente decorrente da produção de altos níveis de IFN-g, citocina crucial na eliminação do parasito. Vários trabalhos mostram que a infecção com T. gondii na ausência de citocinas que modulam e contrabalanceiam o papel do IFN-g, como IL-10, levam à morte o hospedeiro. Dessa forma, o fino equilíbrio entre controle da infecção e inflamação é importante para manter a integridade física do hospedeiro.

No entanto, um trabalho publicado recentemente mostra que pode haver algo além de IFN-g. Pacientes com lesão ocular presuntiva de toxoplasmose apresentam produção elevada de IL-17, uma citocina conhecidamente envolvida em processos inflamatórios destrutivos. Esse trabalho também mostra a presença de variações genéticas no gene do receptor NOD2 nos indivíduos infectados com lesões oculares.

O receptor NOD2 é um sensor da imunidade inata capaz de reconhecer padrões moleculares comuns a diversos patógenos. Esses receptores estão presentes em células apresentadoras de antígenos, como células dendríticas. Uma vez estimulados, eles fazem com que essas células apresentem antígenos para linfócitos T CD4+ que então produzem IL-17. Qual molécula proveniente de T. gondii estaria sendo reconhecida pelo NOD2? Ainda não sabemos.

A IL-17 é uma citocina comumente associada a doenças autoimunes e estudos realizados em modelos animal indicam que a sua produção durante a infecção por T. gondii aumenta o processo inflamatório na ausência de controle do parasito. Dessa forma, acredita-se que a produção dessa citocina estaria relacionada ao processo degenerativo que ocorre na toxoplasmose ocular, mas não no controle e eliminação do parasito. Mais trabalhos são necessário para entendermos efetivamente qual o envolvimento dos receptores NOD2 no reconhecimento do parasito e como eles estariam envolvidos na susceptibilidade ao desenvolvimento das lesões oculares durante a toxoplasmose.

Referência:
Association of a NOD2 gene polymorphism and Th17 lymphocytes with presumed ocular toxoplasmosis. Dutra MS, Béla SR, Peixoto-Rangel AL, Fakiola M, Cruz AG, Gazzinelli A, Quites HF, Bahia-Oliveira LM, Peixe RG, Campos WR, Higino-Rocha AC, Miller NE, Blackwell JM, Antonelli LR, Gazzinelli RT. J Infect Dis. 2012 Oct 24.

Texto de Miriam Dutra
 

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Um comentário:

  1. Não gostei.

    Acho que se vangloriar do próprio trabalho é uma coisa, mas escrever um post destacando o próprio trabalho é demais pra mim.

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