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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Tabu na pós-graduação: a pesquisa fora da academia

Muitos de nós, pós-graduandos, iniciamos nossa carreira na pesquisa científica ainda muito jovens ao ingressar na iniciação científica durante a graduação. Apesar do começo precoce pouco conhecemos sobre as opções de empregos que o mercado nos oferece. A área acadêmica é vista como a melhor, se não a única atuação de um pesquisador. No Brasil essa associação é fortalecida, pelo fato dos investimentos em tecnologia serem provenientes de recursos públicos e em sua maioria estarem vinculados às universidades. Entretanto, a atuação na academia exige aptidão e perfil profissionais muito específicos, que a maioria dos pós-graduandos não possue ou não se identifica. Esse conflito é tão frequente, que a pesquisadora Nadia Jaber (National Cancer Institute), desenvolveu, durante sua pós-graduação, um programa de carreira para doutorandos (The PhD Career Ladder Program-PCLP). Esse programa, além de incentivar o autoconhecimento profissional, visa informar que a pesquisa possui um universo muito maior do que realmente é divulgado. O programa e a história da pesquisadora já foram tema no TED TALKS (https://www.youtube.com/watch?v=rHItLGBPsJ8)

Nadia ressalta três fatos: (i) não são todos os estudantes que se sentem realizados profissionalmente atuando na área acadêmica, (ii) nem todos possuem habilidades necessárias para isso e, (iii) não há, nas universidades, lugar para todos os doutores. Pela lógica meritocrática, você deve ser esforçado e dedicado o suficiente para ter um currículo competitivo, se destacar, superar a pressão e conseguir sua vaga. Todavia, na prática muitos estudantes estão frustrados, desmotivados, permanecem na pós-graduação “por falta de opção” ou acabam desperdiçando anos de investimentos ao desistirem do curso ou não continuarem trabalhando com pesquisa. 
Os pós-graduandos podem ser bons pesquisadores sem necessariamente se encaixarem no modelo acadêmico. Identificar uma vocação diferente e ter interesse em outros campos não deve ser visto como fracasso e vergonha, mas sim como oportunidade de contribuir com a Ciência de outras formas. Esse assunto não costuma ser abertamente discutido entre alunos, orientadores e programas de pós-graduação. Deveríamos criar espaço e até mesmo disciplinas para discussões sobre o tema. Dessa forma, teríamos maior aproveitamento das habilidades individuais e de recursos públicos investidos na pesquisa, incluindo os investimentos em intercâmbios, como o programa Ciência sem Fronteiras. 

Esse cenário se deve à desvalorização, generalização e falta de informação sobre diversos cargos como: especialista em suporte técnico, vendedor de produtos relacionados à Ciência, administrador de laboratório, empreendedor em Ciência, docente dentre outros. O Science Careers, outro site sobre o assunto, disponibiliza um teste que combina habilidades, interesses, valores pessoais e sugere carreiras para doutores seguirem (https://myidp.sciencecareers.org/). Além disso, o site dispõe relatos sobre carreiras e instruções de como se preparar para atuar em cada uma. 

A busca de informação sobre a profissão, os contatos ou networking e o preparo para atuação nos diversos campos da pesquisa, devem ter início no doutorado ou pós-doutorado, fazendo parte da formação individual de cada estudante. Reconhecer as virtudes e esclarecer os objetivos profissionais, leva à motivação e à satisfação dos discentes durante a pós-graduação. Não devemos desperdiçar mentes pensantes que poderiam ser produtivas para a Ciência, devido um modelo limitado de pós-graduação.


Post por Natalia Martinez Araújo

Doutoranda em Bioquímica e Imunologia
ICB/ UFMG

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