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domingo, 2 de novembro de 2014

Journal Club IBA: Vírus Ebola X Sistema Imunológico




De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o atual surto do vírus Ebola é o maior desde que a doença apareceu pela primeira vez em 1976, totalizando mais de 13700 casos e mais de 4900 mortes. Anteriormente conhecida como Febre Hemorrágica Ebola, tem o seu nome derivado do primeiro surto identificado em uma aldeia próxima do Rio Ebola na República Democrática do Congo. Desde então, outros surtos menores ocorreram em aldeias remotas no oeste e centro da África, perto de florestas tropicais (1). Cinco espécies do vírus foram identificadas: Zaire ebolavirus, Bundibugyo ebolavirus, Sudan ebolavirus, Taï Forest ebolavirus e Reston ebolavirus, das quais todas, com exceção da última, causam doença em humanos (2). Zaire ebolavirus, causador do surto atual, anteriormente apresentava uma taxa de mortalidade de 90%, mas atualmente estima-se uma taxa de 70%. (3)
As infecções pelo vírus Ebola são caracterizadas por uma rápida e potente supressão decorrente da ativação das respostas imunes inatas antivirais sistêmicas conhecida como tempestade de citocinas (1). Esta é responsável pelo comprometimento vascular e hemorragia, levando a falência de múltiplos órgãos, choque e até mesmo a morte (1). A transmissão se dá pelo contato direto com fluidos corporais de pessoas ou animais contaminados. Morcegos frutívoros são considerados os hospedeiros naturais do vírus Ebola. O período de incubação do vírus é de aproximadamente 11 dias (3). Inicialmente os sintomas são inespecíficos, mas geralmente incluem febre, fraqueza e diarreia (3). Porém, nos últimos estágios da doença, a pessoa infectada apresenta sintomas mais graves como hemorragia generalizada, perda da consciência, convulsões, entre outros.


Fig 1. Transmissão do vírus Ebola.


O vírus Ebola é envelopado, não segmentado e com cadeia simples de RNA antisense pertencente à família Filoviridae. Seu genoma é composto por sete genes: nucleoproteína (NP), proteína viral (VP) 35, 30, 24, 40, RNA polimerase L e a glicoproteína (GP). A NP compõe o capsídeo viral e as proteínas L, VP30 e 35 são necessárias para replicação e transcrição do RNA viral. A VP40 e 24 são proteínas da matriz viral e auxiliam a liberação do vírus da célula hospedeira, enquanto que a GP é a proteína que envolve o envelope viral e medeia sua entrada na célula (4). Três delas já foram demonstradas como sendo responsáveis pela imunossupressão: VP35, 24 e GP (5, 6, 7, 8).


Fig 2. Estrutura do vírus Ebola. Fonte: http://viralzone.expasy.org/all_by_protein/207.html


Em respostas imunológicas antivirais, a sinalização de interferon (IFN) desencadeia o transporte nuclear de STAT1 fosforilado (PY-STAT1) mediado por um subconjunto de transportadores nucleares, carioferina alfa (KPNA). Em 2006, Reid e colaboradores descobriram que a proteína VP24 do vírus Ebola (eVP24) liga-se a KPNA para inibir o transporte nuclear de PY-STAT1 e tornar as células refratários ao IFN.  Em trabalho recente publicado na Cell Host & Microbe, Xu e colaboradores definiram a base molecular pela qual a VP24 promove essa supressão. Eles descreveram os sítios de ligação da eVP24 e de PY-STAT1 na KPNA5 e descobriram que eles são compartilhados. A VP24 possui um único sinal de localização nuclear não clássico (ncNLS) que se liga a porção C terminal da KPNA5, sobrepondo, pelo menos em parte, o sítio de ligação da PY-STAT1. No entanto, a proteína viral possui maior afinidade pelo transportador, impedindo a sinalização de IFN. Em contraste, a ligação de eVP24 não afeta o transporte de proteínas com NLS clássico que podem ser necessárias para a replicação viral.

Fig 3. Mecanismos de imunossupressão da eVP24. Fonte: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/25121748


Post de Denise Sayuri e Luciana Veronez (FMRP-USP/IBA)



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