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sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Macrófagos fazem sinápse com neurônios noradrenérgicos do trato intestinal

             Apesar de assustar ou fascinar muita gente, a neuroimunologia veioà tona com artigos de destaque e com euforia por parte dos cientistas. Antigamente (não muito longe, diga-se de passagem), poucos estudos sobre o assuntoforam publicados. O que era publicado focava em correlações entre estados emocionais (estresse, depressão) e respostas imunológicas, ou de um determinado medicamento com suas respostas ambíguas no psicológico e imunológico do indivíduo.
Os macrófagos do trato gastrointestinal (TGI) atuam comouma barreira do sistema imune inato para patógenos intestinais, localizando-se em diferentes porções do intestino. Um grupo se localiza na mucosa, associando-se com a interface epitélio-luz intestinal, e outros na parede muscular intestinal, distribuindo-se pelas três camadas do intestino: camada serosa, plexo mioentérico (de Auerbach) e o plexo submucoso (de Meissner). Os macrófagos que se localizam entre camadas estão envolvidos com a síndrome do íleo pós-operatório e distúrbios da motilidade associados com inflamação, doença e sintomas decorrentes do envelhecimento (constipação, atrofia de vilos, etc).
Curiosamente, tanto o plexo submucoso como o mioentérico fazem parte do sistema nervoso entérico, o qual possui uma cadeia de neurônios interconectados e em rede que controlam o peristaltismo, fluxo sanguíneo local e secreção de substâncias para a luz intestinal. Em linhas básicas, esses neurônios servem de feedback para o trânsito intestinal e absorção de nutrientes.
Um estudo fascinante sobre o assunto foi publicado na Revista AutonomicNeuroscience por Phillips e Powley (2012). Os autores procuraram entender mais sobre essa possível relação macrófago-neurônio em processos associados com o envelhecimento e os distúrbios autonômicos e imunológicos do TGI. O trabalho mostraque os macrófagos (MHC II+ CD163+) estão em proximidade de neurônios positivos para a tirosina hidroxilase e onde háα-sinucleína (proteína inicialmente associada ao Mal de Parkinson e à formação de compostos que levam à apoptose de neurônios), o que pode indicar que esses macrófagos são responsáveis, em parte, pela fagocitose de neurônios em degeneração nesse local.
Interessante, e de forma majestosa, os autores mostraram também que há uma sinapse entre macrófago e neurônio (figura), com varicosidades e indentações tipicamente encontradas em sinapses neuronais.
              Figura. Imunomarcação de neurônios (cinza) e macrófagos (marrom) mostrando um contato aparente entre macrófago e terminais axonais. e. Aumento das regiões de contato entre macrófagos e dendritos. F.G.H. Imagem mostrando contato sináptico entre neurônios (preto) e macrófago (marrom) e varicosidades encontradas no contato entre ambos.

O estudo apóia as evidências que mostram que o sistema nervoso autônomo pode influenciaras respostas imunes periféricas, e que os macrófagos estão em íntima relação com neurônios colinérgicos, neuritos distróficos e locais de depósito de α-sinucleína, três possíveis alvos de perda neuronial no intestino e possíveis imunopatologias. Além disso, os resultados mostram que há uma sinapse real entre macrófago e neurônio, e que a liberação de um neurotransmissor é direcionada para a célula do sistema imune, contrariamente ao pensamento corrente de que há uma liberação de uma quanta de neurotransmissores que trafega pelo interstício e aleatoriamente alcançam um macrófago infeliz (farmacologicamente algo que eu duvidava muito que pudesse acontecer em larga escala, pois o neurotransmissor se degradaria muito rapidamente e os efeitos neuroimunológicos seriam mais sistêmicos que localizados).
            O trabalho em si é visualmente agradável e de fácil leitura, principalmente pela sua simplicidade (vale à pena ler o artigo inteiro). Essas descobertas levantam mais questões sobre o sistema neuroimune no TGI. Uma pergunta que fica é se as proteínas de ligação entre neurônio pré e pós-sináptico poderiam ser também utilizadas para o ancoramento do macrófago ao terminal axonal. É bom mantermos questões sem chegarmos, de imediato, a uma resposta definitiva, pois aparentemente encontramos mais prazer nas perguntas que nas suas respostas, sejam visuais ou filosóficas.
Agradeço ao Alexandre Kanashiro pela discussão e apresentação do artigo à minha pessoa.


Post de Gabriel Shimizu Bassi

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