BLOG DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE IMUNOLOGIA
Acompanhe-nos:

Translate

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ganho de Função em MyD88 leva a linfoma de péssimo prognóstico



Post de João Bosco de Oliveira Filho, MD, PhD
Co-director, Flow Cytometry and Genetics, Department of Laboratory Medicine, National Institutes of Health, Bethesda, USA


Em um trabalho recente (Ngo, V, et al, Nature, Dec 22, e-pub), o grupo de Lou Staudt, NCI/NIH, descreveu o achado de mutações ativadoras em MYD88 em um subtipo específico de linfoma em humanos, chamado ABC-difuse large B cell lymphoma (ABC-DLBCL). O achado é de grande importância, pois este tumor é de difícil tratamento e a delineação das vias precisas de sinalização que modulam a sobrevida das celulas cancerosas abre as portas para o desenvolvimento de terapias específicas. Os pesquisadores identificaram que o ganho de função em MYD88 induziu a ativação de uma plataforma sinalizadora contendo IRAK1 e IRAK4 e levou à hiperativação das vias NF-kB e JAK-STAT, suprimindo a apoptose. Essa mutação tambem cooperou patologicamente com outras mutações comumente encontradas nestes linfomas, nos genes CD79B e CARD11.

Para identificar MYD88 como fator crucial para manutenção deste tumor, Ngo e colegas utilizaram de uma ferramenta bastante poderosa - o screening com bibliotecas de shRNA (short hairpin RNA). Na biblioteca utilizada pelo grupo os hairpins silenciadores de RNA foram expressados em plasmídeos contendo “barcodes” de DNA. Esses plasmídeos foram empacotados em vetores retrovirais e pools de cerca de 1000 shRNAs foram usados para infectar linhagens dos tumores de interesse a um MOI muito baixo, de forma que em média apenas um vírus infectou cada célula. Apos seleção das células infectadas por puromicina, a expressão dos hairpins silenciadores foi induzida com doxiciclina (ou não, nas linhagens controle), e a vitalidade das células mensurada nos dias subsequentes. Ao final do ensaio as linhagens controle e induzidas foram lisadas e o DNA de ambas hibridizado em um mycroarray contendo oligonucleotideos que reconhecem os barcodes, identificando-se desta forma os hairpins que modularam a perda de vitalidade celular. Uma segunda fase, confirmatória, foi então realizada com os principais candidatos. Esse grupo já adotou esta mesma estratégia de forma muito bem sucedida em vários artigos publicados recentemente (Rui, L, et al, Cancer Cell, Dec 14, e-pub; Davis, RE, et al, Nature, 463:88-92).

Para aqueles que pretendem se aventurar no mundo dos screening com shRNA, o uso dos barcodes facilita bastante o experimento, pois evita que o investigador tenha que escanear milhares de shRNA em ensaios individuais. Atualmente varias companhias, como Open Biosystems, vendem pools retrovirias prontos ou grupos de centenas de plasmideos para empacotamento a preços razoaveis, e também os chips para hibridização e identificação dos barcodes.
Ficamos por aqui e boa sorte nos experimentos!

Referências:


Ngo et al. Oncogenically active MYD88 mutations in human lymphoma. Nature. 2010 Dec 22. [Epub ahead of print]

Rui et al. Cooperative epigenetic modulation by cancer amplicon genes. Cancer Cell. 2010 Dec 14;18(6):590-605.

Davis et al. Chronic active B-cell-receptor signalling in diffuse large B-cell lymphoma. Nature. 2010 Jan 7;463(7277):88-92.

Comente com o Facebook :

Nenhum comentário:

Postar um comentário

©SBI Sociedade Brasileira de Imunologia. Desenvolvido por: