quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Neuroimunomodulação


Células do sistema imune (neste caso células T e iNKT) são capazes de responder a neurotransmissores, mudando o perfil de citocinas produzido. Por outro lado, o possível efeito de retro alimentação das citocinas no sistema nervoso central ainda precisa ser estabelecido. Tomado de Goldberg and Trakhtenberg EF, Science 2011.


Vias de intercomunicação entre os sistemas nervoso e imune têm sido previamente descritas (veja post prévio aqui). Um caso interessante nesta comunicação é a modulação da resposta imune por neurotransmissores. Na edição da Science de 07 de Outubro, um novo par de papers veio complementar essa interação entre os dois sistemas. Primeiro, o caso da inibição de produção de citocinas como TNF-a pela estimulação do nervo vago, mediada pela acetilcolina produzida por células TCD4 adjacentes às terminais adrenérgicas no baço que expressam também o receptor B adrenérgicos (respondem ao neurotransmissor adrenalina). Usando um modelo de endotoxemia em animais nude, foi mostrado que a transferência destas células é capaz de reduzir os níveis de TNF-a nesses animais usando estimulação do nervo vago. No entanto, quando essas células transferidas eram tratadas com RNAi para colina acetil transferase (requerida para produzir acetilcolina), o efeito protetor desaparecia (1).

O segundo paper, demostra que as células NKT invariantes naturais (iNKT) são necessárias para evitar a imunossupressão, uma das complicações comuns associadas a acidentes vasculares cerebrais (AVC). Os autores demonstraram que essas células presentes no fígado, respondem à produção de noradrenalina. O bloqueio de receptores Beta-adrenérgicos com propranolol, ou a denervação das terminais no fígado, levou a redução da imunossupressão e redução da infecção e consequentemente da mortalidade em um modelo animal de AVC. A ativação das iNKT com alfa-GalCer (via MHC) também reduziu a incidência de infecções pós-AVC. Ainda, foi demonstrado nesse trabalho que o tratamento com propranolol, junto com alfa-GalCer, leva a uma mudança no perfil de citocinas produzidas, passando do predomínio de IL-10 (induzido pelo AVC) para um predomínio de IFN-g (2).

Esses dois trabalhos mostram claras evidências de que há uma conversa cruzada entre os sistemas nervoso e imune, abrem uma serie de interrogações muito interessantes sobre o papel de subpopulações de células do sistema imune no desenvolvimento e funcionamento neuronais, bem como a participação ativa de neurotransmissores no controle da resposta imune durante processos infecciosos ou inflamatórios em geral. Certamente tem muito por vir nessa materia.



Referencias

  1. Rosas-Ballina M, Olofsson PS, Ochani M, Valdés-Ferrer SI, Levine YA, Reardon C, Tusche MW, Pavlov VA, Andersson U, Chavan S, Mak TW, Tracey KJ. Acetylcholine-synthesizing T cells relay neural signals in a vagus nerve circuit. Science. 2011 Oct 7;334(6052):98-101. Epub 2011 Sep 15.PMID: 21921156.
  2. Wong CH, Jenne CN, Lee WY, Léger C, Kubes P. Functional innervation of hepatic iNKT cells is immunosuppressive following stroke. Science. 2011 Oct 7;334(6052):101-5. Epub 2011 Sep 15. PMID: 21921158.
  3. Goldberg J, Trakhtenberg EF. Neuroimmune communication. Science. 2011 Oct 7;334(6052):47-48.


    Um comentário:

    1. Livro sobre a relação entre o sistema limbico e imunologia.

      http://www.amazon.com/Balance-Within-Science-Connecting-Emotions/dp/0716744457/ref=ntt_at_ep_dpi_2

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