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terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Sobre Imunologia e Teatro




O mais louco de tudo não foi descobrir a imunologia quase escondida dentro da medicina, mas é encontrar a imunologia também no teatro. Isso dá mesmo a sensação de estar pensando na direção certa. Depois, então, você olha para a sociedade e vê os mesmos problemas que se apresentam de novo: competição, especialização, atores isolados, destino, história, desenvolvimento, evolução. Na verdade estamos falando do óbvio, do cotidiano, da visão de mundo de cada cidadão, seja ele cientista, jornalista, cantor, ator, gari, dona-de-casa, mendigo, professor. Como é complexo tratar do óbvio, do que é silenciosamente aceito, questionar o que não devemos, ao menos fomos adestrados para questionar. “Pára de falar, menino!”, “Não mexe aí, garota!”, “Pára de incomodar um minuto!”, “Você tem que ser o melhor!”. Daí você vai passando pela vida, pelas rodas de conversa, pelas salas de aula, como um turista desinteressado, e vai comendo pelas beiradas, vivendo pela metade, querendo só se dar bem, olhando as pessoas sem olhar nos olhos, julgando pelas aparências, deixando se orientar pelo que ouviu dizer, o que você ouve no salão de cabeleireiro, na fila do banco, ou o que a mamãe falou. Você vai vivendo uma vida de torpor induzido pela televisão, ou pela pílula de tarja preta que toma há 30 anos para suportar tanta mediocridade em que está imerso.
Então fica tão difícil falar do óbvio, que sem conhecer o óbvio, o básico, o fundamental, desembestamos a contrariar a natureza, a biologia, também conhecida como Deus segundo Spinoza. Da imunologia passando pelo teatro e nossa vida em sociedade testemunho a agonia dos sentimentos, a tristeza, a depressão, a frustração pelos lugares onde ando, a maioria confusos, desmotivados, sem horizonte, com seus afetos embotados, sem libido para nada que não seja diversão de massa com apelo sexual estereotipado. Viraram gado. Todos se sentem aleijados de seus impulsos, desempenhando funções burocráticas de pura repetição a mando de alguma corporação de comunicações, farmacêutica, bancária.
Foram colocados para competir uns com os outros, mal sabendo que competir é anti-humano, destrói toda a poesia que nos faz humanos, que nos faz caminhar juntos, de mãos dadas, elimina nossa possibilidade de ter uma identidade própria, pois nada cria mais dependência que competir, faz com que você se paute no outro para existir. Quem compete na verdade depende. Mas estou aqui para escrever sobre a possibilidade, sobre a vida, sobre imunologia, medicina, teatro, saúde, arte, ciência, conhecimento. Conhecimento sobre a vida, por isso a biologia. E essa anda por um momento histórico interessante, uma grande transformação conceitual e ideológica, onde as ideias de destinos e talentos determinados (sejam por genes, ou outras partículas), seleção dos mais aptos, dos mais adaptados, competição, ameaças, ataques, defesas já são ideias derrubadas por uma biosfera, um universo, imanentes, interconexos, onde estamos todos acoplados uns nos outros, de protozoários a grandes primatas conversadeiros, numa grande deriva sem direções, planos ou objetivos a cumprir, onde a cooperação, a generosidade, o amor são as palavras chave. Onde o prazer é o aumento de nossa possibilidade de ação, e que quanto mais conhecermos essa biologia imanente, distribuída em tudo, mais conheceremos Deus, e viveremos uma vida de virtude não porque tememos o inferno ou obedecemos cegamente um mandamento, mas porque conhecemos nossa natureza, e faremos o que ela nos impele a fazer, que é estar em harmonia, em amor intelectual de Deus.
Essa vida é uma vida de prazer, de conhecimento, de conexão com a natureza. E para onde olhamos, da ciência da imunologia à arte do teatro, as mesmas questões apontam para uma vida muito melhor que essa do Shopping Center e da exclusão social, para um reencontro com uma coletividade natural, com a tribo, a comunidade da biosfera, cooperativa e amorosa, como todos nós sentimos que devia mesmo ser.

Post de Vítor Pordeus

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