domingo, 30 de junho de 2013

O “Papa” do óxido nítrico em solos ribeirão-pretanos




Nos últimos dias 27 e 28 deste mês, às 13h, nós, alunos da FMRP-USP, fomos agraciados com 2 palestras. Certamente os leitores que estavam tirando um belo cochilo pós-almoço naquele momento devem estar pensando agora “Agraciados?? Até parece!!”.
Sim! E nós explicamos... As palestras foram ministradas por ninguém menos que Salvador Moncada, colaborador de trabalhos que descreveram drogas como aspirina (inibidora de prostaglandinas) e o principal responsável pela identificação de óxido nítrico como mediador biológico, bem como pela elucidação das vias metabólicas que levam à sua síntese. Ainda não os convencemos? Bom, podemos então ressaltar que este distinto senhor da foto possui “míseros” 800 artigos publicados (sendo mais de 18 na revista NATURE), possui mais de 128.000 citações rankeando-o como o terceiro maior índice H (acima de 160) e ainda é autor de 2 dos 10 artigos mais citados do mundo! Boquiabertos, né?
As palestras abordaram temas bem distintos. Na primeira discursou sobre “Conexão entre progressão do ciclo celular e as necessidades metabólicas”. Resumindo a trajetória de suas descobertas, Moncada demonstra que a glicólise é um processo essencial para a proliferação celular. Uma das enzimas-chave que desencadeia este processo é a fructose-2,6-bisfosfatase (PFKFB3). Esta enzima é reprimida por uma ubiquitina-ligase denominada APC/C-Cdh1. Em neurônios, células caracterizadas pela baixa capacidade proliferativa, os níveis de APC/C-Cdh1 estão elevados, presumivelmente controlando a tradução da PFKFB3, o que impede sua proliferação. Por outro lado, os astrócitos possuem altos níveis de PFKFB3, facilitando a progressão do ciclo celular de G1 a S. Num futuro próximo, o professor Moncada pretende usar suas descobertas no controle da proliferação exacerbada de células cancerígenas, as quais são caracterizadas pela alta expressão de PFKFB3. Certamente o alvo dos estudos será a APC/C-Cdh1.
Na segunda palestra, Moncada tratou da importante, porém complicada, relação entre a Academia e a Indústria. Com ampla experiência como diretor científico e como pesquisador, Moncada defende a aproximação das universidades com indústrias farmacêuticas para impulsionar novas descobertas na área científica, com o intuito de gerar novos fármacos. O passo inicial já foi dado pelo próprio professor Moncada, após estabelecimento de parcerias com indústrias londrinas. Esta parceria foi encarada com bons olhos por outras companhias, as quais estão cada vez mais cientes da importância de estabelecer parcerias e ainda mostram-se mais flexíveis com as exigências com relação às patentes e exclusividade de mercado.

E agora? Vocês estão convencidos de que fomos agraciados?

Post de Marcela Françozo, Marcela Davoli e Tiago Medina – (FMRP- IBA)

sábado, 29 de junho de 2013

Novas funções de proteínas (ASC e HSP60) no controle de doenças inflamatórias


Após a defesa de tese de doutorado dos alunos Grace Kelly e Fabrício Fernandes, do Programa de Pós-graduação em Imunologia Básica e Aplicada – FMRP, vem `a tona novas funções de  ASC e de HSP60.
Ontem, Grace Kelly, mais conhecida como Trenzão ou Trenzom, autora das melhores fábulas sobre Imunologia (http://blogdasbi.blogspot.com.br/2012/08/conferencia-de-nlrs.html e http://blogdasbi.blogspot.com.br/2011/05/festa-imunologica.html), a rainha do Inflamassoma do Prédio Central da FMRP, defendeu!!! E nós, colegas do Laboratório de Imunoparasitologia, achamos digno que mais uma das grandes conquistas dessa “sacerdotisa” da Imunologia fosse compartilhada com os leitores do Blog.
A tese intitulada “Inflamassoma de ASC é essencial para a resistência à infecção experimental por Trypanosoma cruzi”, desenvolvida sob orientação do Prof. Dr. João Santana e co-orientação do Prof. Dr. Dario Zamboni, foi defendida de maneira brilhante pelo Trenzão. O trabalho demonstra que T. cruzi induz a ativação de caspase-1 e secreção de IL-1beta de maneira totalmente dependente de ASC e parcialmente dependente de NLRP3, e que esse processo tem um papel crítico para a proteção do hospedeiro contra o T. cruzi.
Estavam na banca a Dra. Marcela Lopes (UFRJ), o Dr. João Santana da Silva (FMRP-USP), a Dra. Isabel Miranda (FMRP-USP), a Dra Vânia Bonato (FMRP-USP) e o Dr. Aristóbolo Mendes (UFMG), que não ficou pra foto porque senão perderia o voo.

Posam para a foto, da esquerda para direita, a Dra. Marcela Lopes (UFRJ), o Dr. João Santana da Silva (FMRP-USP), a agora Dra. Grace Kelly da Silva, a Dra. Isabel Miranda (FMRP-USP) e a Dra. Vânia Bonato (FMRP-USP)


A comunidade da Imunologia Básica e Aplicada (IBA) também parabeniza o agora doutor Fabrício Freitas Fernandes pela brilhante defesa da tese “HSP60 recombinante de Paracoccidioides brasiliensis reverte a proteção induzida por adjuvante na paracoccidioidomicose experimental” desenvolvida sob orientação do Prof. Dr. Ademilson Panunto Castelo.




Parabéns aos mais novos doutores!!!


Post de Manuela Sales e Marcela Davoli, Laboratório de Imunoparasitologia. IBA FMRP-USP



sexta-feira, 28 de junho de 2013

Células T CD8+ de memória têm maior capacidade respiratória


Como um linfócito naïve resolve se vai se tornar efetor ou de memória em resposta à ativação permanece uma questão de grande interesse dos imunologistas, apesar de estar longe de ser conclusivamente respondida.  Ultimamente, no entanto, especial atenção tem sido dada ao estado metabólico destas subpopulações.  Em 2012, um grupo do Trudeau Institute publicou na Immunity um trabalho onde sugere-se que células T CD8+ de memória possuem mais mitocôndrias e com maior metabolismo oxidativo de àcidos graxos do que células efetoras (como ilustrado na imagem abaixo, onde as mitocôndrias foram marcadas em verde). Esta diferença, segundo eles, decorre da exposição à IL-15, que induziria a biogênese mitocondrial e expressão de enzimas do metabolismo oxidativo nas células que se comprometem com o perfil de memória, em oposição às células efetoras, que proliferam em resposta à IL-2 sem sustentar um número alto de mitocôndrias. O grupo discute ainda que esta maior capacidade respiratória induzida pela IL-15 pode associar-se à longa duração das células de memória.



Para quem se interessar, segue o link do trabalho.


Bom fim de semana!

Jonatan

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Oportunidades: seleção 2013 para o Pew Latin American Fellows Program in the Biomedical Sciences

Interessado(a) em realizar pós-doutoramento nos Estados Unidos?

Aproveite a oportunidade oferecida pelo "Pew Latin American Fellows Program in the Biomedical Sciences" (aqui). As inscrições para 2014 estarão abertas a partir do próximo dia 15 de julho.

Mais informações abaixo.

Pew Fellows Award to Pursue Postdoctoral Training in the U.S.

The Pew Latin American Fellows Program in the Biomedical Sciences provides support for young scientists from Latin America to receive postdoctoral training in leading laboratories in the United States. The program gives these individuals an opportunity to further their scientific knowledge, promote exchange and collaboration between investigators in the United States and Latin America, and advance biomedical research in Latin America.

Details of the Award

• Ten Pew Latin American Fellows will be selected in 2014.
• A grant of $60,000 will be provided by The Pew Charitable Trusts to the sponsoring U.S. institution to supplement the fellow’s postdoctoral salary.
 After completion of the fellowship, and upon confirmation of the fellow’s plans to return to Latin America, Pew will issue an additional payment of $35,000 to the sponsoring institution for the purchase of supplies and equipment to help establish the fellow’s independent laboratory in Latin America.

Requirements

• Applicants must have been awarded a Ph.D. or M.D. degree by February 1, 2014, but no earlier than July 1, 2009.
• Preference will be given to applicants who received their undergraduate and graduate degrees from institutions in Latin America. Applicants may have obtained their undergraduate or graduate degrees from schools outside Latin America but preferably not in the United States.
• Applicants with more than 18 months of postdoctoral training in the United States before July 1, 2014, are not eligible.
• Applicants are required to submit a written statement of intent to return to Latin America.
• Applicants will not be considered if they have completed graduate work with a
proposed sponsor.

The application process opens July 15, 2013.

To Apply
• Potential candidates must identify and obtain a commitment from the head of a laboratory in the United States for a postdoctoral position. All applicants should contact their regional committees before contacting the Pew Fellows program office.
• Once sponsors are identified, potential candidates must send an email to Anita Pepper, director, at apepper@pewtrusts.org to request access to the online application on or after July 15, 2013.

The application deadline is October 1, 2013.
Fellowship grants will begin in August 2014.


For more information, please go to www.pewlatinfellows.org and the online directory of past awardees at http://directory.pewlatinfellows.org or contact the regional committee members listed:

Brazil
Sidarta Ribeiro, Ph.D., Chair*
Brain Institute, UFRN P (55) (84) 3215-2709 E sidartaribeiro@neuro.ufrn.br

Katia Calp Gondim, Ph.D.
Universidade Federal do Rio de Janeiro P (55) (21) 2562-6785 E katia@bioqmed.ufrj.br

Stevens Rehen, Ph.D.
Universidade Federal do Rio de Janeiro P (55) (21) 2562-2928 E srehen@lance-ufrj.org

Dario Zamboni, Ph.D.

Universidade de São Paulo FMRP/USP P (55) (16) 3602-3265 E dszamboni@fmrp.usp.br

O papel das plaquetas como colaboradoras no controle de infecção bacteriana


As plaquetas são células anucleadas derivadas de megacariócitos, presentes  na medula óssea. Elas são consideradas mediadores cruciais da homeostase sanguínea, pois sua principal função fisiológica consiste em detectar vasos endoteliais danificados, agregando-se no local do dano e iniciando o processo coagulação sanguínea que impede o extravasamento sanguineo. No entanto, alguns trabalhos demonstram a influência das plaquetas na resposta imunológica. Dentro deste contexto, um recente trabalho publicado no Nature Immunology de Wong et al. mostra mais uma abordagem interessante destas estruturas no controle de infecções bacterianas. O trabalho demonstra como a interação entre plaquetas com as células de Kupffer (KC’s) e o fator de von Willebrand (vWF) contribuem para o controle de infecção bacteriana­. Essa interação observada através de microscopia intravital, é denominada pelo grupo como “touch-and-go”, que envolve a ligação do vWF (expresso constitutivamente nas KC’s) às plaquetas, através da glicoproteína Ib (GPIb). Em adição, camundongos deficientes de GPIb, o fenômeno “touch-and-go”  não é expressivo, não ocorrendo, portanto, a interação: células de Kupffer, fator de von Willebrand e glicoproteína Ib.
Experimentos realizados em animais com plaquetas depletadas ou com deficiência para GPIb, mostram uma elevada mortalidade e presença bacteriana elevada no sangue, após infecção com Bacillus cereus ou MRSA. Todos camundongos com plaquetas depletadas morrem cerca de 4 horas após infecção e mais de 80% dos animais deficientes para GPIb sucumbem no mesmo prazo, sugerindo que a capacidade das plaquetas para interagir com as células de Kupffer é importante para o combate a infecção bacteriana.
O trabalho incita que esse mecanismo, “touch-and-go”, acontece continuamente. Desta forma, as plaquetas aparecem criam  uma barreira em torno de bactérias particularmente prejudiciais no decorrer da infecção.
Essa especificidade ocorre muito antes do recrutamento de células efetoras clássicas da resposta imune inata. Os dados identificaram as plaquetas como sentinelas, importantes durante uma infecção bacteriana. Sendo assim, um entendimento mais avançado sobre as plaquetas, como componente no sistema imunológico, pode favorecer a busca de novas terapias e a compreensão da relação destas com os mecanismos inflamatórios.

Flávio Protásio Veras, doutorando do Laboratório de Inflamação e Dor (LID) – FMRP/USP


Referência

Wong, C.H.Y et al. Nucleation of platelets with blood-borne pathogens on Kupffer cell precedes other innate immunity and contributes to bacterial clearance. Nature Immunology. doi:10.1038/ni.2631. 2013

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Estudo desvenda aspectos importantes para a compreensão da leishmaniose

Notícia publicada originalmente na edição online da Pesquisa Fapesp (aqui). Parabéns novamente ao Dario Zamboni e colaboradores pelo Nature Medicine genuinamente brasileiro.

Por Maria Guimarães, 9 de junho de 2013


© DARIO ZAMBONI / USP
Dois macrófagos (azul) expressando uma das moléculas do inflamassoma (verde) e infectados com Leishmania amazonensis (vermelho)
Dois macrófagos (azul) expressando uma das moléculas do inflamassoma (verde) e infectados com Leishmania amazonensis (vermelho)
Um grupo de pesquisadores brasileiros que busca entender em detalhe os mecanismos de imunidade contra a leishmaniose acaba de conseguir uma contribuição importante. Dario Zamboni, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto, e seus colaboradores mostraram o papel de um conjunto de proteínas chamado inflamassoma nessa batalha, em artigo publicado neste domingo (9/6) no site da Nature Medicine. O trabalho foi realizado inteiramente em seu laboratório no interior paulista, no âmbito de um projetodo Programa Jovens Pesquisadores da FAPESP.
A leishmaniose é uma doença silenciosa no que diz respeito à ativação do sistema imunológico. Os protozoários do gênero Leishmania que causam tanto a versão visceral como a tegumentar se alojam dentro das células sem matá-las, e não assolam o organismo inteiro como acontece em muitas infecções bacterianas. “Uma lesão cutânea de leishmaniose pode permanecer por meses sem cicatrizar”, conta o biólogo Dario Zamboni. Em parte por isso, Leishmania é um parasita pouco detectado pelo sistema imunológico.
Já se sabia que uma arma importante usada pelo sistema imunológico é o óxido nítrico, molécula que cumpre uma infinidade de funções no organismo, incluindo a defesa contra micróbios que causam doenças. “Ninguém sabia as vias de sinalização que levam à produção de óxido nítrico durante a leishmaniose”, explica o pesquisador. O estudo coordenado por ele examinou o efeito da infecção por Leishmania em células de defesa (macrófagos) de camundongo in vitro, e também nos animais vivos. Descobriram que a infecção induz a agregação, dentro das células dos roedores, das proteínas que formam o inflamassoma. Este, por sua vez, altera outra molécula importante do sistema imunológico, a interleucina 1-beta (IL-1β), tornando-a ativa. A IL-1β funciona como uma mensageira imunológica: sai da célula e circula até encontrar outra célula infectada, em cuja superfície se liga a receptores que desencadeiam a sinalização para a síntese de óxido nítrico.
O mecanismo funciona, o estudo mostrou, para as espécies Leishmania amazonensis eL. brasiliensis, causadoras da leishmaniose tegumentar, e L. infantum chagasi, responsável pela forma visceral da doença. Em L. major, menos comum no Brasil, o estudo mostrou que os parasitas ativam o inflamassoma, mas esse efeito não é necessário para controlar a infecção. Ainda não está claro o que está por trás dessa diferença.
Apesar de ter estudado apenas camundongos nesse trabalho, Zamboni acredita que o mesmo aconteça em seres humanos. “Outros estudos mostraram que mutações em genes que participam da sinalização por IL-1β também afetam a suscetibilidade à leishmaniose em seres humanos”, explica.
A esperança é contribuir para possíveis tratamentos, mas esse ainda é um objetivo distante no horizonte. Não haverá uma solução simples como cápsulas de IL-1β, inclusive porque desequilíbrios nos teores e no funcionamento dessa molécula estão por trás de uma série de doenças auto-inflamatórias. “Entender a doença, assim como os mecanismos de resistência, é fundamental para se desenvolver uma terapia racional e vacinas contra essa doença”, afirma Zamboni. Nesse caso, ele busca inspiração no que determina o sucesso – ou não – do próprio sistema imunológico nesse combate.
“O trabalho de Dario Zamboni e coautores é daqueles que desatam nós”, comenta Walter Colli, do Instituto de Química da USP (IQ-USP). “Muitos patógenos que infectam células do sistema imune sobrevivem no interior dessas células estabelecendo uma convivência, já que nem destroem o hospedeiro nem são por ele destruídos. O hospedeiro combate o invasor, controlando a infecção. É como se fosse estabelecido um equilíbrio que torna a doença de progressão lenta, ainda que sempre presente.” Em sua avaliação, o trabalho de Zamboni elucida esses mecanismos e dá um passo para compreender como o sistema imunológico combate esse e outros intrusos.
Colli ressalta que Zamboni faz parte de uma linha de pesquisa com destaque no Brasil: fez Iniciação Científica no laboratório de Isaac Roitman na Universidade de Brasília e doutorou-se sob a orientação de Michel Rabinovitch, na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Depois de um pós-doutorado na Universidade Yale com Craig Roy, Zamboni se instalou na Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Dois alunos de Zamboni já foram agraciados com prêmios outorgados pela Sociedade Brasileira de Protozoologia (SBPz) por trabalhos apresentados sobre receptores intracelulares presentes nas células do sistema imune que participam da detecção e do controle deLeishmania e de Trypanosoma cruzi, um indício de que a escola de pensamento em que se formou continua a render frutos. “A lista de colaboradores de Zamboni mostra que, em algumas áreas, já temos massa crítica para atuar coletivamente com projetos ousados e inovadores que visem, mais do que a quantidade, a qualidade em nossa produção científica”, avalia o professor do IQ-USP.

terça-feira, 25 de junho de 2013

IL-20RB como potencial alvo no tratamento de infecções cutâneas por MRSA



IL-19, IL-20, IL-22, IL-24 e IL-26 conformam a subfamília de citocinas IL-20, um subconjunto da superfamília de IL-10, que também inclui a IL-10, IL-28 e IL -29. IL-19, IL-20 e IL-24, sinalizam todas através do receptor de IL-20 de tipo I (IL-20R), um receptor hetero-dimérico composto das cadeias α e β de IL-20R (IL-20RA e IL-20RB, respectivamente). IL-20 e IL-24 também podem sinalizar através do receptor de IL-20 de tipo II, um hetero-dímero composto da união do IL-20RB e a subunidade α 1 do receptor de IL-22, (IL-22RA1).

Estes complexos de receptores contendo IL-20RB são expressos principalmente em células epiteliais e ativam o fator de transcrição de STAT3, levando à ativação de um programa que restaura a homeostase do tecido, melhorando a remodelação, à cicatrização de feridas e à secreção de peptídeos antimicrobianos de um modo semelhante às ações de IL-22. Ao contrário da IL-22, que é secretada principalmente por linfócitos, IL-19, IL-20 e IL-24 são produzidas principalmente pelas células mielóides e células epiteliais.

O trabalho que vou comentar será publicado na Nature Immunology pelo grupo de pesquisadores liderado por Sandip K Datta, do NIAID, e mostra que a deficiência de IL-20R leva a diminuição da infecção cutânea por MRSA (Staphylococcus aureus resistente à meticilina). Ao contrario, a administração de IL-20R recombinante leva ao aumento da infecção. Entretanto, a adição concomitante de IL-1b recombinante reverte este incremento da infecção. Isso acontece devido a que a sinalização por Il-20R leva a uma diminuição da resposta a MRSA mediada por IL-17 junto com diminuição da transcrição de IL-1 β.

Para finalizar, os autores mostraram que o IL-20R é induzido após a infecção por MRSA em queratinócitos humanos, e que, no modelo murino, o tratamento com anticorpos bloqueadores de IL-20RB leva à diminuição do tamanho das lesões. (Figura)



Este trabalho poderia ter um impacto muito importante no tratamento de infecções cutâneas causadas por esta bactéria, que é bastante comum e de difícil manejo com antibióticos.

Link para o artigo completo aqui.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

ATO II: Neutrófilo sai de cena...



Durante o processo inflamatório, um dos principais eventos necessários para uma resposta imune eficaz do organismo é o recrutamento de leucócitos para o local da lesão/infecção. Dentre tais células, os neutrófilos são os primeiros a se apresentarem ao sítio lesionado/infectado para desempenhar um papel crucial na resposta inflamatória (Bratton; Henson 2011). 

Recentemente, um artigo publicado na revista Immunobiology (http://dx.doi.org/10.1016/j.imbio.2013.03.001) traz uma interessante revisão sobre o papel das “anti-adhesive proteins” na resolução do processo inflamatório. Os mecanismos exatos para a reversão do processo de influxo de neutrófilos para o sítio lesionado, bem como para a completa evasão/eliminação dos mesmos no tecido, ainda não são bem estabelecidos (Norling; Serhan 2010). Contudo, acredita-se que a apoptose regulada de neutrófilos, após determinado período em tecido inflamado, seguido por fagocitose (macrófagos) é considerado um dos principais mecanismos responsáveis pela “limpeza” de neutrófilos em tecidos com inflamação resolvida (Serhan et al. 2012). Além disso, estudos mostram que neutrófilos são capazes de trafegar bidirecionalmente entre os sítios lesionados e os vasos circundantes, o que elucida um mecanismo auxiliar para o processo de remoção dessas células do tecido (Ley et al. 2007). 

Muito embora diversos mecanismos atuem realizando a completa remoção de neutrófilos do sítio lesionado, os mesmos seriam ineficazes sem uma devida supressão do recrutamento dessas células. Alguns estudos têm mostrado a atuação de determinados grupos lipídicos como mediadores anti-inflamatórios que, por sua vez, suprimem o recrutamento de neutrófilos (Deban et al. 2010). Entretanto, outros mecanismos como a regulação de proteínas anti-adesivas capazes de impedir ou reverter a interação neutrófilo-endotélio têm sido cada vez mais discutidos na literatura científica atual (Han et al. 2011). Em 1999, o artigo “Leguminous lectins as tools for studying the role of sugar residues in leukocyte recruitment” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1781791/) já demonstrava o uso de lectinas como ferramentas biológicas para o estudo de carboidratos e adesinas envolvidas no processo inflamatório (normalmente a homeostase não era um foco nesses estudos).

Dentre as diversas proteínas que têm sido estudadas nesse campo nos últimos anos, destacam-se as que abaixo se seguem: 

- Pentraxin 3 (PTX3): proteína da fase aguda da inflamação secretada por vários tipos de células, incluindo leucócitos e células endoteliais. 

- Proteína C-reativa: proteína da fase aguda da inflamação mais conhecida na atualidade e mais comumente relacionada aos processos inflamatórios e infecciosos. 

- Glicoproteína α1-ácida: um das proteínas mais utilizadas para detectar reações inflamatórias em fase aguda. 

- Galectina-1: lectina de mamíferos expressada por diversas linhagens celulares e sobre-regulada em tecidos sob processo inflamatório. 

- Annexin-1: proteína constitutivamente expressa por várias células humanas e expressa somente sob estímulos inflamatórios. 

- Selectinas e ICAM-1: são proteínas de adesão solúveis e que estão envolvidas na interação neutrófilo-endotélio e estão mais presentes em tecidos sob estímulo inflamatório agudo. 

- Endocan: proteoglicano solúvel secretado por células endoteliais. 



Vale a pena dar uma conferida no artigo: 

Anti-adhesive proteins and resolution of neutrophil-mediated inflammation . Immunobiology, Volume 218, Issue 8, August 2013, Pages 1085–1092. Boris K. Pliyev http://dx.doi.org/10.1016/j.imbio.2013.03.001


· Mantovani, A., Cassatella, M.A., Costantini, C., Jaillon, S., 2011. Neutrophils in the activation and regulation of innate and adaptive immunity. Nat. Rev. Immunol. 11, 519–531. 

· Fox, S., Leitch, A.E., Duffin, R., Haslett, C., Rossi, A.G., 2010. Neutrophil apoptosis: relevance to the innate immune response and inflammatory disease. J. Innate Immun. 2, 216–227. 

· Bratton, D.L., Henson, P.M., 2011. Neutrophil clearance: when the party is over, clean-up begins. Trends Immunol. 32, 350–357. 

· Norling, L.V., Serhan, C.N., 2010. Profiling in resolving inflammatory exudates identifies novel anti-inflammatory and pro-resolving mediators and signals for termination. J. Intern. Med. 268, 15–24. 

· Serhan, C.N., Dalli, J., Karamnov, S., Choi, A., Park, C.K., Xu, Z.Z., Ji, R.R., Zhu, M., Petasis, N.A., 2012. Macrophage proresolving mediator maresin 1 stimulates tissue regeneration and controls pain. FASEB J. 26, 1755–1765. 

· Ley, K., Laudanna, C., Cybulsky, M.I., Nourshargh, S., 2007. Getting to the site of inflammation: the leukocyte adhesion cascade updated. Nat. Rev. Immunol. 7, 678–689. 

· Deban, L., Russo, R.C., Sironi, M., Moalli, F., Scanziani, M., Zambelli, V., Cuccovillo, I., Bastone, A., Gobbi, M., Valentino, S., Doni, A., Garlanda, C., Danese, S., Salvatori, G., Sassano, M., Evangelista, V., Rossi, B., Zenaro, E., Constantin, G., Laudanna, C., Bottazzi, B., Mantovani, A., 2010. Regulation of leukocyte recruitment by the long pentraxin PTX3. Nat. Immunol. 11, 328–334. 

· Han, B., Haitsma, J.J., Zhang, Y., Bai, X., Rubacha, M., Keshavjee, S., Zhang, H., Liu, M., 2011. Long pentraxin PTX3 deficiency worsens LPS-induced acute lung injury. Intensive Care Med. 37, 334–342.


Post de Bruno Rocha da Silva (Doutorando em Biotecnologia- RENORBIO/UFC) e Edson H Teixeira (UFC-CE)