segunda-feira, 24 de junho de 2013

ATO II: Neutrófilo sai de cena...



Durante o processo inflamatório, um dos principais eventos necessários para uma resposta imune eficaz do organismo é o recrutamento de leucócitos para o local da lesão/infecção. Dentre tais células, os neutrófilos são os primeiros a se apresentarem ao sítio lesionado/infectado para desempenhar um papel crucial na resposta inflamatória (Bratton; Henson 2011). 

Recentemente, um artigo publicado na revista Immunobiology (http://dx.doi.org/10.1016/j.imbio.2013.03.001) traz uma interessante revisão sobre o papel das “anti-adhesive proteins” na resolução do processo inflamatório. Os mecanismos exatos para a reversão do processo de influxo de neutrófilos para o sítio lesionado, bem como para a completa evasão/eliminação dos mesmos no tecido, ainda não são bem estabelecidos (Norling; Serhan 2010). Contudo, acredita-se que a apoptose regulada de neutrófilos, após determinado período em tecido inflamado, seguido por fagocitose (macrófagos) é considerado um dos principais mecanismos responsáveis pela “limpeza” de neutrófilos em tecidos com inflamação resolvida (Serhan et al. 2012). Além disso, estudos mostram que neutrófilos são capazes de trafegar bidirecionalmente entre os sítios lesionados e os vasos circundantes, o que elucida um mecanismo auxiliar para o processo de remoção dessas células do tecido (Ley et al. 2007). 

Muito embora diversos mecanismos atuem realizando a completa remoção de neutrófilos do sítio lesionado, os mesmos seriam ineficazes sem uma devida supressão do recrutamento dessas células. Alguns estudos têm mostrado a atuação de determinados grupos lipídicos como mediadores anti-inflamatórios que, por sua vez, suprimem o recrutamento de neutrófilos (Deban et al. 2010). Entretanto, outros mecanismos como a regulação de proteínas anti-adesivas capazes de impedir ou reverter a interação neutrófilo-endotélio têm sido cada vez mais discutidos na literatura científica atual (Han et al. 2011). Em 1999, o artigo “Leguminous lectins as tools for studying the role of sugar residues in leukocyte recruitment” (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1781791/) já demonstrava o uso de lectinas como ferramentas biológicas para o estudo de carboidratos e adesinas envolvidas no processo inflamatório (normalmente a homeostase não era um foco nesses estudos).

Dentre as diversas proteínas que têm sido estudadas nesse campo nos últimos anos, destacam-se as que abaixo se seguem: 

- Pentraxin 3 (PTX3): proteína da fase aguda da inflamação secretada por vários tipos de células, incluindo leucócitos e células endoteliais. 

- Proteína C-reativa: proteína da fase aguda da inflamação mais conhecida na atualidade e mais comumente relacionada aos processos inflamatórios e infecciosos. 

- Glicoproteína α1-ácida: um das proteínas mais utilizadas para detectar reações inflamatórias em fase aguda. 

- Galectina-1: lectina de mamíferos expressada por diversas linhagens celulares e sobre-regulada em tecidos sob processo inflamatório. 

- Annexin-1: proteína constitutivamente expressa por várias células humanas e expressa somente sob estímulos inflamatórios. 

- Selectinas e ICAM-1: são proteínas de adesão solúveis e que estão envolvidas na interação neutrófilo-endotélio e estão mais presentes em tecidos sob estímulo inflamatório agudo. 

- Endocan: proteoglicano solúvel secretado por células endoteliais. 



Vale a pena dar uma conferida no artigo: 

Anti-adhesive proteins and resolution of neutrophil-mediated inflammation . Immunobiology, Volume 218, Issue 8, August 2013, Pages 1085–1092. Boris K. Pliyev http://dx.doi.org/10.1016/j.imbio.2013.03.001


· Mantovani, A., Cassatella, M.A., Costantini, C., Jaillon, S., 2011. Neutrophils in the activation and regulation of innate and adaptive immunity. Nat. Rev. Immunol. 11, 519–531. 

· Fox, S., Leitch, A.E., Duffin, R., Haslett, C., Rossi, A.G., 2010. Neutrophil apoptosis: relevance to the innate immune response and inflammatory disease. J. Innate Immun. 2, 216–227. 

· Bratton, D.L., Henson, P.M., 2011. Neutrophil clearance: when the party is over, clean-up begins. Trends Immunol. 32, 350–357. 

· Norling, L.V., Serhan, C.N., 2010. Profiling in resolving inflammatory exudates identifies novel anti-inflammatory and pro-resolving mediators and signals for termination. J. Intern. Med. 268, 15–24. 

· Serhan, C.N., Dalli, J., Karamnov, S., Choi, A., Park, C.K., Xu, Z.Z., Ji, R.R., Zhu, M., Petasis, N.A., 2012. Macrophage proresolving mediator maresin 1 stimulates tissue regeneration and controls pain. FASEB J. 26, 1755–1765. 

· Ley, K., Laudanna, C., Cybulsky, M.I., Nourshargh, S., 2007. Getting to the site of inflammation: the leukocyte adhesion cascade updated. Nat. Rev. Immunol. 7, 678–689. 

· Deban, L., Russo, R.C., Sironi, M., Moalli, F., Scanziani, M., Zambelli, V., Cuccovillo, I., Bastone, A., Gobbi, M., Valentino, S., Doni, A., Garlanda, C., Danese, S., Salvatori, G., Sassano, M., Evangelista, V., Rossi, B., Zenaro, E., Constantin, G., Laudanna, C., Bottazzi, B., Mantovani, A., 2010. Regulation of leukocyte recruitment by the long pentraxin PTX3. Nat. Immunol. 11, 328–334. 

· Han, B., Haitsma, J.J., Zhang, Y., Bai, X., Rubacha, M., Keshavjee, S., Zhang, H., Liu, M., 2011. Long pentraxin PTX3 deficiency worsens LPS-induced acute lung injury. Intensive Care Med. 37, 334–342.


Post de Bruno Rocha da Silva (Doutorando em Biotecnologia- RENORBIO/UFC) e Edson H Teixeira (UFC-CE)






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