quarta-feira, 16 de junho de 2010

O que é vida?


Trata-se de uma simples pergunta. Mas a resposta, a depender de quem a elabora, pode ser bastante complicada, se não incompreensível. Quando eu era um estudante de medicina, vi pela TV uma interessante discussão a respeito do tema. Os interlocutores eram um médico que trabalha com medicina reprodutiva, muito famoso (e um tanto polêmico) na Bahia e no Brasil, e um Arcebispo da Igreja Católica (quem nunca viu este vídeo tem que ver!). O tempo passa, os personagens mudam, mas a pergunta permanece sarcasticamente a mesma. Tem gente que diz: “Pra que responder isto? Eu hein..”. A verdade é que esta pergunta incomoda. Não é todo mundo que gostaria de ser entrevistado respeito do tema. Há alguns, porém, que se sentem muito à vontade, e apresentam segurança (considerada por outros questionável) em explicar o que é vida.

Neste contexto, a BMC Biology publica um artigo não usual, em estrutura de entrevista, com o Dr. Steven Benner, da Foundation for Applied Molecular Evolution (Florida, US). O Dr. Benner simplesmente iniciou a biologia sintética como campo de estudo científico. Como assim? O grupo deste pesquisador foi o primeiro a sintetizar um gene de uma enzima e a usar uma síntese orgânica para preparar os primeiros sistemas genéticos artificiais. Além disso, este pesquisador inventou o que o mesmo chama de “dynamic combinatorial chemistry”, que combina idéias de evolução molecular, enzimologia, química analítica e química orgânica para gerar estratégias de descobertas de pequenas moléculas como alvos terapêuticos. O cara fez um monte de outras coisas e quem tiver interesse pode consultar no website na FAME.

No artigo do BMC, Benner elabora respostas inteligentes, intrigantes e algumas polêmicas (a depender do ponto de vista do leitor). Há de tudo, inclusive uma explanação sobre o “risco” potencial do desenvolvimento de vida sintética, ilustrado aqui pela figura que encabeça o texto deste Blog. Provavelmente esta entrevista se dá em razão dos recentes acontecimentos na biologia artificial, tais como a publicação do artigo sobre a criação de uma bactéria controlada por um genoma sintético, que recebeu comentário neste Blog.

Seguem alguns trechos da entrevista, que pode ser baixada no site da BMC Biology.

Recent achievements in synthetic biology have raised the question of what we mean by 'life'. Is a definition possible?

Benner: Yes, one can always write out a definition for an abstract concept like 'life'. But a definition has value only if it is set within the context of a theory that gives its terms meaning, as Carol Cleland and Chris Chyba argue in their paper published in 2002. And a definition is most useful if it provides what a scientist needs.

For example?

Benner: Well, water can be defined as a molecule built from two atoms of hydrogen and one atom of water. But this definition must be set in the context of atomic theory from chemistry to have meaning. Further, for a scientist wishing to identify water, this definition may be less useful than an operational definition - for example, that water is a substance that freezes at 0°C, boils at 100°C, has a density of 1 gram per cubic centimeter, and the like.

How does this apply to life?

Benner: Consider this definition from a group of scientists empanelled by NASA in 1994 who suggested that life could be defined as a 'self-sustaining chemical system capable of Darwinian evolution'.

Self-sustaining? But doesn't most life need to eat something from outside itself?

Benner: Yes. But the panelists, when asked, pointed out that 'self-sustaining' was not used to mean that the life must not eat. Rather, the term means only that life must not need to be provided its sustenance through the action of an intelligent being, a gardener or a keeper.

Aren't you just defining life as we know it? Is this not a bit Earth-o-centric?

Benner: This definition is grounded in a deeply held theory of life, as I argue in my book Life, the Universe and the Scientific Method. It tells us what we definers believe about what is possible in reality and what is not. Thus, we can conceive, and many science fiction authors have conceived, of life made from pure energy or not requiring Darwinian evolution to exist. Surely, if we encountered such beings during a real (not fictional) star trek, and if they were to talk to us (as aliens generally do in science fiction), we would instantly revise our definition to include them. We do not do so now because we do not believe that they could possibly exist. That is, we believe that anything that has the attributes of life would be chemical and would have come to exist via Darwinian evolution. Admittedly, those beliefs are based on our knowledge of Earth life, and of no other.

Algumas perguntas à frente…

The Economist claims that with Venter's synthesis of a cell, a 'new era of synthetic biology is dawning'. Is this true?

Benner: Certainly not. Synthetic biology has been with us ever since recombinant DNA technology first allowed biologists to synthesize new forms of life - at least in the sense of constructing new DNA molecules and putting them into cells. In fact, the term 'synthetic biology' was coined in 1974 by Waclaw Syzbalsky to describe the application of recombinant DNA technology to generate organisms with new genetic properties. What Venter demonstrated is that it can be extended to replacement of the entire genome of a cell, not just changing parts of it.

Is there value in doing this synthesis?

Essa resposta eu deixo vocês lerem no paper...

Fonte: Benner SA: Q&A: Life, synthetic biology and risk. BMC Biology 2010, 8:77. doi:10.1186/1741-7007-8-77.

2 comentários:

  1. Tenho que dizer mais uma coisa: qualquer forma de vida, se estiver no Brasil, para pra ver a selecao jogar...mesmo que seja pra se decepcionar!

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  2. Bruno: eu soh mudaria seu comentario para: "qualquer forma de vida brasileira, se estiver ou nao no Brasil, para pra ver a selecao jogar... " Se fosse o Fabio la, a Coreia na faria aquele gol... Um abraco!

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