De acordo com artigo publicado no Science Translational
Medicine, agosto de 2012, o uso da técnica de sequenciamento de genoma total combinado
à bioinformática levaram um grupo multidisciplinar de pesquisas do NIH a
identificar uma cepa de Klebsiella
pneumoniae produtora de carbapenemase – resistente a drogas de última
escolha –, rastrear seu curso de infecção entre pacientes e em equipamento hospitalar
e efetivamente conter um surto que matou 11 pacientes no principal hospital de
pesquisa dos Estados Unidos, o Clinical Center do National Institutes of Health
(NIH, Bethesda, MD).
No meio do surto, em 2011, Evan Snitkin, um pós-doutorando
bioinformata escutou colegas conversando sobre o surto no laboratório, no
National Human Genome Research Institute (NHGRI) do NIH. Ele então conversou
com sua chefe, a pesquisadora de microbioma humano Julia Segre, a qual
participou do Projeto Genoma Humano, e disse que achava que poderia resolver o
problema utilizando a técnica de whole-genome sequencing dos isolados. Um total
de 18 pacientes seriamente comprometidos adquiriram a bactéria, sendo que sete
morreram da infecção.
Segre levou a sugestão a Tara Palmore, epidemiologista do
Clinical Center, a qual tentava conter o surto que havia driblado todas as
medidas de controle. Eles então se uniram, sequenciaram as bactérias e Snitkin
construiu o algoritmo que revelou como o microorganismo havia entrado e se
disseminado pelo hospital. Isto possibilitou-lhes adotar as medidas que
contiveram o surto.
A cepa da bactéria Klebsiella
pneumoniae contendo o gene da carbapenemase foi identificada como
pertencente à linhagem epidêmica ST 258, detectada pela primeira vez no Clinical
Center do NIH em Junho de 2011 em uma paciente que havia sido transferida de
uma clínica em Nova York. Os médicos do hospital do NIH pensaram que haviam
tomado as devidas precauções para prevenir a disseminação, mas outro paciente pouco
tempo depois adquiriu a bactéria.
Após o segundo paciente ser infectado, Palmore e seu grupo tomaram
medidas de precaução cada vez mais rigorosas para tentar conter a disseminação
da infecção. “Foram momentos extremamente estressantes uma vez que a bactéria
era tão resistente e parecia quase impossível de ser tratada”. Apesar dos
esforços, ainda não havia explicação de como a bactéria estava se disseminando
e de onde tudo havia começado. Foi aí que Segre e seu grupo entraram em cena.
A partir do sequenciamento do DNA da bactéria de cada um dos
pacientes, o grupo foi capaz de rastrear a cepa à paciente de Nova York, a
fonte primária. Combinados com dados de rastreamento epidemiológico
tradicionais, os resultados do sequenciamento total do genoma mostraram que a
bactéria foi transmitida a outros pacientes em 3 ocasiões separadas. Palmore então
tomou medidas ainda mais estritas de controle da infecção e iniciou uma
vigilância que cobriu todo o hospital. Estas medidas incluíram o uso de vapor
de peróxido de hidrogênio para fumigar e higienizar os quartos, isolamento mais
cuidadoso dos pacientes e das pessoas que cuidaram destes e lavagem de mãos
rigorosamente reforçada. Além disso, os pacientes foram tratados com antibióticos
da classe carbapenema, as drogas de último recurso às quais as bactérias eram
resistentes, mas que tiveram alguma eficácia no tratamento dos pacientes
infectados.
Julia Segre, David Henderson, Tara Palmore e Kevin Snitkin
Fontes:
Snitkin ET AL., Tracking a Hospital Outbreak of
Carbapenem-Resistant Klebsiella pneumoniae with Whole-Genome Sequencing, Sci
Transl Med. 2012 Aug 22;4(148):148ra116. doi: 10.1126/scitranslmed.3004129.
Benderl, Postdoc's Alertness Key to "Groundbreaking"
Advance, Science Career Magazine, August 02, 2013, 10.1126/science.caredit.a1300159.
Post por Ester Roffê, Pós-doc, Laboratório de Imunologia, CPqRR/Fiocruz-MG
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