As células que revestem o trato reprodutivo feminino
humano expressam continuamente uma proteína imune que pode ajudar a proteger
contra a infecção, de acordo com um estudo publicado sexta passada (28 de
fevereiro) na revista Science. A proteína, chamada IFN-ε, melhora os sintomas
de herpes genital e clamídia em camundongos.
Outros IFNs do tipo 1 são apenas expressos quando um
patógeno está presente. Mas o IFN-ε, caracterizado pela 1a vez em
2004, parece ser uma exceção. "Nós achamos que ele está lá o tempo todo,
preparando o sistema para que você sempre tenha algum grau de proteção",
disse Paul Hertzog, imunologista do Instituto Monash de Pesquisa Médica, na
Austrália, um dos descobridores do IFN-ε, e um dos autores do artigo novo.
Hertzog e seus colegas testaram se as vias que
normalmente ativam IFNs tipo 1 teriam qualquer influência sobre o IFN-ε em
células murinas e descobriram que elas que não alteram a expressão da proteína.
IFN-ε estava constantemente presente no trato reprodutivo murino em alguma
quantidade, na ausência de ativadores-chave, embora seus níveis variassem de 30
vezes, dependendo do período das fêmeas durante o seu ciclo estral.
Os pesquisadores também mediram IFN-ε em mulheres e
descobriram que, como nos camundongos, os níveis de proteínas variaram com o
ciclo menstrual. Após a menopausa, a citocina desapareceu quase totalmente. Os
padrões de sua flutuação indicaram que o estrógeno promovia sua expressão,
enquanto derivados de progesterona e progesterona a suprimiam. Com certeza,
estrógeno dado a fêmeas que tiveram seus ovários removidos induziu a expressão
de IFN- ε, o que apoia esta ideia.
Para explorar as implicações clínicas de sua
descoberta, a equipe criou camundongos sem o gene para IFN-ε e os expôs ao
vírus herpes e clamídia. Descobriram que os sinais de infecção foram mais
graves nos camundongos knock-out (KO) de IFN-ε. KO expostos a herpes genital
tinham feridas mais graves que os controles e níveis virais mais elevados na
medula espinhal, tronco cerebral e vagina. KO expostos a clamídia tiveram mais
sinais visuais de infecção e mais bactérias em seus tratos reprodutivos.
Segundo Charani Ranasinghe, imunologista da
Universidade Nacional Australiana, cuja recente pesquisa sugere que o IFN-ε
pode combater as infecções locais no intestino, pulmões e do trato reprodutivo,
“IFN-ε está envolvido na imunidade da mucosa, e também pode ser usado como um
tratamento contra várias infecções das mucosas".
Hertzog quer pesquisar também a influência de IFN-ε
sobre outras DSTs, infecções fúngicas e até mesmo câncer. Acrescentou que
poderia, potencialmente, ser usado como terapia para proporcionar às mulheres
uma melhor proteção contra patógenos, e que a compreensão do sistema imunitário
vaginal pode levar a uma melhor compreensão de como formular vacinas para DSTs.
Fonte:
K.Y. Fung, N Mangan & P Hertzog.
Interferon-ε protects
the female reproductive tract from viral and bacterial infection. Science,
399:1088-92 de 2013.
Parabéns pelo post João! Esse é um tema bem interessante e que ainda precisamos aprender muito sobre ele!
ResponderExcluirRecentemente saíram algumas publicações que tem nos ajudado a entender um pouco melhor como ocorre a resposta imune no trato genital e como ela se relaciona com as DSTs.
O trabalho de Shimada e cols. demonstrou recentemente como a infecção pelo Herpes simplex virus pode facilitar o estabelecimento de uma segunda infecção, como por HIV por exemplo. [Antimicrobial peptide LL-37 produced by HSV-2-
infected keratinocytes enhances HIV infection of
Langerhans cells. Cell Host Microbe 13, 77–86
(2013); http://www.nature.com/nri/journal/v13/n3/pdf/nri3402.pdf]
Outro trabalho mostrou que a altas concentrações de IL-7 presente no sêmem de indivíduos HIV+ pode estar relacionado à inibição de apoptose e proliferação de LT CD4+. [Introini A, Vanpouille C, Lisco A, Grivel J-C, Margolis L (2013) Interleukin-7 Facilitates HIV-1 Transmission to Cervico-Vaginal Tissue ex vivo. PLoS Pathog 9(2): e1003148. ]
Pelo jeito, essa guerra de citocinas e outros peptídeos parece que ainda está longe de ser completamente desvendada...
Obrigado, Leonardo Lima. Concordo com você. Em termos de citocinas, clusters de diferenciação e outras proteínas, acho que ainda estamos apenas na ponta do iceberg. E olha que nem estamos falando em lipídios e carboidratos ainda...
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