quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Academic tone-trolling: como a interatividade impacta a comunicação científica online?”


Post de João P. M. Carmo

O “admirável mundo novo” da ciência encontra neste blog o “admirável mundo novo da tecnologia online”, através do texto “Academic tone-trolling: como a interatividade impacta a comunicação científica online?”
Antes, porém, de entrarmos no mérito do blog em si, penso que seria interessante definir o que vem a ser “tone-trolling”. Basicamente, poderia ser traduzida como “trolha”, pilhagem, piada, tentativa de ridicularização e assim por diante. Mas o que se discute no texto, e a partir de agora, é como o TOM em que essa informação, em forma de piada ou ironia, científicas ou não, pode repercutir em diferentes resultados.
Segundo o blog Rabett Run (http://rabett.blogspot.com.br/2010/04/advanced-trolling-101.html), através do “tone troll” é bastante possível provocar, ridicularizar, escarnecer, zombar, enfim, mofar de alguém, “com todo o respeito”. Por outro lado, acredita-se que seria ingênuo esperar que houvesse menos educação em comentários de um blog do que em reuniões acadêmicas “mundanas” comuns. Propôs-se que um tom adequado seria quando fosse mais desafiador, inspirador e divertido o esforço para se provocar alguém, mas “com todo o respeito” e educação. Como em todo lugar, a chave é a autenticidade. Mas quem pode jugar se um intercâmbio de informações é realmente autêntico? Algo entre uma máfia e uma divindade deve ser moderado...
            Além de blogs, Twitter, G+, Facebook, outras interfaces também cultivam um espaço onde os comentaristas podem discordar com vigor de um autor, mas permanecer comprometido com um diálogo real, neste “admirável mundo novo online”, que passa a ser bastante desafiador. Assim, as vezes esse diálogo pode sair dos trilhos. O que direciona essa diferença? Como se pode identificar quem comenta simplesmente para causar problema versus alguém que se engaja para adicionar valor a um debate genuíno? Que influência esta capacidade de se engajar via redes sociais, as quais exercem influência sobre a própria mídia social e o conteúdo e a direção da comunicação científica?
            Dominique Brossard e Dietram Scheufele (Science, 2013) levantam outras questões sobre os efeitos da mudança da comunicação da informação científica para o público, de jornais impressos convencionais para revistas e espaços interativos online. Em suma, elas puderam identificar que apenas o tom dos comentários a histórias científicas em ambientes Web 2.0 podem alterar significativamente como as audiências pensam sobre a própria tecnologia. Estes achados sugerem também que pode haver melhores e piores  maneiras de se administrar os comentários ao seus posts, se o seu objetivo é ajudar os leitores a entender um trecho particular da ciência.
            Assim, a mensagem que fica é a seguinte: os cientistas sociais ainda não descobriram todos os fatores que importam em como a audiência para a ciência online vai receber e responder ao que está sendo oferecido – quem de nós distribui conteúdo científico online deve assumir que nós também não descobrimos todos os fatores.

Referências:

Academic tone-trolling: How does interactivity impact online Science communication? Stemwedel J. Scientific American online. Jan 28th, 2013.
Science, New Media, and the Public. Brossard D & Scheufele D. Science Jan 4th, 2013: Vol. 339, pp. 40-41.
Brave New World. Aldoux Huxley. 1932.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Pesquisa pública, publicação privada



Eu ia escrever um post completamente diferente, mas li esse artigo recentemente e pensei q essa é uma discussão que tem q ser enfocada. Principalmente porque me causa inquietação fazer parte desse sistema. E eu nem tentei re-escrever ou escrevê-lo de outra forma, pois não poderia fazer melhor que o autor, o Richard Monvoisin.

 Recomendo.

Pesquisa pública, publicação privada

por Richard Monvoisin




Às pesadas prateleiras das bibliotecas universitárias se somam cada vez mais uma enxurrada de publicações especializadas on-line, que oferecem, sem atraso e normalmente de graça, os últimos resultados dos laboratórios de pesquisa

"Publicar ou apodrecer”: a sentença do zoologista Harold J. Coolidge1 resume a vida de um pesquisador. Pouco importa, para seu prestígio acadêmico, que seu modo de ensinar seja brilhante, seus estudos sejam bem fundamentados ou que ele seja gentil com os colegas: a avaliação do trabalho de pesquisa repousa de forma definitiva apenas na soma e na qualidade dos artigos publicados nas revistas científicas. A exposição ordenada dos resultados, passando pela humilhação da releitura por especialistas no assunto – o que chamamos normalmente de releitura dos pares, ou peer-review–, é a chave para isso.

As publicações são especializadas de acordo com a área de pesquisa. Assim, um especialista em história moderna da França tem à escolha uma dezena de revistas nacionais, e cerca de uma centena de periódicos acolhem os trabalhos de pesquisa feitos em física. Para escolher em que porta bater é preciso adaptar as pretensões, levando em conta o fator do impacto da revista, quer dizer, seu valor no mercado do saber. Esse valor é fundado não na audiência, mas no número médio de citações dos artigos da dita revista em outros artigos científicos.2 É conveniente acertar o alvo: muito baixo (uma revista pouco conhecida), e o artigo não será apreciado de acordo com seu valor, independentemente de sua qualidade; muito alto (as melhores publicações), e ele pode ser bloqueado durante meses pelos avaliadores, para no final ser recusado. Por ser feroz a concorrência entre as equipes de pesquisa, corre-se, então, o risco de ser ultrapassado na linha de chegada.

Além de o autor do artigo não ser pago, seu laboratório deve, frequentemente, participar nos gastos de secretaria ou impressão. Em troca, ele recebe capital simbólico (reconhecimento, prestígio): o direito de indicar o título do artigo – envolto na aura de seu fator de impacto – em seu curriculum vitae. Os leitores-avaliadores do artigo, por sua vez, são cientistas anônimos solicitados pela revista; eles também são remunerados apenas em capital simbólico. Quando um pesquisador submete um texto numa área muito específica, seus juízes às vezes participam da mesma corrida. Claro, a honestidade e a boa-fé predominam e, em caso de conflito de interesses patente, é possível recusar antecipadamente um avaliador concorrente. Mas as disputas por influência e os conluios são inevitáveis. A pesquisa moderna se transforma, então, em uma arena percorrida por centenas de hamsters na qual, como nos clássicos videogames, se multiplicam poças de óleo, cascas de banana e rasteiras.

Essa mecânica não cooperativa parece hoje “sem fôlego”3 e pesa na qualidade de produção do conhecimento. As grandes revistas estão congestionadas; resultados não acabados, de interesse medíocre, são por vezes publicados de maneira precipitada; os resultados negativos – quer dizer, sem conclusão –, que no entanto são muito úteis, nunca são publicados.4

E o sistema de releitura pelos pares está longe de garantir a honestidade de todas as publicações. Resultados fraudulentos, maquiados para melhor seduzir, às vezes até completamente forjados, superam regularmente esse filtro. Podemos citar os casos de Jan Hendrik Schön, físico alemão dos laboratórios Bell desmascarado em 2001; de Hwang Woo-suk, biólogo sul-coreano descoberto em 2005; ou do psicólogo Diederik Stapel, que se demitiu em 2011. Depois de ter estudado os 17 milhões de publicações científicas, de 1950 a 2007, referenciadas pela base de dados Medline, os pesquisadores Murat Çokol, Fatih Ozbay e Raul Rodriguez-Esteban observaram que a porcentagem de retratações de artigos pelas revistas “tem aumentado” significativamente desde os primeiros escândalos científicos, nos anos 1970. Esses casos tinham conduzido à instalação do Office of Research Integrity (ORI), escritório norte-americano pela integridade na pesquisa.5

A avaliação dos pesquisadores é comprometida: a busca por citações engendra uma forma de tráfico de influências, levando, por exemplo, à citação de amigos. Encontram-se igualmente artigos assinados por dezenas de nomes: os dos jovens pesquisadores que realizaram o essencial do trabalho e os dos diretores de laboratório, claramente menos implicados – revelando um procedimento que pode ser legítimo no caso de trabalhos fundadores que tenham efetivamente contado com um grande número de participantes. Impõe-se, assim, o que o sociólogo Robert K. Merton chamava de “efeito Mateus” (São Mateus: “Porque, àquele que tem, se dará e terá em abundância; mas, àquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado”), um encadeamento de mecanismos pelos quais os mais favorecidos, no caso os mais citados, tendem a ganhar vantagem sobre os outros, que irão encher as colunas das revistas medíocres e pouco lidas.

Esse sistema se revela, além do mais, muito dispendioso para a comunidade científica. O contribuinte financia uma pesquisa que o cientista publicará – muitas vezes à sua custa – em uma revista endossada por uma empresa privada, que outros pesquisadores deverão avaliar gratuitamente e que as universidades deverão, em seguida, comprar a preço de ouro. É possível dizer, com efeito, que a literatura científica custa caro. A metade do orçamento de funcionamento das bibliotecas universitárias vai embora nas assinaturas, o que prejudica imediatamente os estabelecimentos menos ricos e tem repercussões sobre astaxas de matrícula dos estudantes.6

Ascensão da Elsevier

Uma editora, a Elsevier, cresce em poder e chama a atenção. Sua história começa nos anos 1580, em Louvain, na Bélgica. Um certo Lodewiejk Elzevir (1542-1617), tipógrafo, fundou uma empresa de publicação e difusão de livros, em particular de clássicos latinos. A empresa familiar subsistiu com dificuldade por algumas décadas, depois desapareceu com o último de seus representantes, em 1712. Em 1880, em Amsterdã, nasceu a Elsevier, em homenagem a essa antiga editora. Em pouco mais de um século, ela tomou conta de uma grande parte da publicação científica no mundo. Em 1993, a fusão das empresas Reed International e Elsevier PLC criou a Reed-Elsevier, segundo maior conglomerado de edição mundial, atrás da Pearson.7 Agora proprietária da revista Cell, do Lancete de coleções de livros como Gray’s anatomy, a Elsevier publica 240 mil artigos por ano em cerca de 1.250 revistas. Seus lucros se aproximaram de 1 bilhão de euros em 2011.8 Para algumas bibliotecas, a assinatura anual dos jornais da editora representa cerca de US$ 40 mil. Para os 127 estabelecimentos franceses onde as compras de assinaturas eletrônicas são gerenciadas pela Agência Bibliográfica do Ensino Superior, as publicações Elsevier custaram 13,6 milhões de euros em 2010.

Até agora, nos Estados Unidos, os Institutos Nacionais de Saúde tinham o costume de exigir dos pesquisadores que colocassem em acesso livre o resultado dos trabalhos financiados pelo contribuinte. Quando, em dezembro de 2011, foi apresentado ao Congresso um projeto de lei proibindo esse procedimento, muitos cientistas se revoltaram. Em 21 de janeiro de 2012, o matemático Timothy Gowers, ganhador da medalha Fields em 1998, anunciou que boicotaria a partir de então a Elsevier. Depois de um artigo no Guardian, em Londres, e depois no New York Times,9 ele foi acompanhado por outros 34 matemáticos. Logo foi lançada uma petição intitulada “The cost of knowledge” (“O custo do conhecimento”), assinada por mais de 10 mil pesquisadores acadêmicos. A Universidade Paris 6, que gasta mais de 1 milhão de euros por ano com essas assinaturas, entrou no boicote.

As bibliotecas, de mãos atadas, podem apenas apoiar o boicote; por exemplo, o conselho de administração da Universidade Harvard, que conta todo ano com US$ 3,75 milhões para comprar revistas, encorajou seus 2,1 mil professores e pesquisadores a colocar suas pesquisas à disposição on-line.10 “Espero que outras universidades façam a mesma coisa”, declarou Robert Darnton, diretor da biblioteca.11 “Estamos todos confrontados com o mesmo paradoxo. Fazemos as pesquisas, escrevemos os artigos, trabalhamos no referenciamento dos artigos de outros pesquisadores, tudo de graça... Em seguida, compramos o resultado do nosso trabalho por um preço escandaloso.”

Já existem algumas soluções, em particular na área da publicação livre e aberta (com os sites PLoS, HAL, arXiv...). A longo prazo, a comunidade dos pesquisadores não terá outra escolha a não ser desenvolver melhor essas soluções a fim de burlar o sistema.

Richard Monvoisin

É pesquisador e membro do Coletivo de Pesquisa Transdiciplinar Espiríto Crítico e Ciências (Cortecs), em Grenoble


Ilustração: Orlando

1 Harold Jefferson Coolidge, Archibald Cary Coolidge: life and letters, 1932.
2 Deve-se o fator de impacto a Eugène Garfield, fundador do Institute for Scientific Information, cujo primeiro Science Index data de 1963.
3 Laurent Ségalat, La science à bout de souffle? [A ciência sem fôlego?], Seuil, Paris, 2009.
4 Brian Martinson, Melissa Anderson e Raymond de Vries, “Scientists behaving badly” [Cientistas se comportando mal], Nature, Londres, n.435, 9 jun. 2005.
5 Murat Çokol, Fatih Ozbay e Raul Rodriguez-Esteban, “Retraction rates are on the rise” [Taxas de retração estão em ascensão], EMBO Reports, 2008.
6 Ler Isabelle Bruno, “Pourquoi les droits d’inscription universitaires s’envolent partout” [Por que as taxas de matrícula universitárias aumentam em todos os lugares], Le Monde Diplomatique, set. 2012.
7 Livres Hebdo, Paris, 22 jun. 2012.
8 Reed-Elsevier, Annual reports and financial statements 2011. Disponível em: <www.elsevier.com/about/annual-reports>.
9 “Scientists sign petition to boycott academic publisher Elsevier” [Cientistas assinam petição para boicotar a editora acadêmica Elsevier], The Guardian, Londres, 2 fev. 2012; “Mathematicians organize boycott of a publisher” [Matemáticos organizam boicote a editora], The New York Times, 13 fev. 2012.
10 Faculty Advisory Council Memorandum on Journal Pricing, “Major periodical subscriptions cannot be sustained” [Principais assinaturas não podem ser sustentadas], 16 abr. 2012. Disponível em: <http://www.harvard.edu/>.
11 Ler Robert Darnton, “La bibliothèque universelle, de Voltaire à Google” [A biblioteca universal, de Voltaire ao Google], Le Monde Diplomatique, mar. 2009.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

We can go further: Systems Immunology



Vitor R R de Mendonça
Com a Biologia de Sistemas em voga no cenário da pesquisa mundial, o ramo da Imunologia de Sistemas surge nos últimos anos de modo tímido e promissor. A comunidade científica está cada vez mais exigente e a explicação da resposta imune a diversas doenças requer não mais uma descrição de fatores isolados e independentes, mas de uma visão de vias de modo integral e global. Desta forma, a Imunologia de Sistemas visa entender e predizer interações imune complexas através da integração e análise por bioinformática de dados gerados através de experimentos moleculares e celulares de grande output.  Como exemplos de ferramentas desta área, observa-se a expressão de RNA “genome-wide”, análise de citocinas por multiplex, citometria de fluxo policromática, caracterização de anticorpos por conjunto de proteínas, e metabolômica. 
Pode-se dividir o estudo da Imunologia de Sistemas através das análises da expressão gênica (RNA), dos produtos genéticos (proteínas, metabólitos, anticorpos), e do fenótipo e função celular. A partir do conhecimento do genoma humano, novas técnicas permitem quantificar os níveis dos transcritos de RNAm para cada gene humano conhecido em apenas um experimento. A caracterização “genome-wide” da expressão gênica é uma etapa importante para entender o funcionamento global da biologia de sistemas. Os métodos mais utilizados para este fim são os de hibridização (microarrays ou beads microscópicas) e o mais avançado e recente sequenciamento amplo do genoma (RNA-seq). Os transcritos de RNA são apenas uma parte do complexo sistema que também inclui proteínas (citocinas, quimiocinas, anticorpos e moléculas de superfície) e metabólitos, que moldam a qualidade da resposta imune. Idealmente, todas as proteínas induzidas na resposta imune poderiam ser diretamente dosadas do que confiar nas mensurações por RNA, mas isso não é possível com a tecnologia proteômica atual. Desta maneira, experimentos multiplex para quantificação de proteínas têm sido empregados para validar a expressão proteica de genes selecionados e focar naqueles de particular interesse.  Para análise do fenótipo celular, a citometria de fluxo tem sido bastante usada, apesar do pequeno número de fluorescências limitar a análise de muitos subtipos celulares. 
No que se refere à malária, poucos estudos demonstraram a importância da análise de expressão “genome-wide” na resposta imune em indivíduos infectados pelo Plasmodium falciparum. Estes trabalhos possibilitaram a identificação de perfis de expressão gênica associadas com uma maior susceptibilidade à malária, vias de sinalização importantes envolvendo TLRs e IFN-gama em modelos experimentais, e diferenças na resposta imune em indivíduos experimentalmente infectados daqueles naturalmente infectados e residentes da área endêmica. Em uma próxima etapa, vai ser crucial incrementar estes estudos pioneiros através da aplicação de todas as ferramentas da Imunologia de Sistemas disponíveis em estudos longitudinais robustos para melhor caracterização da resposta imune contra o plasmódio.
A Imunologia de Sistemas representa uma possível ferramenta de análise integrada que pode ajudar a desvendar o sistema imune e o seu funcionamento em resposta a diversas patologias, através de uma visão dinâmica e sistemática. Contudo, limitações, como a disponilidade da tecnologia restrita a poucos centros de pesquisa no mundo, tornam o estudo por sistemas mais complicado. Maiores informações podem ser encontradas na brilhante revisão recentemente publicado por Tran e colaboradores (2012).

Tran TM, Samal B, Kirkness E, Crompton PD. Systems immunology of human malaria. Trends Parasitol. 2012 Jun;28(6):248-57.
Figura acima do post retirada do trabalho acima.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Concurso Púbico para Imunologista

Nome Concurso: EDITAL FMRP-USP Nº 083/2012 - ABERTURA DE INSCRIÇÕES AO CONCURSO DE TÍTULOS E PROVAS PARA O PROVIMENTO DE 01 (UM) CARGO DE PROFESSOR DOUTOR
Modalidade: Ingresso na Carreira Prof. Doutor
Departamento: Bioquímica e Imunologia
Disciplina: Com base no conteúdo do programa da Área de Imunologia - Disciplinas de RCG0243 – Imunologia, RCG2018 – Imunologia e RNM4204 – Imunologia Básica
Quantitade de Vagas: 01
Período de Inscrição: 02/01/2013 a 04/03/2013
Local de Incrição: [FMRP-USP] - Assistência Técnica Acadêmica
Maiores Detalhes clique aqui

CTLA-4 controla o desenvolvimento tímico de células T convencionais e reguladoras pela modulação do repertório do TCR



                                   Expressão de CTLA-4 no timo. Fonte: Verhagen et al., 2013, PNAS.


CTLA-4 é de importância fundamental para a tolerância própria e a sua deficiência ou a presença de polimorfismos estão associados às doenças auto-imunes. Tolerância a antígenos próprios é obtida pela deleção tímica de células T convencionais altamente auto-reativas e a geração de células T reguladoras (Treg) FoxP3+. Uma das principais moléculas co-estimuladoras, o CD28, aumenta a seleção negativa de células T convencionais e promove a geração de células Treg FoxP3+. O papel do seu antagonista homólogo CTLA-4, entretanto, permanece ainda em debate.

Recentemente, mais um artigo científico foi publicado na revista PNAS objetivando esclarecer essa questão. O estudo foi coordenado pelo pesquisador David C. Wraith, da Escola de Medicina Molecular e Celular da Universidade de Bristol no Reino Unido.

No estudo, eles investigaram o desenvolvimento tímico de células T na presença e ausência de CTLA-4, utilizando um modelo murino trangênico de TCR para um peptídeo específico da proteína básica Mielina Ac1-9. Os resultados demonstraram que CTLA-4 é expresso na região cortico-medular do timo, sugerindo um papel dessa molécula na seleção negativa nesse órgão. Sua ausência altera a resposta de timócitos CD4+CD8- ao reconhecimento contra o antígeno próprio, que afeta a quantidade de células Treg geradas e amplia o repertório de células T convencionais periféricas. A mudança do repertório de células T, após deleção de CTLA-4, altera o processo de rearranjo do TCRα e a diversidade e sequência de regiões endógenas do CR3α em células T convencionais e Treg. Os resultados do  estudo demostram que o CTLA-4 regula o desenvolvimento inicial de células T auto-reativas no timo e desempenha um papel importante na tolerância central.

Referência:
- Verhagen J, Genolet R, Britton GJ, Stevenson BJ, Sabatos-Peyton CA, Dyson J, Luescher IF, Wraith DC. CTLA-4 controls the thymic development of both conventional and regulatory T cells through modulation of the TCR repertoire. Proc Natl Acad Sci U S A. 2013 Jan 15;110(3):E221-30.

domingo, 27 de janeiro de 2013

O Quinteto Fantástico


              Desde a descoberta do fator de transcrição Foxp3, fundamental para o desenvolvimento de células T reguladoras, o estudo da imunologia conseguiu esclarecer questões intrigantes a respeito da homeostase imunológica e manutenção da tolerância.

          Destes quase 10 anos de pesquisa, em torno do Foxp3, concluiu-se que ele é o maestro que orquestra a rede transcricional de células T reguladoras. Porém, todo bom maestro necessita de uma boa orquestra para que haja sinfonia adequada. Em busca dessa orquestra, o comentário da NATURE de setembro de 2012 reuniu alguns trabalhos que exploraram a rede de interações que Foxp3 estabelece. A análise do INTERACTOMA da células T reguladoras, permitiu a descoberta de 361 proteinas que são reguladas, positiva ou negativamente pelo Foxp3.

                Estudos computacionais, indicaram a participação especial de 5 solistas; os fatores de transcrição Eos, IRF4, GATA-1, Lef1 ou Satb 1, que quando expressos juntamente com Foxp3 contribuem para a aquisição de características inerentes às Tregs.

           Este quinteto, que inspirou o tema deste post, parece interagir com o Foxp3  aumentando a ocupação dos seus genes alvos. Os autores mostraram que a expressão de Foxp3 e pelo menos mais um dos membros do quinteto confere à célula um estado basal distinto, que permite sua auto preservação e manutenção da regulação de genes característicos das Tregs. Essas células foram denominadas de “Treg cell-like cells”. Com a aquisição deste fenótipo parcial, os autores sugerem a exitência de múltiplos circuitos moleculares redundantes, necessários para aquisição da função da Treg.

        Em resumo, estes estudos indicam que os diversos estados de diferenciação de Tregs são determinados pela atividade coletiva dessa rede transcricional e o conhecimento de tais interações ajuda no entendimento da biologia das células T reguladoras, como a estabilidade do estado de diferenciação. E com isso, nós pesquisadores (ou aspirantes, como eu!) damos um passo adiante para a utilização e aplicação destas células em terapias contra doenças cuja regulação do sistema imune esteja afetada.

Post de Marcela C. S. Françozo - FMRP/Iba

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Para os Eosinofilósofos, Amantes e Interessados Nesta Fascinante Célula !!!!!


Este é um meeting de muita interação e muito interessante !!! As inscrições e submissão de resumos estão abertas !!! See you in July !!!!


Registration is now open for the 8th Biennial Symposium of the International Eosinophil Society, Inc. (IES)!




The 8th Biennial Symposium of the IES will be held in Oxford, United Kingdom, from 13-17 July 2013, including the Hypereosinophilic Syndrome Workshop on 17 July.
This is the only meeting devoted to the role of the eosinophil and is a must for scientists and clinicians interested in the role of the eosinophil in health and disease. The emphasis of the meeting will be on fostering informal interactions between clinicians and non-clinical scientists and between established investigators and scientists new to the field. We are particularly keen to support junior scientists who are embarking on a career in science. A central part of the meeting will be oral presentations and poster discussions of submitted abstracts. To foster these interactions the meeting will be held in the state of the art conference facilities in Keble College, one of the architecturally most attractive of the Oxford colleges, a city world famous for its beauty and history. Delegates will have the opportunity to stay at Keble College. The welcome reception and gala dinner will be held in the beautiful 19th Century dining hall. There will be plenty of time for social interactions allowing visits to the world famous museums and punting on the River Isis. The meeting consists of a balanced mix of basic science and clinically orientated talks, invited lecturers and oral presentations from submitted abstracts. The tradition of holding a workshop on hypereosinophilic syndrome will be maintained and presented on 17 July. New to this meeting will be a session on eosinophil methodology catering to scientists new to the field who wish to pick up tips on the optimal methods for interrogating eosinophil function.
Excellent science, conviviality, beauty, culture, and leisure; we certainly have the ingredients for a very successful symposium. All it needs is for you and your colleagues to come along and bring the meeting alive.
Andy Wardlaw, Tim Williams, Barry Kay and Clare Lloyd
Local Organising Committee

Abstract Submission Deadline: 1 April 2013

Early Registration Deadline: 30 April 2013

To take advantage of the member registration rates, please join or renew your dues prior to registering for the meeting. Renew or join today.

A dor e delicia de ser um pos-doc

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Ser um pos-doc não o é a mais fácil das profissões. Espere lá, pos-doc não é profissão. É uma fase, é temporário, vai passar, como um resfriado insistente. Aliás, o que então significa ser um pos-doutorando?


O dicionário nos explica: “postdoctoral: of, relating to, or denoting research undertaken after the completion of doctoral research”. Agora sim. Não somos aluno, não somos professores. Será que somos um profissional sem terra, sem direitos, sem profissão?


O fato é que em 2008, as estimativas mostravam que 89.000 pessoas resolveram seguir os caminhos da ciência só nos EUA, e vai saber quantos outros no Brasil. Muitas e muitas pessoas com completa lealdade a seu trabalho.  


Então, como um pos-doc que sou ou que estou, sempre senti muita necessidade de escrever sobre as nossas perspectivas neste blog. Ainda que ser pos-doc seja apenas temporário, somos qualificados e necessários demais para não recebermos devida atenção.

De acordo com o National Pos-doctoral Association, “um nível apropriado de compensação, plano de saúde, e outros benefícios deveriam ser garantidos, independente da origem da instituição financeira que auxilia o pos-doc.  

Damos vida aos projetos, fazemos a máquina andar, guiamos outros alunos, somos de certa forma o futuro da ciência. Será então que não poderiamos ter um pouco mais de direitos no Brasil? Como pelo menos o direito de nunca ter o salário atrasado? Com mais e mais pessoas buscando fazer doutorado e pos-doutorado no Brasil ou no exterior, eu espero que o nosso país seja capaz de reconhecer e absorver nossos brilhantes e bravos profissionais a maneira que deve ser. Afinal, as frustracoes de um pos-doc poderiam ficar limitadas apenas aos resultados negativos dos experimentos. 





Fontes: http://www.nationalpostdoc.org

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Animação para divulgação de resultados

Uberlândia - Conforme conversamos aqui no SBlogI em agosto do ano passado, fui pego de surpresa com a requisição do CNPq por um vídeo de divulgação dos resultados gerados mediante o financiamento concedido. Diga-se de passagem, foi uma 'surpresa boa', uma vez que acredito que devemos sim traduzir os nossos achados para o público em geral.

Após escrever aquele post e iluminado pelos belos resultados gráficos da Cell, resolvemos desenvolver uma atividade semelhante com os nossos alunos de pós-graduação e iniciação científica. O desafio era teoricamente simples: criar uma animação-base, do zero, para contextualizar uma de nossas linhas de pesquisa, no caso, a relação entre o protozoário Neospora caninum e seu hospedeiro preferencial, os bovinos. A idéia é criarmos uma nova versão da animação para cada tese/dissertação defendida, então precisaríamos ter a flexibilidade para adicionar novos quadros a medida que avançamos com as nossas pesquisas sobre esta interação. 

O 'problema' que os alunos tiveram para resolver ao longo dos últimos 6 meses foi explicar os pormenores desta interação para o nosso designer gráfico Diogo Camilo, que não tem formação alguma na área biológica. Foi muito interessante observar como, a cada versão da animação, a 'história' foi ganhando corpo.

A título de informação, adicionamos a seguinte descrição para o vídeo: "A animação ilustra a interação parasito-hospedeiro entre o protozoário Neospora caninum e os bovinos, estando disposto nesta versão a quebra de latência do parasito, sua interconversão de estágio de bradizoítas para taquizoítas, adesão e invasão de novas células do hospedeiro, caracterizando a reativação da infecçãoEste vídeo tem como a intenção divulgar ao público em geral uma das linhas de pesquisa do Laboratório de Imunoparasitologia "Dr. Mário Endzfelds Camargo", ICBIM/UFU (LIP-MEC/UFU), sendo que novas versões serão elaboradas mediante os avanços científicos obtidos pelos membros do laboratório. A animação foi desenvolvida por pós-graduandos e alunos de iniciação científica do LIP-MEC/UFU, juntamente com o designer Diogo Camilo, por meio de financiamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES)."

Espero que gostem!
Abraços e até fevereiro.

Tiago.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Escrever é difícil



Passei este fim de semana escrevendo um paper e editando outro. Escrever pra mim não é facil. Principalmente em ingles. Principalmente em ingles cientifico. Isso apesar de viver aqui nos EUA há 30 anos. Ainda sofro. Fico procurando a palavra exata, fico tratando de fazer com que o texto seja preciso e honesto, e que soe bem ao ler em voz alta. E que não seja dificil e cheio de jargão.

Vou explicar porque é difícil. Aprendi a escrever em portugues. Portugues é uma lingua boa pra namorar, cantar, fazer poesia, mas é muito ruim pra escrever ciencia. Nossa cultura valoriza o prolixo, preste atencao no fim das cartas, com suas altas estimas, mais altos votos e sentidas consideracoes... Em ingles é...sincerely.  Voltando ao assunto, quando digo que aprendi  a escrever quis dizer, me mandaram fazer redação. Não existia no meu colégio, como existe aqui, o ensino formal da escrita.   O que cometo  hoje aqui no blog, aprendi lendo. 

Vamos começar de vez este post.  Escrever é dificil por causa da lingua mae, por minhas  deficiencias,  pelas  exigencias do escrever cientifico. E para complicar por politicas editoriais, que exigem e interferem. 

A primeira dificuldade é a seguinte: paper tem de ser feito de um jeito. Feito bula, feito receita de bolo, feito missa. A segunda é que nunca ninguém te ensinou a fazer, e mesmo que tenha ensinado, as exigencias de estilo mudam. Por exemplo, papers ja não descrevem resultados, não são mais relatos de experimentos. São “estórias”. Isso em si não é problema, narrativa é bom, e eu gosto. O problema é que criou-se a demanda jornalística. A síndrome do homem que morde o cão. Pra sair no jornal. E como existe uma pressão muito grande pela novidade, existe muita distorção logo de saída. 

Notem na Introdução de muitos papers. Notem que pra passar no crivo dos editores e ir pra revisão, tem muita gente carregando a mão.  Muitos papers que lemos começam com: olha, não se sabe nada desse assunto e eu vou mostrar pela primeira, primeiríssima vez, como as coisas funcionam. Lorota grande. Em muitos casos o sujeito não faz o dever de casa, pior, omite descaradamente o que já foi publicado.

Depois da lorota se passa pras chatices de praxe. A escrita não ajuda. Ja me senti 3 vezes burro ao ter que ler 5 vezes a mesma frase pra entender. Ninguém quer escrever simples. Quanto mais rebuscado, complicado, melhor. Os autores não descrevem os resultados direito, complicam, mistificam, fazem as figuras mais tronxas, e as estatisticas mais mentirosas (n=3 tem de dar na canela). E tome surpreendentemente, inesperadamente, e em grande contraste. Exagero e enganação é praxe. 

E aí vem a famosa discussão, local onde a lorota da frente encontra a lorota de trás. Rapaz, o que existe de desmantelo aí não é brinquedo. Tanto que a recomendação é: só leia a discussão depois de ler as figuras. Digo ler, porque figura tambem se escreve, não? Os resultados  prestam se a figura for boa. Muita discussão está baseada em resultados que não existem. E isso, como os outros vícios aí de cima, a gente deve evitar.  

Seria interessante que os papers viessem com o "making of". Acho que seriam mais interessantes que os papers em si. Neles veríamos coisas do tipo: o experimento era outro mas descobrimos algo totalmente diferente no meio do caminho e acabamos  fazendo algo muito mais interessante. Falaríamos mais  do acaso, dessa forca suprema da descoberta. Comentaríamos erros de interpretação, de execução, que muitas vezes apontam novas direcoes. E teríamos a oportunidade de dar credito real as pessoas e as fontes de inspiração (dizem por aí que muita gente se inspira nos papers ou nas grants que revisa pra escrever seus proprios papers e ate publicá-los antes das fontes). 

Mas a dificuldade na escrita não para na hora que voce manda o paper pro jornal. Continua. Vamos supor que o paper passou. O editor engoliu a lorota da novidade e o paper agora está na mão de tres ou quatro famigerados que vão cair o pau no dito cujo, ou aplicar a lei do pros amigos tudo, pros inimigos o mecanismo. Ou criar o experimento impossível só pra te encher a divina. Pra te forçar a escrever cartas longuíssimas. Uma vez escrevi uma carta de 21 páginas. Aliás, isso e’ um negócio que sei fazer hoje em dia. Reconheço que ainda não sei escrever paper direito, mas declaro que  sou craque em escrever carta pro editor e pros nossos “amigos” revisores. Sou muito gentil e educado. Procuro ser claro e direto, faço muitos, senão todos os experimentos solicitados. Não dou razão pra que me rejeitem. Dizem que uma vez passado o editor voce tem 60% de chance de ter o paper publicado. 

Um comentário aqui de banda. Esse número (o de aceite passado o editor)  é uma tentação que força muita gente a relaxar, inventar, ser menos criterioso. Sou capaz de apostar que a grande maioria das fraudes em ciencia acontece nessa fase. 

E a praga dos resultados suplementares? Não há quem aguente. Já é um martírio ler um paper com quinhentas figuras, cada uma menor que a outra.  O sujeito amontoa resultado em cima de resultado. Vira enchente, vira uma chatice insuportavel. Os papers das revistas importantes estão obesos. Sim senhor, tem resultado demais, tem lorota demais. Principalmente na discussão. Mas nem tudo é ruim. Por exemplo, hoje ja existe a preocupação em fazer a mensagem mais accessível. Estão aí os sumários visuais em revistas como Cell ou Cancer Cell. 

Depois de tanto desmantelo: tem jeito? É possível escrever bem, ser claro, honesto? Claro que sim. É dificil, mas é possível.  Ja li em algum lugar (e acredito) que pra escrever bem a gente tem que ler muito. Isso vale pra quem escreve poesia, prosa, e paper. Leia, leia muito.  Mesmo sendo dificil. Sem informação não se escreve bem. Preste atenção na narrativa.  Vá pro cinema. Leia. Mas não acredite em tudo. Mesmo que esteja bem escrito, seja novedoso, e saia na revista acetinada. Não acredite mesmo. No máximo bote uma fezinha. Uma vez acreditei numa estória e passei dois meses tentando reproduzir os resultados. Dois meses. Tinha saido na Cell. Tava errado.  Não deixe de tomar o seu Desconfiol. E escreva, e re-escreva, e leia alto pra ver se faz sentido. E tendo,  acredite no seu taco. E mande bala.

PS. Este texto aqui tava na gaveta prum dia que amanhecesse sem assunto. Nesse meio tempo andei trabalhando nisso aqui.