O fator
de transcrição Foxp3 apresenta um papel central na diferenciação e função das
células T reguladoras (Tregs). Esse fator de transcrição é conhecido por modular
a expressão de inúmeros genes, bem como a sua própria expressão, agindo de
maneira direta ou interagindo com outras proteínas. Entretanto, a contribuição
fisiológica e o impacto dessas interações em moldar o desenvolvimento e a
função das Tregs e seu possível impacto em patologias ainda não estão
totalmente esclarecidos. Dois estudos recentes publicados na revista Immunity mostram os efeitos inesperados
do uso do gene repórter Foxp3-EGFP em diferentes backgrounds genéticos de camundongos.
O camundongo Foxp3gfp é muito utilizado
pela comunidade científica, pois permite o acompanhamento e a análise das Tregs
in vivo. A proteína Foxp3-EGFP é
resultado de uma fusão do GFP à região amino-terminal do Foxp3. Esta fusão, como
demonstrado, resulta em alterações nas interações descritas desta proteína.
O trabalho
de Jaime Darce demonstrou que há uma redução na severidade da artrite induzida
em camundongos K/BxN.Foxp3fgfp e o agravamento do diabetes nos
camundongos NOD.Foxp3fgfp. Esses efeitos têm relação com alterações surgidas
nas interações do Foxp3-EGFP com outros fatores de transcrição. Os resultados mostram
um aumento da ligação de Foxp3-EGFP com o IRF4 (fator regulador de insulina 4) resultando
na transcrição aumentada de genes regulados por esse fator de transcrição,
alterando assim a resposta das Tregs. Acredita-se que as alterações causadas
pela adição de EGFP apresentaram efeitos diferentes nos modelos experimentais
de diabetes e artrite dado ao diferente contexto imunológico característico de
cada uma das condições patológicas.
De
maneira similar o trabalho de Matthew Bettini observou um desenvolvimento acelerado
de diabetes nos camundongos NOD.Foxp3fgfp. Além disso, o
desenvolvimento das Tregs naturais provenientes do timo e a indução das Tregs
na periferia foram prejudicados. Neste estudo a proteína Foxp3-EGFP apresentou
reduzidas interações com a histona acetiltransferase Tip60, a histona
deacetilase 7 e o fator de transcrição Eos. Essas alterações resultaram em
modificações no transcriptoma das Tregs e ocasionaram sua resposta deficiente.
Esses
dois grupos destacam a importância de se preservar as interações do Foxp3 com
outras proteínas reguladoras para o correto programa transcricional das Tregs e
ressaltam a necessidade de se reavaliar estudos prévios que utilizaram com
ferramenta esse gene repórter.
Para os
que se interessam pelo assunto vale à pena dar uma olhada em mais essa novidade!
Paula Barbim Donate
Pós-Doutoranda do Laboratório de Inflamação e Dor
Departamento de Farmacologia - FMRP/USP
Referências:
Darce J, Rudra D, Li L, Nishio J, Cipolletta D, Rudensky AY, Mathis D, Benoist C. An N-Terminal
Mutation of the Foxp3 Transcription Factor Alleviates Arthritis but Exacerbates
Diabetes. Immunity. 36(5):731-41,
(2012).
Bettini ML, Pan F, Bettini M, Finkelstein D, Rehg JE, Floess S, Bell BD, Ziegler SF, Huehn J, Pardoll DM, Vignali DA. Loss of
Epigenetic Modification Driven by the Foxp3 Transcription Factor Leads to
Regulatory T Cell Insufficiency. Immunity. 36(5):717-30
(2012).
Muito bem! hoje mesmo surgiu esta discussão durante o Curso de Inverno, se haveria a possibilidade da introdução de um gene reporter alterar a função da proteína avaliada!
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