sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Você doaria dinheiro para a sua universidade?

A leitura do post do Barral aqui no blog sobre os rankings das universidades me motivou a pensar: quais são os atributos de uma universidade de excelência?

Para matar esta curiosidade, que já vem com um pacote de respostas óbvias, fui conversar com Bob Simha, no MIT, uma das instituições que frequentemente aparece no topo das listas das melhores universidades do mundo. Simha foi diretor de planejamento do MIT por décadas.

Segundo ele, o MIT é uma universidade de excelência por cinco motivos, não necessariamente nesta ordem: notável liderança com sólido ideal pedagógico; excelentes professores que trabalham em tempo integral (mas são estimulados a prestar consultorias externas), bem recompensados e dedicados aos ideais de ensino e pesquisa; excelentes estudantes (atraídos pelos bons professores); independência na gestão; recursos.

Vamos aos recursos.

Todos os anos o MIT vai proativamente atrás de seus ex-alunos pedindo por doações. O camarada recebe um telefonema de uma simpática pessoa, perguntando sobre o andamento da sua carreira, se houve alguma mudança em relação ao ano anterior, aproveita para atualizar os contatos, deseja “tudo de bom” e pede por uma singela contribuição de US$250. Claro que a pessoa é livre para decidir o valor, caso queira contribuir. Devem existir outras formas de contato também, por correio e/ou email, acredito (várias universidades fazem o mesmo por aqui).

Com tal organização, o MIT arrecadou este ano, só na escola de administração (Sloan), 2,6 milhões de dólares de 2900 alunos e amigos. No ano passado, as doações de indivíduos, corporações, fundações, entre outras fontes, bateram os 311 milhões de dólares, juntando todas as escolas da instituição (aqui). A cada ano, o MIT vem usando mais recursos de doações e endowments (fundos de investimento) para cobrir seus gastos, como mostra o gráfico abaixo.

Você doaria dinheiro para a sua universidade?

Lembrei dos bons momentos que passei durante a minha graduação na Universidade de Brasília, explorando o maravilhoso Cerrado com os professores da Zoologia, Ecologia e Botânica, entrando em parafuso com as aulas de Evolução, esmiuçando as vias metabólicas, aprendendo os primeiros passos da biologia molecular (nunca esqueço o Prof Spartaco Astolfi Filho explicando sobre gel de agarose e o agente intercalante brometo de etídio). Fora os inesquecíveis amigos, claro.

Se eu recebesse o tal telefonema, eu doaria, nem que fosse um valor simbólico. O destino da minha doação precisaria estar claro, só isso.

Link relacionado:
- Poli-USP quer captar verba para pesquisa nos moldes de Harvard (aqui)

12 comentários:

  1. Ai que mora o problema! Para onde vai o dinheiro? Lixeiras de luxo? O problema não é a universidade e sim os comandantes da mesma.

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  2. Se o modelo gerencial for claro, as ações transparentes e as doações forem direcionadas para a pesquisa, eu certamente doaria dinheiro para a EPUSP (Escola Politécnica da USP).

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  3. Cristina,
    apoio totalmente o modelo de captação externa.

    Mas veja o link abaixo: nem a USP, que dizem ser a melhor universidade da América Latina, consegue gerenciar tais recursos a contento.

    http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2010/05/doacao-de-dinheiro-causa-polemica-em-universidade-de-sao-paulo.html

    Como as ações dentro das universidades brasileiras são muito pouco meritocráticas, sendo geralmente pautadas por interesses secundários (para não dizer outra coisa), acredito que teremos que evoluir (e muito) como sociedade para conseguirmos que tal tipo de financiamento para a Academia seja viável.

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  4. Tiago,

    Eu quero acreditar que é justamente por este motivo que a EPUSP resolveu criar o Endowment da Poli. Com tal iniciativa (aparentemente dos próprios alunos), tenta-se criar um gerenciador de fundos externos.
    Note que o montante doado é intocável. Somente o que o fundo gerar será revertido para custear pesquisas, as quais serão selecionadas por uma banca eclética de professores e alunos.
    Como eu disse antes, eu QUERO acreditar que a iniciativa da Poli é legítima e que não será destruída por algum tipo de corrupção.

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  5. RMikio,
    gostaria também de acreditar nisso.

    Esse modelo é (mais ou menos) semelhante ao que a FAPESP faz com os recursos destinados pelo estado de São Paulo.

    Espero que a iniciativa da Poli seja pioneira e que auxilie as demais instituições a equacionarem tal financiamento.

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  6. É bom lembrar que a maioria das universidades que a Cris se refere são particulares, enquanto as citadas pelos comentário acima são públicas. Será que não está aí a diferença de aplicação de recursos? Quero deixar claro que não sou contra a educação pública, só estou realmente muito decepcionada com as "autoridades" federais, estaduais e municipais!

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  7. Fabiana,
    Observe quão interessante e peculiar é o fato: não é a USP que está fazendo o Endowment. É a Poli, e somente a Poli. Quem tem o controle do fundo é a Diretoria da Poli e o Grêmio Politécnico. O Grêmio não é uma instituição vinculada ao governo (até onde eu sei). E a Diretoria da Poli é formada por professores da Poli.
    Eu não consigo ver a presença da administração do Estado (seja municipal, estadual ou federal) nessa atividade. Claro, é possível que as pessoas envolvidas (professores e alunos do Grêmio) estejam vinculados a um partido ou outro. No entanto, perceba que não existe a sombra da administração pública sobre o Endowment. Não há vínculo com qualquer nível de governo. Acho que aí está o grande trunfo do Endowment da Poli.
    Basicamente, criou-se uma instituição legal que recebe doações e aplica o dinheiro (ou melhor, só a renda do que foi doado) exclusivamente em pesquisas dentro da Poli.
    Bem que o Maluf podia doar uma parte do dinheiro dele para o Endowment... :-P

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  8. Só para ratificar: o Grêmio é uma associação civil sem fins lucrativos fundada em 1903 e REALMENTE não é vinculada ao governo.

    E Tiago,
    Com relação à FAPESP, eu acho que o bolo é pequeno para repartir para tanta gente no Estado. E provavelmente eles não podem aceitar doações.
    Por isso, eu apoio (sem acento?) a entrada de dinheiro de uma fonte diferente (que não seja através de impostos), e que vá diretamente para uma instituição que eu conheço e admiro (Poli).

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  9. RMikio, obrigada por todas essas informações. Achei que a diretoria da Poli fosse determinada pelo reitor da USP o que nesse caso teria o governo envolvido. Se esse não é o caso, assim como você estou torcendo para dar certo.

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  10. Só para dizer que as Universidades públicas aqui nos EUA (como a Universidade da Califórnia, UC) também recebem doações privadas. A UC diz que recebeu em torno de 1 bilhão de dólares/ano nos últimos 5 anos.

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  11. RMikio, qnto a Fapesp, me referia sobre a aplicação de parte do orçamento, não sobre a origem e destinação dos recursos.

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  12. Fabiana,
    O Diretor e o vice-diretor da Poli são nomeados por aquela lista tríplice. Claro, pode haver uma certa influência política. Mas quero acreditar que os demais participantes da banca de decisões (Grêmio e demais professores) não serão influenciados politicamente.

    Tiago,
    OK, entendi. Você está correto. O modelo de aplicação é parecido com o da FAPESP. A diferença, no caso da Poli, é que as decisões envolvem alunos e professores da própria Poli, para o benefício da própria instituição.

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