quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O Sabre de Luz do Jedi


Quando eu era estudante no National Jewish, uma das minhas aulas favoritas era a do John Kappler. Quimico de formação, ele apresentava de forma tão fascinante as interações moleculares, e em especial sua favorita, a do TCR com o MHC, que estrutura parecia fácil. Ainda hoje, quando estrutura me parece uma coisa espinhosa, tento lembrar daquelas aulas, onde aprendi o quanto a estrutura pode nos dizer sobre a função.

Na última Immunity, o casal Kappler-Marrack mostra que um mesmo TCR pode reconhecer moleculas de MHC classe I e MHC classe II, cada uma com um ligante peptídico diferente. Para isso, existe uma flexibilidade da molecula, que se adapta ao ligante diferente, mesmo tendo sido selecionada no timo para ser restrita a uma determinada molecula de MHC. Basicamente, parece que os dominios de um mesmo TCR que interagem com os aminoacidos conservados do MHC – e que se acredita terem evoluido para interagir com o MHC – permanecem na mesma orientação quando ligados em MHC classe I ou II. Contudo, a molécula pode rearranjar os domínios que interagem com o antigeno (!). A região J do dominio variavel gira o CDR1 e o CDR2 pra fora, afastando eles dos CDRs da outra cadeia. O TCR fica mais abertinho, e podem ocorrer tanto no V alfa como no V beta domain. Os residuos da pontinha dos CDRs se mexem.

Mesmo quem não curte estrutura, é legal dar uma passeada pelo artigo. Reatividade cruzada é um conceito que todo mundo usa, mas aqui estão mostrando como ela acontece na prática. E enquanto a reatividade cruzada pode ser vantajosa numa resposta immune, tambem sabemos que pode dar zebra. Nas minhas aulas, os alunos aprendem que se o linfócito T é o cavaleiro Jedi, o TCR é o seu sabre de luz, algo que ele só obtém após um árduo processo de educação e seleção. E um instrumento poderoso que confere a grande maioria das suas espantosas habilidades. O trabalho do grupo de Kappler nos mostra que o sabre de luz é mais versátil do que imaginávamos. Futuros estudos podem nos ajudar a entender se isso constitui um dos mecanismos pelos quais ele passa para o lado negro da força.

Immunity. 2011 Jul 22;35(1):23-33. Epub 2011 Jun 16. A Single T Cell Receptor Bound to Major Histocompatibility Complex Class I and Class II Glycoproteins Reveals Switchable TCR Conformers. Yin, L., Huseby E, Scott-Browne J, Rubtsova K, Pinilla C, Crawford F, Marrack P, Dai S, Kappler JW.

4 comentários:

  1. A descoberta me fará rever conceitos, e a sua comparação ficou "chique" demais...muito bom...Parabéns Cris...Abs Álvaro

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  2. Valeu Alvaro. E a garotada se diverte com essa aula tambem!
    Abraço, Cris

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  3. Olá Cris, gostei muito do post!

    Acredito que o reconhecimento antigênico é realmente comparável à saga ´Guerra na Estrelas´, porém no sentido de que o entenderemos quando vislumbrarmos ´uma galáxia muito, muito distante´, como diriam os letreiros iniciais dos filmes.

    Se você me permite, gostaria de fazer um comentário não-científico, ou melhor, de ficção científica: o Darth Vader é o melhor personagem dos 6 Star Wars, não concorda???

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  4. Sem dúvida um geande personagem, que mexe com a gente em todos os estagios pelos quais passa o personagem - enfim, um classico. Muito semelhante ao linfocito T... Bjo!

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