terça-feira, 2 de agosto de 2011

Enfrentando o Desafio da Escrita Científica

Iniciativas de cursos e oficinas sobre a escrita científica têm pipocado, com mais frequência nos últimos anos, em diversos espaços acadêmicos. É sinal que a nossa comunidade científica está mais atenta à importância de se investir na escrita científica e começa a enfrentar este desafio mais de perto. Também tivemos algumas matérias no nosso Blog da SBI falando neste assunto. Este ano, a FAPESP também tem apoiado cursos sobre escrita científica para docentes, pesquisadores e alunos de pós-graduação, nas universidades de São Paulo. Que as diversas FAPEs do Brasil e o CNPq também invistam neste caminho! Penso, também, que a SBI pode ter uma contribuição mais sistemática, nesta área, promovendo cursos e oficinas regulares. É preciso multiplicar ações na escrita científica em todo o país.




Gostaria de compartilhar com vocês, um pouco da nossa experiência nesta área. Há poucos dias, realizamos a I Oficina de Escrita Científica da Plataforma de Ensino e Interação com a Sociedade do iii-INCT (Instituto de Investigação em Imunologia- Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da USP, com o professor Gilson Volpato, da UNESP de Botucatu. Além de discutir as bases do método lógico da escrita científica, elaborado pelo Prof. Gilson, tivemos um trabalho prático, com a revisão e reescrita de artigos do grupo, em trabalho conjunto de alunos e orientadores que atuaram como monitores. Tivemos a participação de alunos e orientadores de diversas partes do Brasil, da imunologia e das áreas de epidemiologia e saúde pública. O Prof. Ivan França Junior juntou o pessoal da saúde pública e eu o da imunologia, e não é que a combinação deu certo!



O balanço da oficina foi muito positivo. Foi positivo termos juntado diferentes áreas do conhecimento, e experimentado suas implicações para a escrita científica. Foi muito positiva a participação dos próprios orientadores neste processo, pois, com isso criamos mais condições para fatores multiplicadores e estimular o desenvolvimento de atividades semelhantes, em diferentes grupos. Vejam alguns depoimentos de participantes da oficina, abaixo. A nossa proposta é repetir a oficina no próximo ano, em versão aprimorada, incorporando diversas sugestões que tivemos.




Depoimentos:


Achei a oficina realmente sensacional. Tive a sensação "Karate Kid" por alguns momentos. Parecia que não ia dar certo, mas no fim das contas o resultado é excelente, e como o Gilson disse: faz assim que dá certo, e dá mesmo! Levei um artigo que estava empacado, eu não estava contente com o resultado, não conseguia encontrar a melhor forma de abordar e como conduzir a introdução e a discussão. Após a oficina o resultado foi excelente, o artigo mudou completamente, ficou muitíssimo melhor e eu bastante satisfeita. Fico muito contente por ter participado, e vou disseminar as idéias e os livros do Gilson.”

Keity Santos

Pós-doc. Laboratório de Imunologia – InCor - FMUSP




“O curso foi muito valioso para mim. O diferencial deste curso do Professor Gilson, é o enfoque na lógica científica, em vez de apenas em regras de escrita. Além disso, ele tem uma excelente didática e simplicidade, facilitando muito o aprendizado. Tenho certeza que o curso irá me ajudar muito nos próximos manuscritos, desde a concepção do estudo”.


Amelia Ribeiro de Jesus

Professora Universidade Federal de Sergipe

Pesquisadora do CNPq

Instituto de Investigação em Imunologia, INCT


Pois é! O desafio não é apenas a forma, e sim a lógica. A coerência científica dentro da escrita.



O professor Gilson tem uma trajetória de mais de 25 anos nesta área. Ele tem sido nosso grande parceiro neste desafio, há 5 anos, ministrando cursos pelo iii (Instituto do Milênio e INCT) e, também, em parceria com a SBI. Para que ainda não conhece o seu trabalho, cito uma parte que escrevi para o prefácio do seu último livro, o Método lógico para Redação científica, comentado na Agência FAPESP (aqui), há alguns meses.



“Na minha visão, a grande contribuição intelectual original do Gilson é, justamente, construir a escrita científica como uma continuação do fazer ciência, e decodificá-la por dentro da metodologia científica, de forma lógica e condizente com cada tipo de pesquisa científica, que ele classifica como pesquisa descritiva e pesquisa de associação, com ou sem relação de interferência. Na pesquisa descritiva, o objetivo é unicamente descrever o fenômeno. Na pesquisa de associação, busca-se analisar se há uma associação entre um determinado fenômeno e uma determinada variável, com ou sem relação de interferência entre eles.



Gilson nos mostra como a natureza da pesquisa científica pode nos guiar no processo da escrita, exigindo uma determinada lógica na construção da narrativa, em cada etapa do texto; da conclusão ao título. É uma estratégia criativa, reveladora da clareza do seu pensamento, da sua capacidade de ensinar. Gilson lança mão de diversas imagens metafóricas que ajudam o aprendiz a compreender cada etapa do processo da escrita e sua estreita relação com o processo de fazer ciência. Para ilustrar, quero citar uma imagem que aprendi com ele, sobre a questão teórico-conceitual, e que uso frequentemente com alunos. Imagine que a área do conhecimento na qual a sua pesquisa está inserida é o teto desta sala. Pense na conclusão teórica da sua pesquisa e que agora você vai colocar esta sua conclusão para fazer parte do teto. O que ela traz de novidade teórica? Como fica o teto agora com este novo conhecimento? O que mudou na relação com as demais peças do teto? O que mudou no conhecimento científico com esta conclusão? Esta bonita imagem estimula a reflexão sobre o trabalho realizado, num patamar mais amplo da ciência.



...Ensina-nos a enxergar o trabalho científico escrito sob este prisma, ajudando-nos a organizar a nossa capacidade lógica analítica e a sistematizar a estratégia para a escrita científica. Para isso, Gilson elaborou, neste livro, inúmeras pranchas com ilustrações, que auxiliam na sistematização de cada etapa do processo de decodificação da lógica do fazer ciência, para escrever o trabalho científico. Penso que, com a ajuda deste livro, é possível que pesquisadores e alunos se organizem para realizar oficinas de escrita científica, de forma autônoma, caminhando juntos passo a passo, unindo a reflexão teórica, vivenciando-a na prática da escrita de seus próprios artigos científicos. Esta é uma grande novidade deste livro. É um caminho para a democratização e maior difusão deste saber. Para a sua multiplicação. Para a sua exposição ao debate e o estímulo a possibilidades de novos saberes criativos, nesta área.


O mais bonito é que Gilson nos apresenta tudo isso como um convite ao exercício do nosso ser cientista e educador, como sujeito, crítico e criativo. É como se ele nos dissesse: não se objetifique. Continue sujeito também na escrita científica, pois escrever é uma continuação do processo de fazer ciência. A ciência criativa exige sujeitos críticos e criativos” .



Recentemente, Gilson lançou sua página na internet (aqui), com vários artigos e discussões interessantes em relação ao fazer e escrever ciência. Vale a pena conferir!


Forte abraço!

Verônica




Outras matérias no nosso Blog da SBI, relacionadas à escrita científica e publicação científica.














2 comentários:

  1. Oi Verônica, motivado pelo seu post, eu adquiri alguns livros de Gilson, tudo aponta para uma ótima aquisição...agora é navegar na leitura...Abs, Álvaro

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  2. Tive a oportunidade de participar da oficina e recomendo fortemente. Gilson tem o poder de, com muita simplicidade, nos fazer pensar de forma clara, objetiva e organizada na hora de escrever. Tão importante quanto executar nossos trabalhos é a arte de comunicar o que fizemos, de "vender o nosso peixe", e sabemos que isso é um trabalho árduo. Para mim, o mais interessante foi que Gilson nos mostrou que não existem regras milagrosas e nem um passo a passo para escrever um artigo científico, nos convidando a abrirmos novos horizontes e deixarmos para trás certos vícios de escrita. Foi muito gratificante. Para quem ainda não teve a oportunidade, preparem-se para a próxima oficina. Enquanto isso, vale a pena ler um de seus livros.

    Ana Cláudia Pelizon
    Pós-doutoranda
    Lab. Imunologia - InCor

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