segunda-feira, 24 de maio de 2010

Comentarios sobre a Conferencia de Rolf Zinkernagel na FIOCRUZ-Bahia


Foi altamente bem sucedida a iniciativa do iii-INCT e da FIOCRUZ-Bahia de promover a conferência do Prof. Rolf Zinkernagel em Salvador. A importância científica do palestrante, Prêmio Nobel de Medicina em 1996, atraiu bastante gente e foi uma excelente oportunidade para divulgação apropriada da imunologia.

O tema foi “Why do we not have a vaccine against HIV or TB”.
Destacaria alguns pontos fundamentais da conferencia, de natureza geral:
  • Uma apresentação de conceitos fundamentais, mais que uma apresentação extensiva de dados. Bem adaptada, assim, a uma audiência que incluia de estudantes de graduação a cientistassenior e composta, principalmente, de não imunologistas;
  • Um forte espírito crítico sobre o planejamento experimental, sobre a interpretação dos resultados e sobre as conclusões;
  • Sempre interpretar as conclusões tendo em vista a perspectiva da evolução das espécies – homem e microrganismo;
  • Excelente didática, com raciocínio bem encadeado e com um humor fino, bem dosado e totalmente integrado ao tema.
Aspectos fundamentais, no tema tratado:
  • Na pesquisa médica em geral, e na de vacinas em particular, a necessidade de resultados práticos com benefício. Este aspecto apareceu várias vezes e pode ser bem representado pela frase: “By the end of the day, are the legs up or down?”.
  • Para manter a perspectiva do benefício, a distinção entre imunologia e imunidade;
  • Somos capazes de desenvolver anticorpos protetores contras as infecções capazes de matar antes dos 25 a 30 anos, mas não para as doenças graves após esta idade;
  • Todas as vacinas eficazes se baseiam em anticorpos efetivos;
  • As limitações que temos na avaliação da resposta humoral: avaliação de resposta contra os antígenos apropriados vs alvos irrelevantes (ruído); a detecção de anticorpos contra epitopos muito limitados quando as respostas neutralizantes respondem a alvos maiores; o baixo limite de detecção para avaliação das resposta aos antígenos relevantes.
  • Se a evolução não foi capaz de selecionar um mecanismo protetor, será que podemos, utilizando a mesma abordagem, conseguir? Ou seja, para as doenças letais após os 25 anos parece ser mais prático procurar drogas eficazes (um mecanismo diferente do utilizado pela evolução) que uma vacina eficaz.
É interessante que tendo ganho o Nobel ao descrever um aspecto fundamental da imunologia (o reconhecimento de antígeno no contexto do MHC) ele dê atualmente tanta ênfase na imunidade. Sua produção científica recente reflete que este não é só um conselho para os outros. Ele tem focado bastante em aspectos de imunidade e, muito, em anticorpos.

Publicado originalmente no Sciencia totum circumit orbem.

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