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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Malária aviária

A malária aviária foi motivo de grande interesse no período compreendido entre 1890 e 1940, pois os pesquisadores a viam como bom modelo de estudo para malária humana.  Provavelmente esse ímpeto tenha sido em parte alicerçado pelo próprio Laveran, que convocou médicos a avançarem na pesquisa com parasitos hemosporídeos de aves, terreno normalmente ocupado na época por naturalistas. De fato, muitas descobertas foram aplicadas, como a observação in vitro da fusão entre macro e microgametócito, formando o oocineto. Na época, se supôs que o mesmo poderia ocorrer com os agentes etiológicos da malária humana.  Em 1898, o médico britânico Ronald Ross descreveu a fase sexuada do ciclo do Plasmodium relictum no sistema digestivo do vetor Culex e consequente infecção da ave após sua picada. No ano seguinte, foi demonstrada a fase sexuada do ciclo em vetores também da malária humana.  Curiosamente, Aedes aegypti é um excelente vetor para um Plasmodium aviário altamente patogênico para galinhas e aves selvagens, Plasmodium gallinaceum, endêmico no Sudeste Asiático.
As malárias aviárias possuem patogênese multifatorial, estando relacionada com anemia, inflamação, coagulopatia e alterações neurológicas. Como resultado da infecção experimental, podemos observar 70% ou mais de parasitemia em aves infectadas por Plasmodium gallinaceum ou baixas parasitemias em infecção por P. juxtanucleare, ambos em galinhas.  A hemólise durante a fase eritrocítica não é somente intravascular, mas também extravascular, uma vez que a inibição de i-NOS resulta em menor perda de hemácias. 
Mas se há similaridades em sua patogênese, há profundas diferenças em seus ciclos de vida quando comparadas com as malárias dos primatas. Existe um ciclo exoeritrocítico, embora este não ocorra nos  hepatócitos, mas nos macrófagos. Após a inoculação dos esporozoitos pela picada do vetor, estes podem infectar macrófagos dermais e converterem-se em criptozoitos e posteriormente em metacriptozoitos em outros tecidos, inclusive macrófagos alveolares. Pode haver conversão em fanerozoitos e continuar o ciclo exoeritrocítico ou em merozoitos e finalmente começar o ciclo eritrocítico. Entretanto, merozoitos podem novamente converterem-se em fanerozoitos e haver continuação do ciclo exoeritrocítico, inclusive em endotélios cerebrais.

Atualmente, há preocupação de introdução de patógenos em áreas não endêmicas. Verdadeiros catástrofes ambientais foram seguidos pela introdução de Plasmodium relictum e seu vetor Culex quinquefasciatus no Havaí, com a extinção de várias espécies de pássaros.  Recentemente, em estudos em área de mata seca no estado de Minas Gerais pelo grupo da professora Érika Braga, foram identificadas 89 linhagens de Plasmodium em aves, sendo a grande maioria completamente desconhecida da ciência no que diz respeito aos aspectos imunobiológicos. Vale ressaltar que a maioria dos animais capturados em redes em estudos de campo, normalmente não apresentam alteração clínica, estando provavelmente na fase crônica da doença.  Essas análises não levam em conta, obviamente, a fase aguda da doença, quando a morbidade prejudica o vôo e consequentemente a captura. Desta forma, estudos experimentais são extremamente importantes ao conhecimento das relações parasito-hospedeiro destes parasitos, principalmente na fase aguda da doença.  Portanto, parece ainda haver um amplo campo de estudo a ser explorado no que diz respeito a malária aviária, especialmente no Brasil. 


Post de Farlen Jose Bebber Miranda
Pós-doutorando do Laboratório de Imunopatologia
CPqRR/ Fiocruz

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