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segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Vacinação pouco efetiva é pior que não vacinar?

A vacinação é uma das maiores conquistas da humanidade e é responsável por salvar milhões de vidas todos os anos. Contudo é possível que também estejam implicadas em permitir o crescimento de patógenos altamente virulentos, conforme o estudo recente de Read e cols na PLoS Biology (aqui). O ponto central do artigo está bem colocado:
"Infectious agents can rapidly evolve in response to health interventions [1]. Here, we ask whether pathogen adaptation to vaccinated hosts can result in the evolution of more virulent pathogens (defined here to mean those that cause more or faster mortality in unvaccinated hosts).
Vaccination could prompt the evolution of more virulent pathogens in the following way. It is usually assumed that the primary force preventing the evolutionary emergence of more virulent strains is that they kill their hosts and, therefore, truncate their own infectious periods. If so, keeping hosts alive with vaccines that reduce disease but do not prevent infection, replication, and transmission (so-called “imperfect” vaccines) could allow more virulent strains to circulate. Natural selection will even favour their circulation if virulent strains have a higher transmission in the absence of host death or are better able to overcome host immunity. Thus, life-saving vaccines have the potential to increase mean disease virulence of a pathogen population (as assayed in unvaccinated hosts) [24]”

O artigo atraiu um grande atenção da imprensa, inclusive um comentário na Science (aqui). Uma preocupação com este trabalho foi o receio que reforce os atuais movimentos anti-vacina. É importante atentar que os achados não se aplicam às vacinas atualmente muito utilizadas no homem, como contra parotidite, sarampo, rubéola, varíola, pois estas vacinas não são "parciais" elas protegem contra a doença e impedem a transmissão viral.

Andrew Read já havia proposto a "hipótese da vacina imperfeita" em 2001, não apresentava dados, nem evidências para apoiar a idéia, pelo que o estudo foi questionado. Agora o autor, com vários colaboradores, utilizam a infecção de galinhas com o vírus da doença de Marek para testar a hipótese.

A doença de Marek é causada por um vírus altamente contagioso e relacionado com vírus que causam herpes em seres humanos. A doença de Marek causa paralisia e está relacionada com o desenvolvimento de câncer. Vacinas contra esta enfermidade forma desenvolvidas na década de 1970 e promoveram o controle da doença. Porém, dez anos depois começaram a aparecer cepas mais virulentas (causam doença em galinhas mais jovens promovem neoplasia mais grave).  

A vacina contra a doença de Marek é "imperfeita" ela protege contra a doença, mas não contra a infecção e permite a propagação do vírus. É possível assim, que a vacina de Marek tenha facilitado a sobrevivência e propagação de variantes virais mais virulentas. Na ausência de vacinação, as cepas mais virulentas acarretam a morte de seus hospedeiros rapidamente e torna a propagação da variante menos efetiva.

No estudo atual, as galinhas foram infectadas com o vírus da doença de Marek de diferentes variantes conhecidas  variando de baixa a alta virulência (as menos virulentas mataram 60% das aves num período de 2 meses e as mais virulentas promoveram 100% de letalidade em 10 dias). As as aves não vacinadas e infectadas com cepas altamente virulentas promoveram shedding viral muito menor que as aves infectadas com cepas menos virulentas. A proteção contra doença promovida pela vacinação (com vacina comercialmente disponível) foi muito eficiente: somente poucas galinhas morreram, todas elas infectadas por variantes virais mais virulentas, e isto ocorreu tardiamente. A sobrevivência prolongada das galinhas aumentou o período infeccioso das variantes mais virulentas e aumentou bastante o total de virus liberados, superando a liberação das variantes menos virulentas.  "Thus, the net effect of vaccination on both host survival rates and daily shedding rates was to vastly increase the amount of virus shed by virulent strains into the environment.”

Para avaliar a possibilidade de transmissão da doença, os autores realizaram experimentos nos quais galinhas infectadas eram colocadas na mesma gaiola que galinhas saudáveis. As galinhas não vacinadas e infectadas não transmitiram a doença para as aves saudáveis. Quando as galinhas vacinadas foram infectados com a variante altamente virulenta elas viveram mais tempo e todas as galinhas saudáveis da mesma gaiola ficaram doentes e morreram.

Embora as vacinas mais utilizadas no homem não apresentem este problema, os achados devem ser levados em conta no desenvolvimento de novas vacinas.

Artigo:
Read AF et al. Imperfect Vaccination Can Enhance the Transmission of Highly Virulent Pathogens. PLoS Biol 13(7): e1002198. doi:10.1371/journal.pbio.1002198 (aqui).

Comentário na Science: 

Kai Kupferschmidt. Could some vaccines make diseases more deadly? (aqui

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