terça-feira, 3 de junho de 2014

Vírus Oeste do Nilo: Uma vacina é realmente necessária?



Micrografia de transmissão eletrônica do vírus Oeste do Nilo. Crédito da foto: Cynthia Goldsmith. Fonte: http:// http://www.news-medical.net/health/West-Nile-Virus.aspx


A Febre do Oeste do Nilo é uma virose transmitida por mosquitos do gênero Culex que causa encefalite ou meningite. Seu nome foi dado devido ao fato do vírus ter sido isolado, pela primeira vez em 1937, na região do Oeste do Nilo em Uganda. O vírus pode infectar humanos e animais e é transmitido por meio da picada de mosquitos que tenham se alimentado de aves infectadas, geralmente migratórias.

O vírus Oeste do Nilo (do inglês West Nile Virus - WNV) é um flavivírus envelopado composto de RNA de fita simples com polaridade positiva. A maioria das infecções causadas pelo vírus são assintomáticas (cerca de 80%). Nas infecções sintomáticas, os sintomas variam de doença febril até sintomas graves podendo levar o indivíduo a óbito. Do ponto de vista da distribuição global do vírus no mundo, de acordo com o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC), a doença é endêmica ou potencialmente endêmica em 83 países.

Recentemente, a disseminação do vírus para o hemisfério sul foi confirmada com a detecção de animais infectados pelo WNV em território sul-americano. A soropositividade para WNV em equídeos na Colômbia e Venezuela e o isolamento do vírus nestes animais na Argentina, reiteram a necessidade da manutenção do sistema de vigilância enzoótica para WNV em território brasileiro. No Brasil, recentemente evidências sorológicas da presença do vírus foram encontradas em cavalos do Pantanal. Nos Estados Unidos, onde o vírus causa surtos anuais desde 1999, cerca de 36.000 pessoas já apresentaram a doença, com mais de 15.000 casos neuroinvasivos e cerca de 1.500 mortes. Cabe ressaltar, que até o momento, não há tratamento específico ou uma vacina aprovada contra o vírus.

Muitas tecnologias têm sido usadas no desenvolvimento de candidatos vacinais contra o WNV. Quatro candidatos vacinais já foram testados para o perfil de segurança e imunogenicidade em triagens clínicas: 1) Vacina WNV/YF 17D: quimera composta do vírus vivo atenuado e da cepa vacinal contra febre amarela 17D; 2) Vacina WNV/DENV4 Δ30: quimera composta do vírus vivo atenuado e do dengue 4 com deleção na posição 30; 3) Vacina de DNA WNV prM-E: composta por um plasmídeo simples que codifica glicoproteínas de pré-membrana e envelope do vírus e 4) Vacina composta de um polipeptídeo recombinante da proteína do envelope viral. Até o momento, apenas a pré-candidata WNV/YF 17D teve ensaios clínicos de fase II em humanos realizados. Apesar de resultados promissores, o desenvolvimento da vacina foi paralisado devido a incertezas de mercado.

Já a vacina quimérica WNV/DENV4 Δ30 apresentou em estudos prévios um desempenho promissor, sendo altamente imunogênica em camundongos e macacos com bom perfil de segurança. A vacina também foi bem tolerada e imunogênica em voluntários saudáveis adultos com faixa de idade variando entre 18 a 50 anos. A disponibilidade de uma vacina segura e eficaz contra o WNV em áreas endêmicas, particularmente para as populações idosas que apresentam risco maior de desenvolverem doença neuroinvasiva causada pela infecção viral, traria importantes benefícios. Contudo, seria necessário antes que testes fossem realizados nessa população vulnerável que a candidata vacinal fosse avaliada considerando-se o seu grau de neuroatenuação.


Nesse contexto, foi publicado na edição de maio de 2014 na revista Vaccine um estudo liderado pelo pesquisador Alexander G. Pletnev do Laboratory of Infectious Diseases, National Institute of Allergy and Infectious Diseases, National Institutes of Health, Estados Unidos para avaliar a neurovirulência da candidata vacinal WNV/DENV4 Δ30 em comparação a dois vírus parentais (WNV e DENV4 Δ30) e a cepa vacinal 17D utilizada na vacina contra febre amarela. Os estudos foram realizados em primatas não humanos (PNH). Dados virológicos e clínicos demonstraram que a candidata vacinal é altamente atenuada para o sistema nervoso central (SNC) em comparação ao vírus selvagem. Além disso, baseado na capacidade replicativa viral no SNC dos animais e o grau de alterações histopatológicas induzidas, o nível de atenuação da candidata vacinal é similar aquele encontrado para a vacina 17D. Os resultados demonstraram ainda a aplicabilidade do uso do modelo animal utilizado no estudo em ensaios pré-clinicos futuros de neuropatogênese, testes vacinais e avaliações terapêuticas para uma vacina contra o vírus Oeste do Nilo.

Referências
- Maximova OA, Speicher JM, Skinner JR, Murphy BR, St Claire MC, Ragland DR, Herbert RL, Pare DR, Moore RM, Pletnev AG. Assurance of neuroattenuation of a live vaccine against West Nile virus: A comprehensive study of neuropathogenesis after infection with chimeric WN/DEN4Δ30 vaccine in comparison to two parental viruses and a surrogate flavivirus reference vaccine. Vaccine. 2014 May 30;32(26):3187-97. doi: 10.1016/j.vaccine.2014.04.002. Epub 2014 Apr 13.

- Durbin AP, Wright PF, Cox A, Kagucia W, Elwood D, Henderson S, Wanionek K, Speicher J, Whitehead SS, Pletnev AG. The live attenuated chimeric vaccine rWN/DEN4Δ30 is well-tolerated and immunogenic in healthy flavivirus-naïve adult volunteers. Vaccine. 2013 Nov 19;31(48):5772-7. doi: 10.1016/j.vaccine.2013.07.064. Epub 2013 Aug 19.

- Beasley DW. Vaccines and immunotherapeutics for the prevention andtreatment of infections with West Nile virus. Immunotherapy 2011;3(2):269–85.

- De Filette M, Ulbert S, Diamond M, Sanders NN. Recent progress in West Nilevirus diagnosis and vaccination. Vet Res 2012;43(1):16.

- Pletnev AG, Swayne DE, Speicher J, Rumyantsev AA, Murphy BR. Chimeric West Nile/dengue virus vaccine candidate: preclinical evaluation in mice, geese and monkeys for safety and immunogenicity. Vaccine. 2006 Sep 29;24(40-41):6392-404. Epub 2006 Jun 21.

- Pletnev AG, Putnak R, Speicher J, Wagar EJ, Vaughn DW. West Nile virus/dengue type 4 virus chimeras that are reduced in neurovirulence and peripheral virulence without loss of immunogenicity or protective efficacy. Proc Natl Acad Sci U S A.  2002 Mar 5;99(5):3036-41. Erratum in: Proc Natl Acad Sci U S A 2002 May 14;99(10):7184.

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