quinta-feira, 6 de junho de 2013

Sistema imunológico e depressão





Celio Estanislau - Líder do Grupo de Pesquisa em Psicobiologia - Universidade Estadual de Londrina
Phileno Pinge Filho – Laboratório de Imunopatologia Experimental- Universidade Estadual de Londrina








A depressão é um mal que acomete de 5 a 12 % dos homens e de 10 a 25 % das mulheres ao longo da vida. Os episódios depressivos são consideravelmente debilitantes, seja do ponto de vista da vida pessoal ou de desempenho em estudos ou trabalho – o que indica que a depressão implica em importante impacto econômico. Vale ainda notar que, das pessoas acometidas por depressão maior severa, até 15 % morre por suicídio.
Apresentar humor deprimido em resposta a situações adversas é absolutamente comum. No entanto, considera-se que a pessoa precisa de atenção profissional quando são preenchidos critérios que incluem: humor deprimido, anedonia (capacidade reduzida de sentir prazer), alterações no sono e no apetite, sentimentos de culpa e de autodepreciação.
As causas da depressão ainda são muito mal compreendidas. No entanto, é notável que parentes em primeiro grau de alguém com diagnóstico de depressão maior apresentem 1,5 a 3 vezes mais chance de apresentar o transtorno em relação à população geral. Exposição a um forte estressor em muitos casos antecede o primeiro ou o segundo episódio depressivo. Episódios subsequentes podem ser precipitados por eventos mais brandos ou até mesmo ocorrer sem qualquer precipitador identificável.
Nas décadas mais recentes, tem sido dado destaque aos fármacos que inibem a degradação  ou a recaptação de monoaminas (serotonina, noradrenalina e dopamina). Estudos indicam que a combinação de psico e farmacoterapia tem maior chance de sucesso. Não obstante, existe ainda uma proporção grande de pessoas que não responde aos tratamentos ou alcança apenas uma remissão parcial dos sintomas.
Evidências atuais indicam que a depressão é acompanhada pela ativação de células T como indicado pelo aumento de sIL-2R e sCD8 no soro; aumento no número de células T ativadas expressando IL-2R; aumento na produção de IFN-g e uma resistência relativa às atividades de glicocorticoides sobre as células do sistema imune. As conclusões principais de estudos clínicos da depressão são as seguintes:
            a) depressão é uma desordem inflamatória; b) citocinas inflamatórias chave como IL-1-β, IL-1 6 e TNF-α estão consistentemente aumentadas no sangue ou no cérebro de pacientes deprimidos; c) a depressão está acompanhada por uma resposta AP (proteínas de fase aguda) como é mostrado pelo aumento nos níveis séricos de haptoglobina, alfa-1-anti-tripsina, ceruloplasmina, acompanhados de níveis baixos de albumina e transferrina; d) altas concentrações de C3C e ou C4 no plasma de pacientes deprimidos; e) e finalmente, a depressão é acompanhada por um aumento na síntese de IL-1RA e de respostas autoimunes mediadas por IgG e IgM direcionadas contra LDL, lipídios e proteínas nitratadas, respectivamente.
            Estudos clínicos também mostraram que a depressão maior é acompnhada por um decréscimo no “status” anti-oxidante e pela indução de padrões oxidativos e nitrosativos;  caracterizada por uma concentração significativamente menor de vitamina E, zinco e co-enzima Q10 no plasma. A atividade reduzida anti-oxidante da glutationa peroxidase é um outro marcador importante da depressão.
            Mesmo que possamos encontrar algumas explicações razoáveis quando olhamos para os componentes imunológicos e neurobiológicos que contribuem para a depressão induzida pela ativação do sistema imunológico (por exemplo, aumento de citocinas), muitas das intervenções terapêuticas propostas ainda estão sustentadas somente por ensaios pré-clínicos. Portanto, estudos sobre intervenções na resposta inflamatória para prevenir ou reverter desordens neuropsiquiátricas são necessários e abrem uma avenida de esperanças para o tratamento de pacientes com depressão.

Referências:

Cryan JF., Markou A., Lucki I. Assessing antidepressant activity in rodents: recent developments and future needs. Trends Pharmacol. Sci. 2002; 23(5):238-254.

Felger JC, Lotrich FE. Inflammatory cytokines in depression: Neurobiological mechanisms and therapeutic implications. Neuroscience. 2013;246C:199-229.

Leonard B, Maes M. Mechanistic explanations how cell-mediated immune activation, inflammation and oxidative and nitrosative stress pathways and their sequels and concomitants play a role in the pathophysiology of unipolar depression. Neurosci Biobehav Rev. 2011; 36(2):764-785.

Maes M, Galecki P, Chang YS, Berk M. A review on the oxidative and nitrosative stress (O&NS) pathways in major depression and their possible contribution to the (neuro)degenerative processes in that illness. Prog Neuropsychopharmacol Biol Psychiatry. 2011; 35(3):676-92.

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